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Quinta-feira, Novembro 14, 2024

Carnaval de Torres Vedras custa 600 mil euros e espera 350 mil visitantes

Joaquim Ribeiro
Joaquim Ribeiro
Jornalista

CarnavalTorresVedras
Está tudo a postos para o início dos festejos do Carnaval de Torres Vedras, entre 5 e 10 de Fevereiro, sob o tema “Figuras e figurões”. Este ano a Promotorres, empresa municipal que organiza o evento, vai investir o maior orçamento dos últimos seis anos (desde 2009), 600 mil euros.

Há várias semanas que estão a ser produzidos os carros para os corsos diurnos de Domingo e Terça-feira, e o nocturno de Sábado. Nos estaleiros municipais foram restauradas as “carcaças” dos carros, todos automotorizados, que já apresentavam algum desgaste. Nestas instalações estão agora a ser montados os bonecos, produzidos por duas empresas torrienses.

A Creative Factory foi a empresa que, este ano, construiu o Monumento do Carnaval, já montado no centro da cidade, além de mais três viaturas. Segundo Tiago Pombal, coordenador criativo, o carro onde desfilam os reis sofreu uma profunda remodelação, com materiais muito resistentes, de modo a aguentar vários anos. É um veículo ao qual a equipa criativa da empresa deu uma especial atenção. Foi feita uma pesquisa até às origens do Carnaval de Torres, graças a um registo filmado de 1930, quando os carros alegóricos eram puxados por animais.

É por isso que a decoração do novo carro terá quatro estátuas de cavalos à frente. Na traseira estará um grande coche esculpido com personagens típicas do Carnaval de Torres, representando a Confraria, os Zés Pereiras, os Ministros e Matrafonas, o Chico da Bola e a Maria Cachucha. A cor dominante é o dourado, para dar imponência aos monarcas. Tem 8,20 metros de comprimento e 4,20 metros de altura, equipamento com sistema de luzes led para poder circular à noite.

“Este carro mostra uma imagem bélica intemporal e projecção para o futuro”, sublinha Tiago Pombal. O nome “Carro triunfal” é também recuperado dos anos 1930. Não terá tripulação e está preparado para impedir a subida a bordo dos foliões, uma vez que “muita gente no carro dos reis dava-lhe pouca dignidade”, refere o artista.

 

Da política ao futebol, há carros alegóricos para todos

A Creative Factory está a produzir mais dois carros, o da política local e outro de tema livre. Este último, mais pequeno dos que os restantes, é o “Carro do Zézinho”. Esse Zézinho é, no fundo, o Zé Povinho, que agora é mostrado com tiques efeminados, virado para a moda, que se diverte com ele próprio no seu ateliê e o seu “pau de selfie”. “Temos um excelente compromisso entre o gabinete de design e os escultores”, afirma Tiago Pombal, para justificar os resultados finais destas obras, acrescentando que “não nos deixamos levar pelos limites da criatividade, queremos ser arrojados”.

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O carro da política local tem o nome de “Museu do Carnaval”, onde figuram os nove vereadores da Câmara Municipal, mais o presidente da Promotorres e o ex-presidente da autarquia e actual secretário de Estado, Carlos Miguel, pendurado de uma grua operada por António Costa. O desenho do carro é inspirado na fachada do antigo matadouro, local das futuras instalações do Museu do Carnaval. Tem 5,30 metros de altura e 9,40 metros de comprimento.

Na empresa Gate 7 estão a ser construídos cinco carros alegóricos, mais o novo “Tocandar”. Este veículo é aquele, ao estilo trio eléctrico, onde desfilam uma banda e vocalistas, que animam o povo à volta do percurso do Carnaval. O anterior carro estava já bastante desgastado pelo tempo e apresentava problemas de segurança. O novo é mais moderno, construído de raiz, com três níveis: palco, zona dos músicos, zona para os vocalistas, área social e camarins. Está concebido para funcionar virado para a traseira, já que é hábito levar atrás de si os foliões que seguem a música. Terá todo um sistema de luzes e de som, instalado de origem no carro. Esta é, certamente, uma das grandes novidades da edição deste ano dos corsos, em particular o nocturno.

Quanto aos outros carros, de acordo com Bruno Melo, que os concebeu, todos têm uma forte mensagem para além daquilo que é a habitual sátira. Na sua opinião, “nos nossos carros as pessoas devem divertir-se mas devem também olhar para além da brincadeira, porque todos transmitem fortes mensagens, com uma carga de muita seriedade, apesar de ser Carnaval”.

É o caso do carro “Rota Cega”, que mostra o “porco capitalista” no seu paquete de luxo em pleno oceano, para mostrar até onde vai o poder do dinheiro, que leva à sua frente um pequeno barco cheio de refugiados. Em cada boneco que representa um emigrante está não um rosto mas um espelho, para indicar que aquelas pessoas podem ser qualquer um de nós.

Depois há o “Tuga Circus”, o da política nacional. Apresenta Jerónimo e Catarina a manipular o “palhaço” Costa, que, por sua vez, faz disparar dois homens-bala: Passos e Portas. Atrás vem um reboque com a jaula das feras, Salgado e Sócrates.

12674416_1304446132914754_1317854289_n“Xerife mas pouco” é o nome de outro carro da Gate 7, que mostra as figuras dos irmãos Dalton, mas onde se reconhecem as caricaturas de Sócrates, Duarte Lima, Ricardo Salgado e Armando Vara. O cenário deste carro é completado com a figura de Cavaco Silva, na pele de Lucky Luke, um “xerife” que só dorme e pouco faz para apanhar os ladrões. O carro tem ainda a figura do Zé Povinho a arcar com todo o peso que os quatro ladrões transportam.

O carro “Footmafia” é uma forte crítica ao mundo do futebol, embora não apresente nenhuma bola de futebol. Pelo contrário, tem uma corrida com três carros do tempo da máfia americana, com os “gangsters” Pinto da Costa a subornar árbitros enquanto Filipe Vieira e Bruno de Carvalho trocam tiros ao volante dos bólides. Numa posição superior está Platini, o “padrinho da máfia”, com um gato ao colo que é, nada mais nada menos, que Blatter.

Por último, outro carro com forte mensagem internacional. O “Resgate aos deuses” recupera o tema da Grécia e da crise económica, com as figuras dos deuses gregos a pedir ajuda dentro de água enquanto Merkl lança os tubarões (FMI, Banco Central, etc.).

 

O “Carnaval mais português que Portugal” arranca já esta Sexta-feira

Quanto ao programa, começa esta Sexta-feira, dia 5, com o corso escolar, onde se esperam cerca de oito mil crianças das escolas do concelho. À noite tem lugar a chegada dos reis do Carnaval (dois homens, um deles vestido de rainha), Dom Figurão Embatukado do Belo Carrascão e Dona Figurona Perikita Rebulona. É ao serão de Sexta-feira que começa a verdadeira maratona de loucura carnavalesca torriense, em bares, discotecas e palcos montados por toda a cidade, quase sem interrupção até à noite de Terça-feira. Segundo a organização, nos cinco dias de festa espera-se a visita de 350 mil pessoas.

No Sábado à noite há o corso nocturno, com carros alegóricos, o “Tocandar” e o concurso de grupos de mascarados. Domingo e Terça-feira são dias dos corsos diurnos. Na Segunda-feira há um “baile de máscaras tradição” no Pavilhão Multiusos, dedicado aos mais idosos; um concurso de grupos de matrafonas; e ainda o corso trapalhão, completamente anárquico, ao longo do recinto dos desfiles. O Carnaval de Torres termina na Quarta-feira, com o Enterro do Entrudo, junto ao tribunal, cerimónia que também costuma contar com bastante público.

A designação de “Carnaval mais português que Portugal” resulta, no fundo, do cariz tradicional e secular que marca o evento torriense, com recurso a personagens típicas e únicas. Com excepção de alguma música brasileira que se ouve na instalação sonora, praticamente não existe qualquer outra influência externa neste Carnaval. As entradas nos corsos custam cinco euros por dia, mas pode ser adquirido um livre-trânsito para todos os dias por 10 euros.

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