CAMB completou nove anos
Situado no Palácio Anjos, em Algés, concelho de Oeiras, o Centro de Arte Manuel de Brito (CAMB) assinalou, no passado Domingo, 9 anos de portas abertas para o público. Em paralelo com ateliers para crianças, quem entrou naquele espaço cultural contou com uma visita guiada pela exposição “Os Artistas do KWY Na Colecção Manuel de Brito”, seguida de um concerto de jazz e bossa nova com o saxofonista Naná Sousa Dias e o pianista carioca Paulo Mattar. A guiar a visita esteve Arlete Alves da Silva, comissária da instituição e viúva do mecenas Manuel de Brito, divulgador da arte contemporânea portuguesa e mentor da Galeria 111, que conviveu com muitos dos artistas do grupo.
Entre 1958 e 1963, um grupo de artistas nacionais, fugidos do regime de Salazar e instalados em Paris, desenvolvem as suas obras absorvendo as influências do modernismo. Lourdes Castro, René Bertholo, João Vieira, José Escada, Costa Pinheiro, Gonçalo Duarte, o búlgaro Christo e o alemão Jan Voss rompem barreiras e alargam as fronteiras da arte.
Para Arlete Alves da Silva, comissária da exposição, o balanço não podia ser melhor. “Foi extremamente simpático. A maior parte destas pessoas que vieram são uma presença permanente em todas as nossas iniciativas”, confessou. “Mostrei as peças todas da colecção, que é maioritariamente portuguesa”, que data desde os anos de 1920 até à actualidade.
Recorda os primeiros tempos da Galeria 111, nascida em 1964, que apresentava ao público artistas que de outra forma não seriam conhecidos. “É sempre uma grande preocupação ajudar artistas novos”, sublinha Arlete Alves da Silva. Recordou as dificuldades dos membros deste grupo de vanguarda, que os levava a construir as suas obras a partir dos materiais mais inesperados: “O dinheiro era quase nulo. No fundo, isto é pop art: é deitar a mão ao que está perto. A Lurdes de Castro pintava tudo prateado, e já está! Imagine o que era os modernistas a pintar paisagens e a fazer retratos, e de repente aparecer um grupo com estas inovações”.
Os membros do KWY também ajudaram a divulgar Portugal além-fronteiras: “Sobretudo a Lurdes Castro, o René Bertholo e o Costa Pinheiro tiveram muita visibilidade nos anos 60, quer em França, quer na Alemanha”. Mas a aceitação num Portugal conservador foi complicada. “Quando eles expuseram na Sociedade de Belas Artes, foram insultados… mas o Almada Negreiros veio em defesa destas ideias novas… e isto como grupo na altura teve uma importância imensa!”, lembrou Arlete Alves da Silva.
A comissária sentiu como missão erguer o CAMB, já que o marido, Manuel de Brito, não viveu para ver o sonho concretizado: “Fui eu que pus o projecto a andar. O meu marido morreu faz hoje [29 de Novembro] dez anos”. “Ele tentou resistir à morte o mais possível porque queria ver este projecto realizado; infelizmente, não o conseguiu, e eu achei a melhor homenagem que se podia fazer era abrir o Centro no primeiro aniversário da sua morte”.
Sobre o Palácio Anjos e toda a sua envolvente, “o edifício foi adaptado para receber a colecção com um ‘corpo’ novo feito para esse efeito”, e acrescenta: “acho que ficou muito bem porque tem uma dimensão humana… as pessoas que chegam aqui visitam estas seis salas e não se cansam”. Sobre o trabalho até agora feito pelo CAMB, defende que “estamos a fazer um bom serviço na divulgação dos artistas portugueses, porque se formos a ver, em Lisboa não há museus de arte contemporânea com artistas portugueses”, sublinha.
Considera que “a maior parte das instituições culturais do país preocupam-se muito em divulgar artistas estrangeiros”. Foi graças a um protocolo entre a Galeria 111 e a Câmara Municipal de Oeiras que o CAMB se concretizou. “Tenho de prestar homenagem a Isaltino Morais, porque temos nove anos de Centro, mas vinte anos antes ele já tentava ter aqui a colecção no concelho de Oeiras, e a ele se devem todas estas iniciativas (arranjar um sítio digno para a colecção, fazer as obras)”, afirma a comissária.
Arlete Silva acredita ter conquistado o respeito da autarquia mas não esconde mais ambições, e algumas dificuldades pelo caminho.“Por exemplo, agora ando numa guerra porque vou fazer duas exposições em Abril, e uma é de artistas de Angola e Moçambique. E ando numa guerra para ter um catálogo”, uma condição fundamental para a responsável, porque acredita que o que fica são os catálogos. Apesar disso, em 2016, “vou fazer três exposições, e só tenho direito a dois catálogos”, por contingências financeiras, uma vez que o orçamento vem da Câmara Municipal.
Sobre a questão do mecenato, nunca existiu, e a responsável confessa que gostaria de ver surgir mecenas para o CAMB. A comissária deixou o convite para todos visitarem a exposição, que estará patente até 24 de Março de 2016, e revela que a entrada é gratuita para os alunos de escolas, os visitantes com mais de 65 anos, bem como aos Domingos à tarde.
Quando o TORNADO a questionou sobre o novo ministro da Cultura, a comissária confessou: “A ver vamos… o João Soares é um homem muito sensível para a literatura, ele próprio foi editor”, recordando que a mãe do agora ministro proporcionou uma educação “exemplar” ao nível literário e artístico. Mesmo assim, tem esperanças, “porque o João Soares é um homem do mundo, é um homem de causas, e espero bem que ele abrace a cultura com o mesmo entusiasmo com o mesmo entusiasmo com que abraçou os outros desafios”.
[…] cheia para ouvir Naná Sousa Dias, no saxofone, e Paulo Mattar, no piano. No âmbito do 9º aniversário do Centro de Arte Manuel de Brito , para além da visita guiada à exposição sobre o grupo KWY, houve espaço para o jazz e a […]