Nos anos 85 a 90 tive a oportunidade de fazer formação psicoterapêutica durante cinco anos com terapeutas mais experientes que funcionam como formadores.
Ser Terapeuta não é uma formação académica/universitária, e a supervisão, incluindo a supervisão das capacidades do Terapeuta em aprendizagem é feita por terapeutas/companheiros maiores.
Foi uma das experiências mais gratificantes da minha vida e alterou profundamente a minha forma de olhar os outros. Todos os outros.
A Abordagem Centrada na Pessoa surge como reação aos paradigmas psicanalítico e comportamental propondo uma diferente visão do ser humano sobre a qual foi criada uma nova forma de terapia: a terapia centrada na pessoa, na sua própria experiência, na sua visão do mundo, da sua infância, da sua vida.
Também chamada de Psicologia Humanista, a Abordagem Centrada na Pessoa desenvolve-se a partir da década de 40 nos Estados Unidos da América, sobretudo com o trabalho de Carl Rogers, que foi confrontado com a enorme dificuldade que representava diminuir o sofrimento de doentes , oficiais e soldados, que tinham ficado muito traumatizados na Guerra da Coreia.
Até então os modelos de terapias eram as terapias comportamentais e a Psicanálise Freudiana e Junguiana.
Essas abordagens centravam-se na experiência subconsciente ou inconsciente dos clientes, e não no que está “na superfície”. E baseavam-se na interpretação dessa experiência pela sabedoria do terapeuta.
Carl Rogers sentindo-se impotente com o métodos tradicionais tenta uma abordagem de escuta como forma de compreensão do doente e do seu sofrimento, acompanhando-o de forma completamente diferente. Aceitando incondicionalmente os sentimentos que o doente revela, durante a Terapia.
Nas próprias palavras de Rogers:
quem sabe o que o magoa, qual a direção que quer seguir na sua exploração interna,que problemas lhe são cruciais, quais as experiências foram profundamente enterradas, é a pessoa que vem pedir ajuda. Eu não tenho necessidade de demonstrar minha própria inteligência e conhecimentos, é melhor confiar no cliente para a dirigir do movimento no processo que é a terapia.”
Ele recusa a ideia da pessoa determinada exclusivamente por pressões sociais, familiares e culturais ou dominada e sujeira a impulsos inconscientes ou características herdadas a que estaria condenado e que lhe limitariam as possibilidades de escolhas livres. Rogers olha o ser humano como sendo dotado de liberdade e de poder de escolha, mesmo quando nascido nas condições mais dramáticas e constrangedoras. Rogers considera que mesmo nas piores condições sociais e familiares é possível desenvolver capacidades de autonomia e auto-determinação. Haverá sempre um impacto dessas situações adversas ao desenvolvimento, mas Rogers com a sua experiência verifica que os seres humanos mantêm, em algum grau, capacidade para não se limitar a reagir aos acontecimentos e a ser por eles conduzido. Pode sobrepor-se a eles.
Rogers propõe na sua pratica terapêutica “ver através dos olhos da pessoa em sofrimento, perceber o mundo tal como lhe aparece, aceder, pelo menos parcialmente, ao seu quadro de referências interna. A empatia é o meio através do qual o terapeuta se pode aproximar com um”tipo particular de compreensão distinto de outros tipos de compreensão resultantes de referencias exteriores, tais como diagnósticos, ou julgamentos, ou suposições “lógicas”.
Nesta forma de Terapia a escuta e a aceitação incondicional da visão de ser humano em sofrimento constitui a base da mudança e a possibilidade de o cliente poder sentir-se aceite, seguro, para poder avaliar o seu próprio processo interno e fazer uma mudança no sentido criativo.
Rogers conseguiu confirmar que esta aproximação e aceitação incondicional, sem julgamento do terapeuta, permite a confirmação da existência de uma tendência natural para o crescimento e para a socialização que constitui, o factor curativo. Isso pressupõe que o terapeuta seja aberto, não julgue e seja congruente consigo mesmo.
Quer dizer que se o terapeuta, estiver prisioneiro das suas próprias defesas, nunca irá conseguir aceitar o cliente/doente na sua diversidade e complexidade?.Se tiver medo da dor, não poderá ajudar o cliente a enfrentar a sua própria dor. Se, na relação terapêutica, o terapeuta for colocado perante experiências que sente como ameaçadoras, não poderá manter a sua escuta e compreensão, e será incapaz de aceitar os seus sentimentos do cliente.
Carl Rogers continua a ser uma grande desconhecido em Portugal e em grande parte dos países europeus.
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90