Séculos, milénios mesmo (enfim, depende da forma de contar…) de luta pela sobrevivência e afirmação (quase sempre na posição do fraco frente ao forte) deram ao povo do território marítimo da fachada mais ocidental da península euro-asiática características muito específicas. A resiliência, a inteligência, a manha, o ‘sistema D’ e o humor são algumas dessas características. Sim, o humor… O humor tem sido uma componente decisiva desse ‘mix’. Dominique de Roux, esse enigma francês que adorava Portugal e o conhecia como poucos outros, dizia que “os Portugueses são os fenícios do Ocidente” (leiam ou releiam, do Dominique, o fabuloso “Quinto Império”, o melhor romance sobre o Portugal da segunda metade do século XX).
Nesse humor está incluída a capacidade de rir das nossas fraquezas, das nossas lacunas, dos nossos disparates (o que significa também que já as identificámos e que estamos, através do story telling da historieta e da anedota a divulgar o seu conhecimento…). É nesta perspectiva que destacado conhecedor dos nossos aparelhos de segurança nos fez chegar a estória que se segue, sobre “como chamar a polícia em Portugal”:
Para utilizar em caso de necessidade, sabe-se lá se um dia não nos acontece a nós… Aprendam como se faz!
Tenho um sono muito leve, e numa noite destas notei que havia alguém andando sorrateiramente no quintal de casa.
Levantei-me em silêncio e fiquei acompanhando os leves ruídos que vinham lá de fora, até ver uma silhueta passando pela janela do quarto.
Como a minha casa é muito segura, com alarme, grades nas janelas e trancas internas nas portas, não fiquei muito preocupado, mas era claro que eu não ia deixar um ladrão ali, vagueando tranquilamente.
Liguei baixinho para a polícia, informei sobre a situação e o meu endereço.
Perguntaram-me se o ladrão estava armado ou se já estava no interior da casa. Esclareci que não e disseram-me que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar, mas que iriam mandar alguém logo que fosse possível.
Um minuto depois liguei de novo e disse com a voz calma:
– “Eu liguei há pouco porque tinha alguém no meu quintal. Não precisam mais de ter pressa, porque eu já matei o ladrão com um tiro de pistola calibre 9 mm, que tenho guardada cá em casa, já há anos, para estas situações. O tiro fez um estrago danado no pobre diabo!”
Passados menos de três minutos, estavam na minha rua cinco carros da polícia, um carro do INEM, uma unidade de resgate, duas equipas da TVI, uma da SIC e um representante duma entidade de “direitos ómanos”.
Eles prenderam o ladrão, em flagrante, que ficou boquiaberto a olhar para tudo aquilo, que se estava a passar, com cara de parvo.
Deve até talvez ter pensado que aquela era a casa do Comandante Geral da PSP.
No meio do tumulto, o comissário encarregue da operação, aproximou-se de mim e disse-me:
– Pensei que tivesse dito que tinha morto o ladrão!
Ao que eu respondi:
– Pensei que tivesse dito que não havia nenhuma viatura disponível!
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