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Terça-feira, Dezembro 24, 2024

Cesina Bermudes

Helena Pato
Helena Pato
Antifascistas da Resistência

(1908 – 2001)

Uma mulher notável, com uma personalidade verdadeiramente diferente para o seu tempo, teve um papel importante na Resistência antifascista.

Médica de grande prestígio, ginecologista e obstetra, esteve na primeira linha da introdução em Portugal do método do “parto sem dor”, uma novidade nos anos cinquenta do séc. XX.

Decidiu ser médica aos 11 anos

Cesina Borges Adães Bermudes nasceu em Lisboa a 20 Maio de 1908 e faleceu a 9 Dezembro 2001. Conhecida como Cesina Bermudes, esta cidadã de cultura polifacetada, com grande prestígio na sociedade portuguesa do século XX, foi uma médica, obstetra, investigadora e feminista.

Era filha do escritor teatral e ensaísta Félix Bermudes[1]. Frequentou o Liceu Camões, sendo a única rapariga numa turma de quinze rapazes. Licenciou-se em Medicina, em 1933. Fez o Internato Geral em 1933/34 e o internato de cirurgia em 1937/38. Contou em entrevistas que decidira ser médica aos onze anos quando um tio materno, de nome Lacerda e Melo lhe falou do que era ser médico de aldeia e fazer visitas a gente pobre e sem cobrar nada. A figura desse tio seria o “João Semana” imortalizada pelo escritor Júlio Dinis, no livro, depois filme e série televisiva “As Pupilas do Sr. Reitor”. Cesina Bermudes depois de ser assistente na cadeira de Anatomia e Clínica Geral especializou-se em Obstetrícia.

Prestou provas de doutoramento em 1947, tendo obtido a nota de dezanove valores, mas o regime de Salazar não lhe permitiu fazer uma carreira de docente em medicina e foi professora de Puericultura nas escolas industriais. Em 1954 partiu para Paris para estudar o que de mais avançado havia quanto a partos.

Actividade política

Começou a ter consciência política nos anos quarenta, simpatizando nessa altura com o PCP. Na década de 40, desenvolveu intensa actividade política de oposição ao salazarismo. Em 1945 assinou as listas do MUD, subscrevendo a constituição no seu seio de uma Comissão de Mulheres. Envolveu-se, em 1948-1949, na campanha presidencial do General Norton de Matos, sendo uma das dirigentes da respectiva Comissão Eleitoral Feminina em Lisboa. Esteve, então, ao lado de Maria Lamas e de Aboim Inglês e discursou em vários comícios.

Juntamente com Ermelinda Cortesão e Luísa de Almeida, marcou presença na Assembleia de Delegados de 7 de Fevereiro, realizada no Centro Republicano António José de Almeida, em que se decidiu pela não ida às urnas daquele candidato.

Presa em 14 de Outubro de 1949, por integrar a Comissão Central do Movimento Nacional Democrático Feminino, e submetida a interrogatórios, ficou em prisão no Forte de Caxias, de onde foi libertada três meses depois, a 14 de Janeiro de 1950.

Em 1950, esteve envolvida na constituição do Comité Nacional de Defesa da Paz, juntamente com Maria Isabel Aboim Inglês, Maria Lamas e Virgínia Moura.

Aquando da trasladação dos restos mortais do antigo Presidente da República Manuel Teixeira-Gomes, em Outubro de 1950, marcou presença no cortejo fúnebre rumo ao cemitério de Portimão, um evento histórico que mobilizou centenas de oposicionistas.

Assinou, com Virgínia Moura, o documento comemorativo do 10.º aniversário do MUD (1955) e, em 1957, integrou, com as escritoras Maria Lígia Valente da Fonseca Severino e Natália Correia, a Comissão Cívica Eleitoral de Lisboa, uma iniciativa da Oposição com vista a intervir legalmente nas eleições que se avizinhavam.

Apoiou a candidatura de Arlindo Vicente e, depois, a do General Humberto Delgado. Posteriormente, deixou de ter visibilidade política para se manter disponível para a assistência médica a mulheres clandestinas do Partido Comunista Português, nomeadamente na ajuda a parturientes vivendo na clandestinidade.

Profissional respeitada

Cesina Bermudes foi uma das introdutoras das técnicas do «parto psicoprofilático» (parto sem dor) em Portugal, depois de ter estado em Paris, em 1954, num curso sobre aquele tema. Aí encontrou os médicos Joaquim Seabra-Dinis (1914-1996), Pedro Monjardino (1910-1969) e João dos Santos (1913-1987), a quem se juntaria naquela iniciativa que iria ter grande impacto na forma como o parto era até aí encarado.

Figura muito respeitada no meio médico, deixou vários textos dispersos por revistas médicas sobre a sua especialidade, de que se destacam “Bases Científicas do Parto sem Dor”, 1955 e “Notas Soltas sobre o Parto sem Dor”, 1957. Escrevia regularmente para o jornal República (1956).

Viveu praticamente sempre com o Pai, Félix Bermudes (terá estado casada apenas um dia).

Seguindo as pisadas do progenitor, pertenceu, desde 1927, à Sociedade Teosófica, onde desempenhou as funções de secretária-geral. Cesina Bermudes acreditava na reencarnação e era uma seguidora da alimentação vegetariana.

Desportista, foi campeã de natação e participou em corridas de bicicletas e de automóveis.

Concedeu, a 7 de Fevereiro de 2000, uma entrevista a Ilda Soares de Abreu e Maria Teresa Santos, publicada na revista Faces de Eva.

Faleceu a 9 de Dezembro de 2001, com 93 anos.

Cesina Bermudes com a irmã Clara Bermudes

Entrevista realizada a Cesina Bermudes por Ilda Soares de Abreu / Maria Teresa Santos (07 de Fevereiro de 2000)

Uma curiosidade: o Jornal República (matutino da Oposição), no dia 25 de Abril de 1956. …. E Cesina Bermudes escreve sobre o “parto sem dor”

[1] Félix Redondo Adães Bermudes (Porto, 1874 – Lisboa, 1960) foi um escritor e dramaturgo português, sendo um dos membros fundadores da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses, primeira designação da Sociedade Portuguesa de Autores; e foi seu presidente de 1928 até 1960, sucedendo no cargo a Júlio Dantas.

Grande desportista, praticou futebol, atletismo, ténis, ciclismo, tiro desportivo, esgrima, hipismo e natação, tendo sido presidente do Sport Lisboa e Benfica, durante alguns anos.

Dados biográficos:

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