A situação é perigosa e tanto pode conduzir ao isolamento de Bolsonaro como a um agudizar da situação que leve eventualmente os militares – ou parte deles – a tomarem o poder invocando o caos.
Para já, a novidade é o facto de sectores da classe média e média alta que se reveem na Globo e que votaram Bolsonaro terem começado a afastar-se dele – daí os “panelaços” dos últimos dias.
Mas atenção – ele (ao contrário do Parlamento e do Supremo) continua popular (pelo menos um terço do eleitorado), é o Lula da direita, muita gente – designadamente os protestantes – continua a acreditar na narrativa de que esta é a grande oportunidade do Brasil combater “o laxismo pós-moderno” nos costumes e operar uma viragem decisiva na luta contra a corrupção (vendo na presença de Sérgio Moro no governo uma garantia) e tem também o apoio de setores económicos importantes (designadamente o agronegócio e as fábricas de armamento, mas também os industriais que querem incentivos à produção, mãos livres e menos direitos laborais) e das próprias Forças Armadas….
O jogo, portanto, não está jogado – longe disso.
Por entre declarações mais ou menos ambíguas que insinuam perigo para a democracia, vai-se criando um ambiente para eventuais “soluções” de força.
Para já e num primeiro plano, há uma disputa em torno de quais as melhores medidas para combater o coronavírus – isolamento geral ou direcionado, mas no fundo o que se trava é uma luta cada vez mais áspera e escancarada pelo poder.
De acordo com os últimos desenvolvimentos, a tendência imediata é para o crescente isolamento de Bolsonaro. O jornal Valor Econômico – geralmente bem informado e sempre bastante circunspecto – avança hoje que os militares já teriam optado por não servir de guarda pretoriana do presidente e que uma solução poderia estar a ser estudada no sentido de o levarem a sair de motu próprio, ainda que levemente constrangido… Não com um impeachment – processo longo e fraturante – mas através de pressão para o levarem a apresentar uma carta de renúncia em troca de imunidade para ele e para a família (como aconteceu na Rússia quando Ieltsin abdicou em favor de Pútin…). Realidade ou mera especulação?
A ver vamos. Muito pode ainda depender de como a crise do coronavírus se vier a desenvolver por aqui. E também de qual a real relação de forças no topo das hierarquias militares.
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