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João de Sousa

Domingo, Dezembro 22, 2024

Cem dias?

Governantes eleitos e até opositores alegam que é preciso dar uma trégua no mínimo de cem dias para emitir críticas às novas gestões.

É a velha cantilena dos que não querem oposição e sim tranquilidade para impor suas medidas amargas, contra o povo e o país. Em cem dias já não há mais possibilidade de reverter muitas ações danosas e prejuízos já aprovados em lei, acordados com países.

Os vitoriosos receberam aval de maioria dos votos válidos, em muitos casos, abaixo dos 50% dos eleitores, mas a oposição também foi contemplada até com número expressivo. Portanto tem a obrigação de defender não só essa parcela, mas os interesses do povo e da nação. Ainda mais porque não houve debate e nem existiu possibilidade de se conhecer com maior profundidade as propostas do vencedor. Não se posicionar desde o início do anuncio das medidas seria omissão, capitulação ou traição.

Vamos analisar as principais ideias em debate e ou já propostas pelo governo eleito:

  1. A dita mais importante da Previdência, apresentada por Temer, derrotada, e agora piorada, pois Paulo Guedes já anunciou que vai apresentar uma proposta de capitalização nos bancos, onde o trabalhador depositaria o valor da contribuição para se aposentar no futuro. De onde sairia o dinheiro para pagar os que já são aposentados? Seria a privatização da previdência, quem ganharia seriam os bancos. No Chile, onde foi implantado esse sistema resultou em centenas de suicídios de aposentados e revoltas até hoje. 
  2. A facilitação de aquisição e posse de armas pela população, quando há poucos anos um plesbicito decidiu pelo recolhimento dessas armas, porque várias pesquisas demonstraram que ao invés de atenuar a violência, estaria aumentando o número de homicídios e crimes banais em discussões de transito e outros.
  3. A paralização da reforma agrária, e a transferência do Incra, do Ibama e da Funai para o Ministério da Agricultura, sob controle da bancada ruralista, da UDR e dos barões do agronegócio, vai melhorar a produção da agricultura familiar responsável por cerca de 70% dos alimentos presentes na mesa dos brasileiros? Vai reduzir o desmatamento? Vai melhorar o meio ambiente? Vai garantir a milenar e rica cultura Indígena, sobrevivente em um dos poucos países do mundo?
  4. Na educação, impor a censura nas escolas e universidades, privatizar e militarizar o sistema, vai melhorar o nível de ensino e propiciar o desenvolvimento tecnológico do Brasil?
  5. Cogitam também em aprovar a venda de 80% da Embraer pela bagatela de R$ 5,2 bilhões quando essa empresa tem cerca de R$ 22,4 bilhões para receber. Outros vários outros países desenvolvidos tem garantido em lei 50% das ações de suas empresas aéreas. Vai garantir a defesa, a soberania, o desenvolvimento aéreoespacial e o avanço tecnológico do país?
  6. Paulo Guedes (quem manda de fato no governo Bolsonaro) já anunciou que deverá implementar um programa de privatização arrojado, criando inclusive uma secretaria com status de ministério apenas para isso. E já falam em privatizar a Eletrobras, avaliada em R$ 400 bilhões por valores irrisórios, assim como a distribuição de combustíveis, as refinarias, os ricos poços de petróleo do pré-sal e até a Petrobras. Isso vai diminuir o custo dos combustíveis? Vai garantir o desenvolvimento do país? Aliás seria bom lembra-los que assim como a Embraer é a melhor empresa do mundo em fabricação de jatos de médio porte (por isso a Boeing a quer), a Petrobras, entre as 10 maiores do mundo, é a única capaz de extrair petróleo em águas profundas. 

Esse conjunto de medidas e outras em andamento fazem parte de uma velha política, agora potencializada pelo “super” Ministro da Economia e chamada de ultraliberal que aplicada na Grécia, na Espanha, no México, na Argentina, e também por Temer, só resultou em fracasso, desemprego, quebradeira de empresas e empobrecimento do país. Essa política jamais serviu aos trabalhadores, sequer à classe média, mas sim ao mercado, aos bancos, aos magnatas. Tanto que na última pesquisa do Datafolha, 60% dos brasileiros disseram ser contrários a esse modelo de privatização.
Por trás de tudo estão os velhos inimigos do povo e da nação, travestidos de novos, utilizando como sempre sofisticados métodos de enganação (como foi no próprio processo eleitoral), para sugar ao máximo as riquezas do nosso povo e do Brasil.

Alto lá, traidores do povo, vendilhões da pátria. Apesar dos arreganhos e ameaças, vai ter oposição, vai ter luta.


Por Aluísio Arruda, Jornalista, arquiteto e urbanista  | Texto em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado


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