O mundo acompanha os preparativos para o encontro entre Joe Biden e Vladimir Putin que acontecerá nesta quarta, dia 16 de junho, em Genebra com o objetivo fundamental de baixar as tensões entre as duas potências.
O mundo da política internacional já não é o mesmo desde o fim do século XX quando China e Rússia, frequentemente atuando em aliança, demonstraram que uma nova ordem mundial dependerá grandemente de suas escolhas políticas, econômicas e militares.
Essa realidade inevitável obrigou os Estados Unidos a adotarem novas estratégias. Do America First, de Trump ao America is Back, de Biden, a política externa se transformou substancialmente em poucos meses. Mas algumas pautas não mudaram tanto assim e Rússia e China seguem consideradas ameaças de primeira grandeza.
Os recentes esforços de aproximação e abertura ao diálogo com a Rússia vêm precedidos de atos bem agressivos. Já sob administração Biden foram 2 pacotes de sanções aplicados contra a Rússia (em março e em abril) além de enfrentamentos retóricos graves, como quando o Presidente norte-americano chamou Putin de assassino. Por parte da Rússia, lembremos da recente decisão de eliminar 119 bilhões de dólares em ativos líquidos trocando-os por euros, yuans e ouro, uma decisão marcante no sentido de ruptura com o hegemonismo monetário-financeiro.
Portanto, o encontro entre os dois adversários ocorre no momento em que as hostilidades são graves e crescentes e é precedido por outro, de Biden com os líderes europeus, o que também parece ser uma estratégia para manter seguras as zonas de influência dos americanos.
Fato é que os Estados Unidos fazem política de pressão todo o tempo e possuem muitas formas de influenciar a decisão de outros atores, sendo uma das mais eficazes o uso da OTAN. Em recente reunião, a Aliança Atlântica qualificou, pela primeira vez, a China como “um desafio para a sua estabilidade” e instou os países membros a “unirem esforços para fazer frente a isso”.
Não obstante, a Europa, que já estava molesta com os efeitos da guerra comercial transoceânica desencadeada na gestão Trump, agora se aborrece com a repentina aproximação dos Estados Unidos e da Rússia, até certo ponto uma surpresa. Alguns líderes se queixam da falta de transparência das agendas e interesses da potência aliada, deixando-os sobrantes e desinformados.
E a resposta chinesa ante a declaração da OTAN pode intensificar ainda mais o desconforto que contamina as relações diplomáticas com as autoridades europeias. Segundo a China, a OTAN busca criar uma confrontação geopolítica e usa o legítimo direito ao desenvolvimento como desculpa para manipular a política de aliança.
Tudo isso é muito interessante de acompanhar, fascinante até, já que afetará os rumos não apenas das potências diretamente envolvidas, mas de todo o planeta. E ainda que o encontro não alcance resultados em questões pendentes, como agendas comuns da ONU sobre a pandemia ou questões climáticas, o tema do desarmamento em matéria nuclear ou mesmo o sensível tema das sanções coercitivas unilaterais, fato é que a diplomacia está de volta.
Enquanto isso, no BRASIL, e de forma deprimente, observamos que a prioridade de nossa política externa é, no momento, a nomeação do ex-prefeito Marcelo Crivella ao cargo de embaixador do Brasil na África do Sul. Para vexame absoluto do Brasil, tudo indica que não será tarefa fácil emplacar o nome do ex-prefeito do Rio de Janeiro, acusado de envolvimento em graves casos de corrupção, e que podemos enfrentar uma espécie de veto tácito por parte do país sul-africano.
Um país que tanto fez, agora tanto faz… Nunca fomos tão irrelevantes. Ainda bem que o mundo dá voltas.
por Carol Proner, Doutora em Direito, professora da UFRJ, diretora do Instituo Joaquín Herrera Flores – IJHF | Texto em português do Brasil
Fonte: Brasil247