Tal como era previsível o Parlamento Catalão declarou a Independência unilateral e Rajoy respondeu com a aplicação do artigo 155 da Constituição Espanhola, suspendeu a autonomia demitindo a Generalitat e dissolvendo o Parlamento Regional.Enfrentam-se aqui, mais uma vez, o passado e o futuro. Rajoy veste o avatar de Francisco Franco e prepara-se para assumir o controlo da região pela força e a marcação de eleições não passa de um gesto simbólico para “Europa ver” e dar uma ideia de legitimação democrática.
Como Rajoy optou pela via do legalismo farisaico para tentar resolver uma questão eminentemente política irá igualmente recorrer à força para implementar a sua decisão autoritária. Resta a dúvida sobre se será usada a força policial, própria para assuntos domésticos, ou a força militar, usada para assuntos internacionais e que a ser utilizada será de alguma forma um reconhecimento implícito da declaração de independência do território.
Há uma Europa velha, com estados velhos, políticos velhos e políticas ainda mais velhas. Esta Europa repousa numa organização burocrática, autofágica porque se alimenta de si própria para sobreviver. Um monstro cego e surdo cujo cérebro congelou na ideia da Europa da Geografia política herdada da 2.ª Guerra, baseada numa distribuição de esferas de influência marcadas pelos interesses das duas potências emergentes e dos seus maiores ou menores satélites para arranjos de conveniência.
O mapa da actual Europa evoca o quadrinho do Astérix onde um dos piratas se vangloria de ter feito “um grande o’ombo no costado” enquanto o capitão ao lado se lamenta: “já nem precisamos dos gauleses para nos cobrirmos de ridículo”. Assim estão os líderes dos actuais estados europeus, arquitectos de um edifício vazio por falta de inquilinos.
O mundo mudou. E a Catalunha poderá voltar a ser Espanhola. Mas nada será como dantes. O futuro da Europa é das regiões e não dos países. Não ver isto é não perceber que a terra se move.