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Sexta-feira, Dezembro 20, 2024

Canções em Pequim traduz a alma chinesa numa simbiose entre música e cinema

Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Jornalista, assessor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

Profundamente inspirado no documentário As Canções (2011), de Eduardo Coutinho, um dos principais documentaristas cinematográficos do país, Canções em Pequim (2018), de Milena de Moura, une essas duas expressões artísticas, profundamente ligadas, com magia e delicadeza.

A cada estória contada pelos 14 habitantes de Pequim (ou Beijing) sobre o significado de alguma música em suas vidas e através disso perpassa-se pela história e pela cultura da República Popular da China, praticamente já a maior economia do planeta e o maior parceiro comercial do Brasil na atualidade.

Milena conta que se impressionou com a obra de Coutinho e quis fazer algo parecido na China, onde morou por anos quando cursou mestrado em direção de cinema na Academia de Cinema de Pequim. As estórias emocionam e mostram que é impossível haver vida sem arte.

Segunda ela a ideia do filme partiu da “relação muito forte entre o cantar e o contar” e o cinema é um grande contador de histórias. Para ela, “o cinema no mundo todo possui similaridades assim como diferenças”. Por isso, o cinema “acaba sendo uma arte que ultrapassa seus contextos nacionais em larga medida”, ao mesmo tempo em que “é forjada pelas condições e pela cultura de cada país”, o que acaba sendo “uma questão boa e bastante complexa”.

Assista Canções em Pequim, de Milena Moura

Como disse o teatrólogo Bertold Brecht (1898-1956): “Todas as artes contribuem para a maior de todas as artes, a arte de viver”. Canções em Pequim nos traz vida e a certeza na frente de que tudo vai mudar para melhor, apesar de hoje.

Ao comparar o cinema feito aqui e o da China ela diz que os chineses passaram também pelo processo do que ocorre no Brasil com predominância dos filmes estadunidenses, essencialmente de Hollywood, “mas a regulamentação do setor pelo governo foi capaz de proteger e fomentar a indústria nacional, a ponto de a China de fato conseguir desenvolver uma indústria cinematográfica nacional”.

Apesar disso, “a relação do cinema chinês com a indústria e com a linguagem cinematográfica hollywoodiana também é bastante estreita”, complementa. “A China absorveu em parte este modelo para o desenvolvimento de parte do seu cinema nacional”. Para melhor compreensão, ela indica o livro Hollywood made in China (2017), de Aynne Kokas.

De acordo com Milena, o que aproxima o cinema brasileiro do chinês, “é uma tradição do chamado cinema realista, aquele cinema que está olhando para a experiência contemporânea sempre buscando meios de expressá-la”, mas também “temos nos dois países um cinema comercial que é herdeiro do que chamamos cinema clássico hollywoodiano ou de gêneros”.

Porque o cinema se divide basicamente, em todos os países, em filmes autorais e de entretenimento, que muitas vezes se aproximam. Mais ou menos comerciais. O que falta no Brasil e Ainda Estou Aqui deixa isso claro é uma divulgação e uma distribuição de forma adequada dos filmes brasileiros. Também é necessário uma reserva de mercado com maior rigor para as produções nacionais.

Ela explica que “a China traz para a linguagem cinematográfica toda a sua tradição literária e cultural, por exemplo, conteúdos que contam a história do rei macaco, da mulher dos cabelos brancos, da própria Revolução Chinesa, histórias antigas, da cultura e da história nacional mais ou menos recentes que são reatualizadas no cinema e na linguagem audiovisual, e em grande medida importantes para a criação de uma identidade nacional chinesa”.

Canções em Pequim é uma coprodução Brasil-China com 79 minutos de duração e classificação livre.

Canções em Pequim pode ser assistido na íntegra neste link.

  • As Canções, de Eduardo Coutinho pode ser assistido na Prime Video. Cultura, delicadeza e inteligência em duas obras fundamentais para a compreensão da alma humana.

Chama a atenção, o depoimento da criança Xiao Ai, em Canções em Pequim. Xiao canta uma música que fala de amor e do que temos no coração. Milena lhe pergunta “o que o coração dela tem dentro?” e ela responde que “nada”. Porque “o coração não é como o cérebro. O coração não consegue pensar. Ele só serve para bombear o sangue”, mas o “meu cérebro está pensando em coisas a todo instante”. Dialético.


Texto em português do Brasil

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