Charlene Mitchell, Ângela Davis e Kamala Harris são as mulheres que concorreram em eleições presidenciais – duas pelo Partido Comunista dos EUA e uma pelo Partido Democrata.
A escolha da senadora Kamala Harris, uma estadunidense progressista, filha de uma família de professores universitários – a mãe é indiana e o pai jamaicano – tem sido apontada como a primeira negra a ser candidata a vice-presidente nos EUA. Esta é uma verdade relativa – é preciso lembrar que ela é a primeira candidata por um partido grande e competitivo, o Partido Democrata, que tem chances reais de vencer em novembro. O que faria da senadora uma potencial candidata a presidente daqui a quatro anos em razão da idade avançada de Joe Biden, o candidato a presidente dos democratas.
Mas o exame da história das eleições presidenciais no último meio século, nos EUA, tira dela essa precedência. Em 1968 houve a candidatura a presidente de Charlene Mitchell; nas eleições de 1980 e 1984, Angela Davis foi candidata a vice-presidente. Ambas pelo Partido Comunista dos EUA. A pensadora e militante negra Angela Davis – que foi homenageada por John Lennon e Yoko Ono com a canção “Angela” – foi companheira de chapa Gus Hall, que era presidente do Partido Comunista dos EUA.
A comunista e militante negra Charlene Alexander Mitchell foi indicada, em 4 de julho de 1968, para concorrer à presidência pelo Partido Comunista, sendo assim a primeira mulher negra indicada para concorrer ao mais alto cargo político no país.
Charlene, que hoje tem 90 anos de idade, ainda milita no Comitê de Correspondência para a Democracia e o Socialismo, ligado ao PC-EUA.
Na campanha eleitoral, em 1968, pronunciou um discurso, reproduzido pelo jornal comunista “People´s World” – e também pelo portal do PCdoB – com palavras que poderiam ter sido ditas hoje, sobre a opressão dos negros, e a necessidade de união entre trabalhadores negros e brancos na luta contra o racismo e o capitalismo. Discurso que inicia dizendo “Fui comunista durante a maior parte da minha vida adulta. Entrei para o partido quando decidi que o sistema econômico que controla este país não só não pode resolver os problemas dos negros, como na verdade ajuda a evitar essa solução.” E termina com um apelo “aos meus irmãos e irmãs negros para considerarem a alternativa que o meu partido oferece. Se você concorda com todos ou a maioria dos nossos programas… se você deseja entrar nisso, inscreva-se”. Quando tinha 64 anos, em 1994, foi enviada à África do Sul como observadora oficial da primeira eleição democrática pós-apartheid – que elegeu Nelson Mandela para a presidência da República – e participar do congresso do Partido Comunista da África do Sul.
Charlene Mitchell ingressou no Partido Comunista dos EUA em 1946, quando tinha 16 anos de idade – e se tornou uma influente líder entre o final dos anos 1950 e os 1980.
Texto em português do Brasil
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