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Domingo, Dezembro 22, 2024

Bullying. O assédio é uma patologia séria que precisa ser combatida

Estudiosos do bullying – assédio moral e físico infanto-juvenil – revelam que tanto os agressores quanto suas vítimas podem passar por grandes sofrimentos ao entrar na idade adulta. Segundo o estudo, ambos correrão o risco de ter maiores probabilidades de experimentar fracassos escolares, perdas de emprego e pobreza material, afetiva e psicológica. Podem também ser mais propensos a se tornar toxicodependentes e criminosos, diferentemente de quem nunca teve nada a ver com o bullying, nem como vítimas nem como carrascos.

Recente estudo feito por pesquisadores do Hospital Monte Sinai de Nova York mostra sob nova luz o bullying e os que praticam as modalidades de assédio moral infanto-juvenil. Segundo os cientistas, o comportamento agressivo e opressor  sobre os mais frágeis está ligado a alterações do mecanismo cerebral da recompensa, aquele complexo sistema de ações e reações que nos faz sentir prazer ao fazer alguma coisa (por exemplo fumar um cigarro) a ponto de querer repeti-la mais e mais.

A biologia da agressividade é conhecida há muito tempo e envolve estruturas cerebrais bem identificadas, tais como os núcleos ventromediais do hipotálamo , a amídala e os circuitos límbicos. O que ainda não se conhecia era o circuito da recompensa ligado à agressividade: o que desencadeia nos praticantes do bullying a gratificação que se segue à expressão da violência? Come é fácil intuir, esses mecanismos podem desempenhar um papel-chave ao favorecer a repetição de comportamentos agressivos.

Ratos ajudam a entender o que acontece

Os pesquisadores conduziram suas análises observando, inicialmente, o comportamento de diversos grupos de ratos: durante três dias seguidos colocaram na mesma jaula dos machos adultos um indivíduo mais jovem, que se encontrava dessa forma em uma posição de inferioridade social. Cerca de 70% dos ratos mais velhos manifestou comportamentos agressivos no confronto do indivíduo mais jovem, enquanto 30% não mostrou nenhuma reação à presença dele.

Nos dias seguintes, os machos praticantes de bullying foram testados com a técnica da resposta condicionada. Foram, assim sendo, colocados em condição de escolher se enfrentar novamente a situação que tinha desencadeado a resposta agressiva ou se retirar sem maiores problemas.

Supreendentemente todos os ratos agressivos escolheram atacar novamente o jovem intruso. Segundo os cientistas, isso significa um sinal claro de que a reação violenta deixou nos animais uma lembrança prazerosa, a ponto de induzi-los a repetir a experiência.

Nesse ponto os pesquisadores se concentraram na identificação dos circuitos neuronais que desencadeiam essas sensações de prazer. Com o uso de substâncias químicas específicas quer inibem algumas sinapses, eles identificaram tais estruturas em algumas conexões entre o prosencéfalo (encéfalo frontal) basal e a habênula lateral que, nos ratos, controla o comportamento agressivo.

Ainda serão necessários numerosos estudos para verificar o funcionamento dessas estruturas cerebrais no ser humano, mas os pesquisadores acreditam que tais possibilidades irão se confirmar. A primeira possibilidade que decorrerá disso será o desenvolvimento de uma terapia farmacológica para o tratamento da agressividade e da violência.

Os estudos sobre o bullying são recentes

Os psicólogos começaram a se preocupar com o bullying, entendido como uma patologia de ordem psíquica, há apenas 45 anos. O norueguês Then Olwens foi o primeiro a se destacar nesses estudos, e foi ele quem cunhou, em 1973, o termo bullying.

Desde então, em todo o mundo, o bullying está se difundindo em modo preocupante: um menino ou menina de cada dois está sendo ou já foi vítima de atos de assédio moral e/ou físico. Mas é sobretudo na faixa que vai dos 11 aos 17 anos (com o período mais crítico entre os 11 e os 13) que o fenômeno é mais grave.

Afinal, o que é o bullying? Desde quando os psicólogos se preocupam com ele? Trata-se de um fenômeno limitado aos anos escolares? Qual é a melhor resposta à prática do bullying? Todas essas são perguntas formuladas por aqueles que tentam encontrar uma solução para esse fenômeno comportamental tão complexo e preocupante. Aqui estão alguns pontos que podem nos ajudar a conhece-lo melhor.

O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão. Hoje, o termo significa o ato de assédio aos mais frágeis, com referencias a violências físicas e psicológicas notadamente em ambientes escolares ou frequentados por pessoas jovens.

É enorme a variedade dos tipos de bullying. O site Bullyingstatistics simplifica criando 4 categorias gerais: o bullying verbal (ofensas, apelidos depreciativos, xingamentos); bullying social (fofocas, maledicências, boatos, notícias falsas); bullying físico (socos, pontapés, empurrões, beliscões); bullying cibernético (qualquer forma de agressão e de depreciação através da internet). Segundo os psicólogos, o bullying físico é o que apresenta os sinais mais evidentes, mas todas as demais modalidades são igualmente danosas e têm origem nas mesmas disfunções psíquicas.

Os praticantes de bullying possuem baixos níveis de inteligência? Isso pode não ser verdadeiro. Chantal Gautier, professora de psicologia na Universidade de Westminster, Inglaterra, adverte: “Os que praticam bullying são tradicionalmente considerados possuidores de baixos quocientes intelectuais e de serem socialmente ineptos, desprovidos de cognição social. Mas agora sabemos que muitas vezes as coisas não são assim, e isso pode contribuir para que algumas pessoas não se reconheçam como praticantes de bullying”. Alguns pesquisadores conseguiram inclusive provar que, na realidade, os praticantes de bullying alcançam pontuações elevadas quanto à sua capacidade de elaboração de informações sociais, já que reconhecer quem reúne condições de ser sua vítima exige uma certa habilidade. O agressor com muita frequência busca como vítima algum indivíduo com baixa autoestima. Desse modo, mantêm sua posição e aumentam o seu grau de confiança, o que, por sua vez, aumenta a própria autoestima a níveis irrealisticamente elevados. “Entretanto, conclui a psicóloga, os praticantes de bullying com frequência não possuem empatia, ou seja, o senso de compreensão de como poderão se sentir aqueles que são agredidos e atingidos pelos prepotentes”.

Em artigo publicado na revista Psicology Today, o psicólogo Shawn T. Smith, autor do best-seller Surviving Aggressive People (Sobreviver às pessoas agressivas), explica que quando somos obrigados a tratar com agressores e predadores “a resposta não deve ser perfeita ou elegante. Deve ser oportuna e frontal”. Ou seja, a vítima não deve permanecer calada e sofrer passivamente a agressão desencadeada pelo opressor. Deve responder à altura e, caso não tiver condições de fazer isso, procurar imediatamente ajuda capaz de coibir as manifestações neuróticas de quem faz o assédio.

Embora o bullying seja difuso sobretudo entre os adolescentes, ele pode ocorrer também entre pessoas adultas e principalmente no ambiente de trabalho. O assédio nesse ambiente inclui ameaças, humilhações, abusos verbais e sabotagem. Uma pesquisa publicada em 2014 pelo Workplace Bullying Institute revelou que 27% dos trabalhadores sofreram em algum momento bullying no trabalho. A grande maioria dos praticantes de bullying no trabalho são os chefes e gerentes, e 72% dos patrões e donos de empresas “negam, diminuem, encorajam, racionalizam ou defendem o bullying”. Muitos patrões acreditam que o bom chefe ou gerente deve manifestar esses tipos de comportamentos autoritários e agressivos.

Se, sabidamente, o bullying pode provocar muitos graves danos psicológicos às vítimas, a verdade é que o praticante dessa agressão quase sempre corre em direção a esse mesmo destino. Um estudo de 2013 da Association for Psychological Science revelou que tanto os agressores quanto suas vítimas podem passar por grandes sofrimentos ao entrar na idade adulta. Segundo o estudo, ambos correrão o risco de ter maiores probabilidades de experimentar fracassos escolares, incapacidade para desempenhar as tarefas profissionais com regularidade, perda de emprego na idade adulta e pobreza material, afetiva e psicológica. Podem também ser mais propensos a se tornar toxicodependentes e criminosos, diferentemente de quem nunca teve nada a ver com o bullying, nem como vítimas nem como carrascos.

 

Por Luis Pellegrini  |  Texto em português do Brasil

Exclusivo Editorial Brasil247 / Tornado

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