Na Europa, os governos de coligação saídos de eleições legislativas ou parlamentares são bastante comuns. No caso de não resultar uma maioria absoluta parlamentar saída do sufrágio, nem sempre o partido ou coligação mais votados constituem governo. Os partidos seguintes na contagem dos votos podem coligar-se entre si, formando uma alternativa, a qual terá de ser sufragada pelo chefe de Estado do país em questão. No caso de Portugal, cabe ao Presidente da República aceitar a coligação de partidos que, no total, reúna o maior número de deputados eleitos para a Assembleia da República.
Uma pesquisa pelos sites informativos mostra três exemplos. Na Finlândia, entre 2011 e 2014, o executivo foi composto por seis partidos, com as seguintes distribuições de ministérios ou pastas: o Partido da Coligação Nacional (seis pastas), o Partido Social Democrata da Finlândia (seis pastas), a Aliança de Esquerda, a Aliança dos Verdes e o Partido Popular Sueco, cada um com duas pastas, e o Partido Democrata-Cristão com uma pasta. Uma coligação com um alargado espectro político da esquerda à direita liderada pelo primeiro-ministro Jyrki Katainen, do Partido da Coligação Nacional. Outro exemplo, vindo do norte da Europa, é o da Dinamarca: eleita com uma margem muito curta de distância em relação à desejada maioria absoluta, a primeira-ministra social-democrata Helle Thorning-Schmidt, primeira mulher a liderar um governo no país, teve de se coligar com os liberais e socialistas para formar governo. Apesar de várias polémicas internas e de uma remodelação governamental, o apoio dos socialistas dinamarqueses permitiu que continuasse no cargo. Em Junho deste ano, ocorreram novas eleições, e apesar do partido de Schmidt ter sido o mais votado, os partidos de direita passaram a ser maioritários no seu conjunto, levando a que a rainha Margarida (chefe de Estado) escolhesse para chefe de Governo o liberal Lars Rasmussen, que formou um executivo monopartidário de maioria relativa, com acordos pontuais estabelecidos com sociais-democratas e populares. A Dinamarca, aliás, é um caso peculiar: os governos resultantes de coligações minoritárias são bastante comuns. Desde 1909 que nenhum partido tem tido a maioria no Folketing (Parlamento dinamarquês), de acordo com o site oficial do país.
“Invulgar” é o adjectivo que se poderia atribuir ao caso da Bélgica: em 2010, o país ficou sem Governo durante 589 dias, e ao fim de intensas negociações, estabeleceu-se uma coligação de seis partidos que assumiu o Executivo. Recorde-se que, para além da clivagem entre esquerda e direita, o país tem outra, a francófona-flamenga. Em 2014, o primeiro-ministro empossado foi Charles Michel, do Movimento Reformador, a quinta força política mais votada no país. Nomeado pelo monarca Filipe da Bélgica, o novo chefe de Governo alcançou acordos com três outros partidos: Nova Aliança Flamenga, CD&V (democratas-cristãos) e Open VLD (liberais), tendo tomado posse como chefe do governo belga.
Bjorn Erik Rasch, docente de Ciências Políticas da Universidade de Oslo, versou uma das suas obras sobre a predominância de governos minoritários nos países da Escandinávia (com excepção da Islândia e da Finlândia, que têm um historial de maiorias absolutas, apenas interrompido no caso finlandês entre 2011 e 2014). Enfatizou dois factores para tal predominância: o facto destes países terem Parlamentos fortes (ou seja, os partidos da oposição possuem influência considerável) e sistemas com partidos centralizados e relativamente extensos. O académico sublinha que os governos minoritários estão associados a uma maior instabilidade política e governativa, no entanto, ainda está por demonstrar que os governos minoritários na região da Escandinávia sejam incapazes de exercer a governação. Acrescenta que se estes executivos forem “ao centro” e a oposição estiver ideologicamente separada, o executivo terá várias hipóteses de construir maiorias sob as suas propostas, enquanto que se a oposição se unir e confrontar em bloco o governo, a governação fica impossibilitada. Outra académica, a alemã Dorothea Keudel-Kaiser, da Universidade Europeia de Vladrina, em Frankfurt, também dissertou sobre o tema. A autora concluiu que as condições de formação de governos minoritários variam conforme estejamos na Europa Ocidental ou na Europa de Leste. Existem factores que influenciam o processo: nos países de Leste, são os factores de personalidade e a influência informal dos chefes de Estado. As posições políticas e a prática de “política de proximidade” parecem ter mais importância na Europa Ocidental, acrescenta a autora, que defende mais estudos de caso acerca destas temáticas.