Na última quarta (17), escrevi algo sobre a reação imperialista desencadeada diante do poder de fogo demonstrada pela China desde 2009, passando pelo anúncio da Nova Rota Marítima e Terrestre da Seda até a decisão de Trump em, de fato, governar seu país, fazendo refletir (na marra) o mundo à imagem e semelhança da podridão moral chamada de Estados Unidos da América. Em torno disso, onde se situa a força de Bolsonaro e outros fascistas espalhados pelo mundo – a partir dos EUA.
Uma olhadela em papers publicados em revistas norte-americanas de ponta na área de Geopolítica e Economia Política Internacional, acrescidos de pronunciamentos de Trump e seus próprios assessores deixam muito claro que não tolerarão nem outra China, nem tampouco a própria China. O que nos faz lembrar da famosa frase de Henry Kissinger sobre o processo de desenvolvimento brasileiro na década de 1970: “não podemos permitir a existência de um novo Japão, agora na América do Sul”.
É de bom tom lembrar deste passado remoto do Brasil diante da desconstrução de nossa história arquitetada nos escritórios do Departamento de Estado dos EUA e executada por picaretas (direita) e ingênuos (“esquerda”) que substituíram Darcy Ribeiro pela “narrativa” para quem um país de passado “escravocrata” e “patriarcal” não é digno de futuro. Não é de difícil percepção a qualquer pessoa minimamente inteligente que a desconstrução histórica não é um fim em si mesmo. Abrindo parêntese, negar o caráter universal de Zumbi dos Palmares o reduzindo a um herói de uma raça e não um herói brasileiro e construtor de nossa nacionalidade é exemplo claro de como se “joga o jogo” do tal de “debate de ideias” no Brasil hoje. O objetivo é sacar a alma do coletivo. É criar condições para que outros tomem conta de nosso destino.
O papel das Fundações Ford da vida foram executadas com esmero: nos últimos 15 anos, o Brasil deixou de ser o “país do futuro”, a “maior das latinidades” e o “berço de uma nova e superior civilização” para se tornar o país mais racista, homofóbico e machista do mundo. Antes de colocar palavras na minha boca ou praticar o nojento papel de patrulheiros de quinta categoria, deixo bem claro que amo minha Pátria e o racismo, por exemplo, é um câncer que envergonha meu país. Negar essas contradições no seio do povo é se perfilar com tipos como Bolsonaro. Não perceber o papel destas “narrativas” (de onde saem e quem as emite internamente) é fazer o jogo do fascismo norte-americano. Afinal delenda est Carthago (Cartago deve ser destruída).
A política externa de Trump é óbvia e direta. É senso comum na inteligência norte-americana que o prazo de validade para barrar a China, e sua ascensão, espira em 2023. Depois disso, já era. Os EUA possuem armas eficazes que não se encerram em aumento das tarifas de importações. O próximo passo é a denúncia seguida de sanções abertas contra a espinha dorsal da economia chinesa, a saber: seus imensos 149 conglomerados estatais. Evidente que uma economia de mercado dominada por empresas e bancos estatais restringe em demasia a ação da lei do valor.
A capacidade de planificar em níveis cada vez mais superiores por parte das figuras que manejam as cordas da “Gosplan Chinesa” (Banco Popular da China + Conselho de Estado) não dão outra alternativa ao imperialismo a não ser isso a que estamos assistindo: guerra comercial, financiamento e alocação de grupos uigures e tibetanos voltados contra o governo central, abrigo e acolhida aos bilionários devidamente convidados a se retirarem do país por Xi Jinping etc
Delenda est Carthago é a política para quem ouse se aproximar da China e de seu “modelo”. A ideia não é somente desmontar projetos nacionais autônomos. Vai além: é destruir qualquer massa onde exista um “núcleo duro”, é destruir – via divisão interna seguida de caos econômico e social – sociedades inteiras. O exemplo mexicano é sugestivo onde grupos “progressistas” apoiam as demandas de todos os grupos indígenas interessadas em se desmembrar do México e se tornaram “Estados independentes”. Nosso companheiro Evo Moralez sabe o doce sabor desse veneno.
A América Central se dilui entre narcotraficantes (agentes pagos da CIA) que tomam para si nacos de países como, por exemplo, a Nicarágua (coincidentemente sede do maior empreendimento chinês na América Latina que visa quebrar o bloqueio do Canal do Panamá exercido pelos EUA). O Brasil segue trilha semelhante com divisão da sociedade brasileira em estilhaços onde se encontra de tudo, menos a vontade de ser brasileiro. E sob aplausos da “intelectualidade (pós) moderna”; a mesma que acha antiquada noções como Nação, soberania, território etc…
O maior inimigo do Brasil hoje é invisível. Vive fora, remete milhões de transmissões por minuto de fake news cujo rastreio adentra a fronteira dos Estados Unidos. Dominam tecnologias que não só não sabemos como funcionam, como nem imaginamos como se manipulam. Bolsonaro é um boneco a serviço dos interesses mais sujos de uma nação decadente, onde a Casa Branca e o Parlamento são locais de abrigo e proteção a grupos proto-fascistas, think tanks poderosos e de narcotraficantes que utilizam a complexo industrial militar para lavar dinheiro. Mas todos eles com uma grande convicção: MAKE AMERICA GREAT AGAIN. Nem que o preço seja a destruição completa de Cartago.
E o Brasil, desde 2013, é uma imensa Cartago. Mas ainda fico com Lênin, repetindo sua célebre frase em meio ao caos pós-fracasso da revolução de 1905: “as apostasias tendem a fracassar”. Não duvido disso. Mas não sem antes tomarmos um grande banho de brasilidade. Sem antes não temer o fogo, a dor e a contradição. VENCEREMOS!
Por Elias Jabbour, Professor adjunto da FCE/UERJ e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas (PPGCE) da UERJ. Autor do livro “China Hoje: Projeto Nacional, Desenvolvimento e Socialismo de Mercado”. | Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado
Receba a nossa newsletter
Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a Newsletter do Jornal Tornado. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.