Há já alguns dias que estou ausente destas páginas. Vicissitudes de vária ordem impediram-me de manter uma colaboração que pretendo que seja mais frequente e regular. Retomo o contacto com os leitores com algumas notas muito breves sobre alguns filmes que, por estes dias, podem ser vistos nos ecrãs portugueses e cujo visionamento recomendamos. E, como este é o meu primeiro texto de 2018, aqui ficam os votos de um ano com muito e bom cinema.
Três Cartazes à Beira da Estrada
A primeira sugestão é Três Cartazes à Beira da Estrada (Three billboards outside Ebbing Missouri) produção norte-americana realizada pelo cineasta, dramaturgo e argumentista britânico Martin McDonagh. Vimo-lo em Setembro passado em San Sebastián onde foi Prémio do Público. Vencedor de quatro galardões na edição dos Globos de Ouro que decorreu há dias (melhor filme, melhor argumento, melhor actriz e melhor actor secundário) esta é uma história dramática protagonizada por uma mulher (fantástica a interpretação de Frances McDormand) que resolve alugar três cartazes de beira de estrada, há muito abandonados, para denunciar o pouco interesse da polícia local no esclarecimento das circunstâncias do homicídio que vitimou a sua jovem filha. Combinando sabiamente momentos de grande tensão com cenas extremamente hilariantes, nas quais se destaca o excelente Sam Rockwell, esta é uma história que dá a conhecer, num registo que envolve também uma mensagem de grande humanidade, uma certa América rural e afastada do bulício das grandes cidades. Curioso o facto de ser um britânico o responsável pelo argumento e pela realização.
A Hora mais negra
E, por falar em britânicos, o segundo filme de que hoje falamos é A Hora mais negra (Darkest Hour) de Joe Wright que valeu a Gary Oldman o Globo de Ouro para o melhor actor. Com uma caracterização que o torna praticamente irreconhecível Oldman encarna a figura de Winston Churchill em 1940, ano em que assume o cargo de primeiro-ministro de Inglaterra. Estamos em plena 2ª Guerra Mundial e a Alemanha está a ganhar terreno. Chegado há pouco ao poder, Churchill tem que decidir se capitula e assina a paz com os nazis ou se resiste e mobiliza o seu povo para continuar a guerra. Como se sabe, decidiu-se pela segunda hipótese o que obrigou os britânicos a pagar um preço muito caro pelo objectivo que tanto almejavam: a independência e a liberdade. A Hora mais negra é, apesar de algumas fragilidades, um filme exaltante e que merece ser visto.
Entretanto o cinema francês continua a ‘furar o cerco’ e, de vez em quando lá chega aos nossos cinemas. Há poucas semanas pôde ser visto (e ainda anda por aí) o excelente 120 batimentos por minuto, Grande Prémio do Júri do Festival de Cannes, recriação de Robin Campillo na forma de documentário ficcionado, da luta empreendida nos anos 90 do século passado por um grupo de activistas afectados pelo HIV que procuravam dar visibilidade à situação em que se encontravam e reclamavam das autoridades francesas um maior envolvimento na luta contra a SIDA.
O Amante de um Dia
Agora chegou aos nossos ecrãs O Amante de um Dia (L’Amant d’un jour) de Philippe Garrel, um dos grandes nomes do cinema francês cuja obra, apesar da sua importância, não tem tido em Portugal a visibilidade que merece. Neste trabalho em que pontifica a grande altura a sua filha Esther Garrel, o autor (sim este é um daqueles que pode ser considerado um cultor do ‘cinema de autor’) conta-nos uma história de amor, ciúme e relações tumultuosas de um homem que vive com uma namorada de 23 anos e da filha, também de 23 anos que depois de romper uma relação regressa à casa paterna. O Amante de um Dia é um filme muito recomendável que remete o espectador para um certo cinema francês que teve em Godard, Truffaut e Rohmer alguns dos principais expoentes.
Barbara
Mathieu Amalric é um actor francês que também se tem distinguido na realização. Dele pode ainda ser visto Barbara a biografia da cantora e compositora que marcou a canção francesa a partir da década de 60 e que morreu em 1997. Barbara é um belo trabalho sobre alguém que foi uma figura incontornável da cultura (não só da canção) francesa na segunda metade do século XX. Segundo o próprio Amalric, filmes de Orson Welles e Ken Russell foram fonte de inspiração para este muito interessante trabalho.
Outras propostas
Se estas propostas não forem suficientemente sugestivas, os nossos leitores têm ainda muitas outras opções igualmente interessantes. Por exemplo, O Quadrado de Ruben Östlund, Lucky de John Carroll Lynch (o emocionante adeus a Harry Dean Stanton), Roda Gigante de Woody Allen, Suburbicon de George Clooney, A Partir de uma História Verdadeira de Roman Polanski e Um Desastre de Artista, vencedor de San Sebastián/2017, do mais recente acusado de assédio sexual (apesar do seu discurso na cerimónia dos Globos de Ouro), James Franco. Um Desastre de Artista é um making-off, ‘fabricado’ catorze anos depois, de The Room, um filme catalogado, não se sabe por quem nem porquê, como o pior filme de todos os tempos.