Tempos de cólera
Carlos Salinas, 71 anos, é um economista e político mexicano do Partido Revolucionário Institucional (PRI), Presidente do México de 1988 a 1994. O mais polémico presidente do México nos últimos 30 anos. Mais um iluminado. Aureolado pela influente família de sangue e família política.
Tinha sido Secretario do Orçamento, e candidato presidencial do PRI em 1988, foi eleito com acusações de fraude eleitoral.
Esta presidência foi caracterizada por um profundo aprofundamento das políticas económicas neoliberais de livre comércio iniciadas por seu antecessor Miguel de la Madrid, em cumprimento do Consenso de Washington, com privatizações em massa de empresas estatais, entrada do México no NAFTA, negociações com a direita, isto é, com o partido de oposição PAN, para ver reconhecidas as dubitativas vitórias nas eleições para governador, em troca do apoio a Salinas. Salinas fez santas e abençoadas pazes com a Igreja católica. Bênçãos de deus, muito aprecisadas no país em que se venera a aterrorizante Senhora da Morte.
Desde o início do seu mandato, Salinas foi constantemente criticada pela esquerda (que o considerava ilegítimo porque assumiu o cargo por meio de fraude eleitoral) e por causa das suas políticas neoliberais, que aumentaram a taxa de desemprego e foram entendidas como doação da riqueza da nação para o capital estrangeiro.
Obviamente Salinas foi elogiado pela ala direita e pela comunidade internacional durante seus primeiros cinco anos no cargo, liderando a globalização, vendendo a ideia de que estava a modernizar o país.Salinas foi obviamente apoiado pelo governo dos Estados Unidos na candidatura à Presidência da recém-criada Organização Mundial do Comércio.
Após anos de crescimento económico, em 1994 desintegrou-se a sua imagem pública nacional e internacional, porque no último ano no cargo Salinas não conseguiu lidar com a desigualdade social no país. Os mais pobres e frágeis eram o último dos seus interesses.
Isso e as revelações sobre a má administração e corrupção de Salinas e do seu círculo restrito de apoiantes. Em 1994 a subida dos zapatistas e os escandalosos assassinatos de Luis Donaldo Colosio (sucessor escolhido por Salinas e candidato do PRI para as eleições presidenciais de 1994) e do secretário-geral do PRI José Francisco Ruiz Massieu (cunhado de Salinas).
Esse Movimento Zapatista inspira-se na luta de Emiliano Zapata contra o regime autoritário de Porfirio Diaz que desencadeou a Revolução Mexicana em 1910.
Os Zapatistas tiveram grande visibilidade para o grande público a partir de Janeiro de 1994 quando das montanhas de Chiapas (área de comunidades indígenas) com carapuços negros pretos e armas nas mãos disseram Já Basta! contra o NAFTA (acordo de livre comércio entre o México, os EUA e Canadá criado na mesma data.
O movimento defende uma gestão autónoma e democrática do território, a participação direta da população, a partilha da terra e das colheitas.
Uma onda de revolta segui-se à violência política e levou à incerteza económica.
Enfrentando pressões para desvalorizar o peso, Salinas permaneceu firme, optando por uma estratégia que acreditava que ajudaria sua candidatura à presidência da recém-criada Organização Mundial do Comércio. Em consequência, menos de um mês após Salinas deixar o cargo, o México entrou em uma das piores crises económicas de sua história.
Pouco depois, o seu irmão Raúl Salinas foi preso por ordenar o assassinato de Ruiz Massieu e posteriormente foi indiciado por acusações de tráfico de drogas.
Salinas foi forçado a abandonar o país.
Sucedeu-lhe Zedillo.
Um perfil psicológico de Zedillo feito pela DIA em 1995 descreve-o como frio, duro, distante, rígido e sem humor.
Ernesto Zedillo, agora com 69 anos, é um economista e político mexicano. Sucedeu a Salinas como presidente do México de 1 de dezembro de 1994 a 30 de novembro de 2000, e foi o último dos presidentes mexicanos do Partido Revolucionário Institucional (PRI).
Durante a sua presidência, ele enfrentou a pior crise económica da história do México, que começou imediatamente depois de ele assumir o cargo. Tentou distanciar-se de Salinas, culpando as políticas daquele pela crise (embora ele próprio não tenha se desviado das políticas neoliberais de seus dois antecessores). Colaborou na prisão do irmão Raúl Salinas do ex presidente. Durante esta presidência deram-se os massacres de Aguas Blancas e Acteal feitos pelas forças do Estado.
Embora as políticas de Zedillo tenham permitido ao México sair da crise económica e recuperar o crescimento, o descontentamento popular com sete décadas de governo do PRI levou o partido a perder, pela primeira vez, a maioria legislativa nas eleições de 1997 e no ano 2000 o candidato do Partido da Ação Nacional da oposição, Vicente Fox, venceu a Presidência da República, pondo fim a 71 anos de regra ininterrupta do PRI. Zedillo admitiu a derrota do PRI e fez a entrega pacífica de poder ao seu sucessor.
Inicialmente, o governo Zedillo seguiu as políticas de Salinas em relação às negociações com os zapatistas, comprometendo-se a alcançar uma solução pacífica para a crise de Chiapas. Depois Zedillo mudou de ideias e, em 9 de fevereiro de 1995, e prosseguiu a intervenção militar. Abandonada esta estratégia mal sucedida, as negociações de paz foram posteriormente restabelecidas. As políticas confusas de Zedillo em Chiapas eram consistentes com algumas outras de sua administração
Após a prisão de seu irmão, Salinas foi à televisão, expressando sua indignação para com Zedillo. Na transmissão, ele colocou a culpa pela crise do peso em dezembro em Zedillo, resultando na perda de empregos mexicanos, falências e manchando a imagem do México. Salinas abandonou sua campanha eleitoral (apoiada pelos Estados Unidos) para se tornar o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio e deixou a Cidade do México, indo para Monterrey, onde realizou uma ridícula greve de fome devidamente publicitada em casa de um apoiante do PRI. Arturo Warman, ministro da Reforma Agrária, foi enviado a Monterrey implorar a Salinas o regresso à Cidade do México. Salinas exigiu que o governo emitisse uma declaração exonerando-o de responsabilidade pelo caso Colosio e pela desvalorização da moeda. Salinas voltou à Cidade do México, ele e Zedillo conheceram-se. Zedillo parece ter caído sob o poder sedutor de Salianas emitiu uma declaração absolvendo-o do assassinato de Colosio e moderou as críticas a Salinas pela crise da moeda mexicana. Salinas deixou o México para o exílio auto flagelado e estabeleceu-se na Irlanda por algum tempo.
Zedillo continua a ser um dos porta vozes da globalização, especialmente no impacto nas relações entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Atualmente, é diretor do Centro de Estudos da Globalização da Universidade de Yale, é co-presidente latino-americano do Diálogo Interamericano e faz parte do conselho de administração do Cytigroup.
Depois de um julgamento que durou de quatro anos de lutas judiciais, a 22 de Janeiro de 1999 Raul Salinas, irmão do ex-presidente do México, foi condenado por ordenar o assassinato de 1994 de Colosio e condenado a 50 anos de prisão. O impressionante veredicto destruiu a impunidade que protege poderosos mexicanos há décadas. A decisão do juiz foi amplamente considerada o veredicto criminal mais importante do México moderno. Foi a primeira vez que um parente próximo de uma figura tão poderosa como o ex-presidente Carlos Salinas enfrentou uma acusação por um crime grave.”Isso quebra todos os precedentes”, disse Sergio Aguayo Quezada, historiador. ”Raul Salinas é um símbolo, o irmão de um dos presidentes mais fortes do México. A decisão do juiz dá um enorme impulso à independência do sistema de justiça”.
NOTA: “A história de um crime: O Candidato”, o Assassinato de Luiz Donaldo Colosias é tema da série da NETFLIX.
Nota: Carlos Salinas nasceu em 1948, filho do economista Raúl Salinas Lozano e Margarita de Gortari de Salinas. Quando tinha quatro anos, ele, o irmão Raúl, então cinco e um amigo de oito anos estavam em guerra com a empregada família Salinas, Manuela de doze anos. Como parte do jogo, eles decidiram executar Manuela, e encontraram uma espingarda carregada, atiraram e mataram Manuela. Embora nunca tenha sido determinado com certeza qual dos três garotos puxou o gatilho, segundo um relato, Carlos gabava-se de “eu matei-a com um tiro. Eu sou um herói!”.Um juiz culpou os pais de Salinas por deixarem uma arma carregada acessível a seus filhos pequenos e ordenou tratamento psicológico dos três rapazinhos.
Uma infância saudável traz filhos generosos e sensíveis.
Além de trazer incómodos cadáveres às costas!
A família Salinas não conhecia o apelido da empregada de 12 anos – sabiam apenas que ela tinha vindo de veio San Pedro Atzcapotzaltongo – e não se sabe se a família alguma vez reivindicou seu corpo.
Em 6 de dezembro de 2004, o irmão mais novo de Salinas, Enrique, foi encontrado morto em Huixquilucan, Estado do México, dentro de seu carro com uma sacola plástica presa à cabeça. O caso permanece sem solução.
E como dizem os políticos mexicanos um crime sem solução foi praticado pelos narcotraficantes!
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90
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