“Celeste, a boneca com olhos cor de esperança ou a utopia mágica da menina que comia vegetais”
“Somos todos filhos da mesma história”
Delmar Maia Gonçalves
Depois da contagiante magia da obra “A Lua de N’Weti”, a mística poeta, contadora de histórias e artista plástica moçambicana Sónia Sultuane, que respira poesia por todos os poros, regressa inspirada e brinda-nos agora com este olhar de cheiro índico de trazer nova poesia marejante, para a eternidade, junto da fogueira ancestral.
Numa mensagem clara, transparente e cristalina com olhares da cor da esperança.
Se avó Celeste não existisse dificilmente haveria poesia da esperança em Joana que foi crescendo em tamanho e sabedoria com bênçãos divinas.
E aconteceu, então, magia neste encontro, disse-me a poeta da pérola do índico que adivinho com olhos doces cor de amêndoa.
E Joaninha, como carinhosamente lhe chamavam, que se tornou Joana ao mergulhar nos extensos e intensos compêndios e manuais de medicina, tornando-se médica para se ofertar dando continuidade prática aos seus valores ancestrais de generosidade e concretizar grandes e ambiciosas utopias e sonhos realizáveis, colocando beleza nas pessoas todas as vezes que as olhasse.
É esta menina que homenageia sua avó já cocuana construindo poesia despoluída ao chamar à sua boneca especial, inseparável amiga e cúmplice imaginária de Celeste.
Sem dúvida há poesia celestial imaculada nesta vitalização do objecto inanimado e lúdico fantasioso preferido da heroína.
Em Sónia Sultuane reproduz-se a fórmula dos velhos sobas africanos “Karingana wa karingana” e ela fá-lo com mestria e discrição decidindo desta forma inscrever-se no berço dos nomes escolhidos na árvore genealógica dos respeitáveis e “magnânimos” antepassados que navegam algures entre a ancestral África e a milenar Índia antiga.
Na verdade, da sua avó, Joana aprendeu que nos ventos do sul a fraternidade não é uma palavra vã, pois é um sentimento sempre grato e possível mesmo quando as paisagens circundantes são tão agrestes e nebulosas. Depois, todos sabemos que só os avós conhecem o velho segredo do cofre do tesouro mágico do abraço inocente, límpido e transparente das crianças.
É que quando elas nos abraçam derrama-se o rio polar dos nossos corações como um céu lavado na madrugada fresca por anjos de luz e todas as barreiras, fronteiras e muralhas desaparecem.
Suponho secretamente que Joana, tal como a poeta, partilham esse segredo do coração da avó Celeste, por isso quiseram ambas partilhá-lo com os menos afortunados, em especial as crianças da sua terra natal comum, através dos seus amplexos fraternos, francos e abertos que vão iluminando o sonhado Hospital Verde Esperança.
Bayete pois poeta – Contadora de Histórias, por tudo!
Receba a nossa newsletter
Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a Newsletter do Jornal Tornado. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.