Nos braços dessa febre, parecendo não distinguir lá muito bem a realidade do fingimento, provavelmente cheio de aventuras falhadas, identificava-se perfeitamente com a representação.
O homem à primeira vista era um poema.
E qual é o papel dos poemas senão a de um tolo idealista?
O de alguém que anda a perseguir o «felizes para sempre»?
O de alguém que toma Viagra mental como quem chupa rebuçados de mentol?
E assim o homem passou a noite agitando a superfície ou a profundidade da sua respeitável existência, da qual, os restantes pares na pista e os fregueses do bar só lhe viam e imaginavam os contornos do corpo. Nada mais para além disso.
Por fim, esgotado, num espectáculo de elegância, vestiu o sobretudo, pegou na bicicleta que encolhia o frio da madrugada e lá foi pedalando como se estivesse a ler o livro do seu corpo, à luz daquele candeeiro, a Lua.
Mas um pequeno pormenor atraiu a atenção de quem o seguiu até à Pensão do Amor: no sítio da bicicleta reservado à garrafa de água tinha uma de vinho tinto.
Em que trono se imaginaria sentado?