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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

Campanha mole no Algarve

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PS. Debate sobre saúde

Pouca gente apareceu nas acções de campanha promovidas pelas diferentes candidaturas. Para serem vistos junto do povo, os candidatos tiveram de passar a vida a ir a todo o tipo de feiras, mercados e festas populares.

O debate televisivo da noite anterior, entre António Costa e Passos Coelho, ainda estava bem fresco na memória de todos. A esmagadora maioria dos comentadores – mesmo alguns ligados ao PSD, como Marcelo Rebelo de Sousa – tinha atribuído a vitória ao líder do PS, para grande alívio dos militantes e simpatizantes socialistas. Depois da polémica dos cartazes com falsos desempregados e dos resultados pouco abonatórios das sondagens, aquela era vista como a grande oportunidade para o PS retomar a iniciativa e arrancar para uma campanha eleitoral vitoriosa.

Por isso, era de esperar que o pequeno auditório da Biblioteca de Silves estivesse a abarrotar de socialistas sorridentes para uma sessão de apresentação dos candidatos pelo Algarve. Mas não foi isso que aconteceu. Muitas cadeiras mantiveram-se sem dono ao longo de toda a sessão, por não serem necessárias para as escassas cerca de quatro dezenas de pessoas que resolveram aparecer. De rostos fechados e sem exibirem grande entusiasmo.

Em determinada altura, a mandatária da candidatura, a presidente da Câmara de Portimão, Isilda Gomes, procurou animar a sala e referindo-se à prestação de António Costa, acrescentou que não podia ser ele sozinho a carregar o partido às costas. E perguntou se todos estavam motivados para ajudar o partido a ter uma grande vitória em 4 de Outubro. Teve de insistir na pergunta mais duas vezes, até, finalmente, obter uma resposta positiva bem audível.

Este episódio simboliza bem os problemas de mobilização que todas as candidaturas enfrentaram no Algarve, ao longo de período eleitoral. Para que a situação não fosse demasiado evidente, os partidos resguardaram-se e escolheram salas pequenas para levarem a cabo iniciativas que, por regra, atraíam umas 50 pessoas ou pouco mais do que isso. Outra técnica usada foi passarem parte considerável da campanha a reunir com os administradores e gestores de serviços públicos ou instituições de solidariedade social da região. O resto do tempo foi aplicado na visita a todo o tipo de feiras, mercados e festas populares, pois, praticamente, só por essa via conseguiam ficar cara a cara com os eleitores.

Mesmo assim, os resultados não parecem ter sido extraordinários. Nas páginas de Facebook das candidaturas e candidatos eram colocados posts após cada deslocação, dando a entender que uma multidão imensa de potenciais votantes não só tinha adorado as suas propostas, como se tinha praticamente comprometido a votar na candidatura que representavam. Só que, na esmagadora maioria das fotografias que ilustravam tais contactos, por regra, apenas apareciam os candidatos. Os populares com quem haviam contactado podiam ter ficado convencidos, mas parece que eram demasiado discretos para aceitarem ficar nos retratos.

Enquanto que, em on, o discurso era que tudo corria às mil maravilhas; em off, a preocupação dos envolvidos nas candidaturas era mais do que evidente. Os pontos altos eram os comícios em que participavam os líderes nacionais, mas, ainda assim, a adesão popular esteve, em muitos casos, longe de ser a ideal. Um dirigente local do PS confessava que os cerca de 700 algarvios que se deslocaram a Faro para aplaudir António Costa eram praticamente todos militantes ou simpatizantes do partido de longa data. “Não vi lá povo nenhum”, confessou.

Pela parte da coligação Portugal à Frente, o ambiente encontrado não era mais risonho. Um elemento do PSD admitia mesmo ser “assustador” o cenário de falta de mobilização e entusiasmo com que a sua comitiva se ia deparando.

Uma realidade igualmente sentida por Nuno Campos Inácio no terreno. Mas, ao contrário do que acontecia com os seus concorrentes, isso fazia com que ficasse animado. Antigo militante social-democrata, concorria como cabeça-de-lista do novo partido Nós, Cidadãos! e, nos contactos que ia fazendo para entregar em mãos o único material de campanha que tinha, um folheto com as suas propostas e equipa, as pessoas “mostravam-se completamente fartas dos partidos que têm governado o país”. Esse desalento com o status quo dava-lhe a esperança de que uma parte considerável desses algarvios optasse por escolher a sua equipa, levando-o a atingir o objectivo que se propôs: liderar uma das cinco listas mais votadas na região. A cada potencial eleitor dizia que a sua equipa era composta por algarvios que queriam ir para o Parlamento unicamente defender o interesse do Algarve.

O ênfase na palavra “algarvios” não era inocente. A ideia era fazer o contraponto com a candidatura PSD/CDS que contava com dois chamados ‘pára-quedistas’ nos lugares potencialmente elegíveis. A equipa liderada por José Carlos Barros incluía o secretário de Estado Pedro Lomba (PSD) e a deputada Teresa Caeiro (CDS), que tanto podiam ter sido candidatos pelo Algarve como por outra região qualquer. A inclusão destes elementos na lista provocou alguma polémica entre os militantes e dirigentes locais dos dois partidos da coligação, em especial, do Barlavento, que acabou por ficar sem qualquer representante em condições de ser directamente eleito.

Mas também o PS se debateu com um problema parecido. O partido rosa conseguiu que Lisboa não impusesse ninguém na lista, mas a sua composição também acabou por deixar o Barlavento de lado. O único, entre os quatro primeiros da lista encabeçada por José Apolinário, natural daquela zona (no caso, de Lagos) era Luís Graça, que, no entanto, vive e trabalha há muitos anos em Faro, é presidente da concelhia local e foi por essa via que obteve lugar na lista. Daí que também entre os socialistas da sub-região que vai de Albufeira a Vila do Bispo tenha havido algum mal-estar por entenderem não estarem devidamente representados na lista.

Um sentimento que João Vasconcelos, cabeça-de-lista do Bloco de Esquerda, tentou usar em seu proveito. Vereador na Câmara de Portimão, é um dos fundadores e dinamizadores da Comissão que luta contra as portagens na A22 (Via do Infante). Talvez para tentar capitalizar os votos dos eleitores do Barlavento, o Bloco fez deslocar a Portimão a sua líder, Catarina Martins, a um almoço de campanha, no decorrer do qual discursou perante cerca de uma centena de pessoas.

Pelo lado da CDU, o nº 1 apresentado pela região foi o repetente Paulo Sá, que, nas eleições anteriores, tinha conseguido fazer com que aquela coligação partidária voltasse a ter um deputado eleito pela região. Ao longo da maior parte da campanha, Paulo Sá calcorreou praticamente todo o Algarve com um pequeno grupo de apoiantes para contactar directamente com a população e distribuir panfletos. Na fase final, a máquina comunista pareceu ganhar um novo ânimo e dinamismo e conseguiu uma mobilização que lhe permitiu encher o auditório do Teatro das Figuras (que tem uma lotação de quase 800 lugares), aquando da passagem de Jerónimo de Sousa por Faro.

Ainda assim, foi com grandes interrogações e sem qualquer certeza que tanto ele como todos os outros cabeças-de-lista esperaram pelos resultados eleitorais. Todos eles deram, certamente, uma olhadela a resultados de outras legislativas e verificaram que, em cada uma delas, o número dos abstencionistas foi subindo de forma consistente, até chegar, em 2011, a praticamente 160 mil (44% do eleitorado inscrito). A falta de interesse e de entusiasmo com que se depararam ao longo da campanha fazia crescer a ideia de que, desta vez, a abstenção poderia atingir a barreira dos 50%. Restava saber quais as candidaturas que seriam mais penalizadas.

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