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João de Sousa

Domingo, Novembro 3, 2024

Canto a meu martelo

Poema de Regino Pedroso

Canto a meu martelo

Quando você vai se cansar
de bater inutilmente
sobre o seu duro piano de ferro?

Você é fiel à minha vida,
meu irmão e companheiro desde a infância:
sua batida foi minha canção de ninar,
com você, na esperança e na fadiga,
eu forjei a dura corrente dos meus dias
com longos laços de miséria.

Camarada em heroicas batalhas de trabalho
que na bigorna dócil batendo, batendo, batendo,
dobra o aço com uma música forte entre as chamas;
grava, releva, arrebita,
forja a roda, a alavanca, o punhal;
mas, embora você seja útil e forte,
um dia eu vou jogá-lo na forja
e fazer um brinquedo.

Estou apaixonado por esse espelho mágico
alongado e cortante,
que os homens usam na boca de seus rifles,
e onde as estrelas são refletidas, a manhã, o universo,
em crepúsculos bárbaros de sangue.

E como em criança nunca conheci jogos,
agora quero rir, cantar, chorar também
com um grito mais profundo e humano,
frente àqueles homens bravos que jogam até a morte:
alto! alto! alto!
E esse meu grito está
cravado no imenso coração da terra.

Mas, como você é dócil e humano,
trabalhoso e pacífico
e sua canção de amor e de justiça é inútil
para me fazer aquele vidro de aço duro que tudo
isso reflete,
um dia eu vou jogá-lo na forja…
e torná-lo baioneta.


por Regino Pedroso | Texto em português do Brasil (Tradução: Alexandre Pilati)

Exclusivo Editorial PV / Tornado


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