O cartã da cidadã é uma batalha nova do Bloco de Esquerda, que quer regressar à expressão “bilhete de identidade”. Nada contra, melhor do que “cartão de cidadania”, que enferma logo em inscrever no cartão uma atitude, em vez de um género.
Mas há uma discussão que não faz sentido: a de querer normalizar os sexos. Não são iguais, nunca foram, nunca hão-de ser. É, aliás, no reconhecimento da diferença que tem de estar a mudança mental. Em direitos e deveres total equidade. No resto, retirar a funil os preconceitos de um lado e de outro sobre o sexo que não se é.
Nem fará ruído aqui a questão homo e trans, uma vez que o sexo é aquilo que uma pessoa sente que é. Por isso, a normalização de tratamento através da semântica e da fachada, apenas, é curta e ineficaz.
Para mais eu quero ouvir a Callas e o Ezra com as vozes com que nasceram. Não os espero na mesma oitava nem com os mesmos graves. Desejo a Rosa Mota na corrida dela e a Telma Monteiro no seu tapete – não faria sentido respeitar peso, altura e massa muscular e ignorar a origem biológica disso tudo.
Homens e mulheres são diferentes e não há mal nisso. Nem mal nem bem. É algo que o ser humano não controla, chama-se ADN, chama-se espécie, chama-se biologia.
Se há homens e mulheres que julgam poder, nessa diferença, criar uma desigualdade, então esses homens e mulheres estão enganados.
A desigualdade biológica não tem os determinismos do Lombroso, que faleceu em 1909 mas continua a assombrar muita gente. Nem toda a sociedade é Arroja nem aquelas meninas do piropo.
Parece, no entanto, que andamos desconfortáveis a dizer coisas destas. Se o andamos é porque, desde casa e da escola, há um sistema de valores que não interpreta ainda a liberdade e respeito mutuo. Podíamos viver bem melhor se em vez de mascarar com palavras e normas deixássemos de condenar os putos que não sabem jogar à bola ou exigir às meninas de 13 que se pareçam no vestir como adultas de 28. Saltos altos aos 10 parece-me um erro de formação da coluna, que depois terá consequências graves. Mas que os há, há, basta ir buscar crianças à escola e ver o desfilar de mini-Saras Sampaios e de Ronaldos…
Aqui é que está o problema. O lugar do homem não é a ver o Benfica nem o da mulher na cozinha. Nem vice-versa, que é igualmente maçador. Faltam muitas gerações para que a mudança, em vez de ser de cartão, seja verdade.