Querido Murilo: será mesmo possível
Que você este ano não chegue no Verão
Que seu telefonema não soe na manhã de Julho
Que não venha partilhar o vinho e o pãoComo eu só o via nessa quadra do ano
Não vejo a sua ausência dia-a-dia
Mas em tempo mais fundo que o quotidianoDescubro a sua ausência devagar
Sem mesmo a ter ainda compreendido
Seria bom Murilo conversar
Neste dia confuso e divididoHoje escrevo porém para a Saudade
– Nome que diz permanência do perdido
Para ligar o eterno ao tempo ido
E em Murilo pensar com claridade –E o poema vai em vez deste postal
Em que eu nesta quadra respondia
– Escrito mesmo na margem do jornal
Na baixa – entre as compras de NatalPara ligar o eterno a este dia.
Carta de Natal a Murilo Mendes
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