Na tarde de sábado, 31 de Outubro, teve lugar no Teatro Calderón, de Valladolid, a cerimónia de encerramento da 65ª edição da SEMINCI – Semana Internacional de Cinema.
Na tarde de sábado, 31 de Outubro, teve lugar no Teatro Calderón, de Valladolid, a cerimónia de encerramento da 65ª edição da SEMINCI – Semana Internacional de Cinema. Provavelmente com mais pessoas no palco do que na plateia.
O ‘estado de alarme’ e o ‘toque de queda’ em vigor em quase todas as comunidades do Estado Espanhol fizeram com que a sessão de proclamação dos vencedores e de entrega dos prémios, habitualmente realizada na última noite do festival tivesse, desta feita, que ser agendada para um horário nada comum.
Mas, tal como aconteceu durante todo o certame, a tudo a organização se adaptou e conseguiu levar até ao fim uma edição realizada em circunstâncias muito especiais.
‘Espiga de Ouro’ para filme húngaro da realizadora Lili Horvath
O vencedor da “Espiga de Ouro”, prémio para o melhor filme, foi “Preparações para estar juntos um período de tempo desconhecido” (poupamos a quem nos lê, o título original em húngaro), a estranha e intrigante história de uma neurocirurgiã húngara que trabalha nos Estados Unidos onde, num congresso, conhece um compatriota por quem se apaixona. Decide regressar a Budapeste ao encontro do ‘homem da sua vida’ mas aí chegada ele assegura não a conhecer de lado nenhum. Este é o ponto de partida para uma trama em que, espectador e protagonista, não sabem se estão a conhecer e viver uma história real ou se tudo é, afinal, um episódio de loucura ou de dupla personalidade.
Uma história de mistério, amor, loucura e valentia que tem como principal intérprete Natasa Stork, distinguida com o Prémio para a Melhor Actriz. Este é apenas o segundo filme de Lili Horvath, que também recebeu o Prémio Pilar Miró para o Melhor Novo Realizador. Curiosamente, a obra de estreia da cineasta data já de 2015 e esteve presente, nesse ano, na secção ‘Punto de Encuentro’ da 60ª SEMINCI.
‘Espiga de Prata’ para ‘Gaza mon Amour’, filme palestiano com produção portuguesa
Outro dos vencedores do festival foi ‘Gaza Mon Amour’, filme palestiniano dos irmãos Arab e Tarzan Nasser, também já repetentes da mostra de Valladolid. Candidato da Palestina aos Oscares de Hollywood, esta co-produção, que tem também participação portuguesa (Pandora da Cunha Telles) e foi parcialmente rodado no Algarve, conquistou a “Espiga de Prata” (segundo melhor filme do festival, na opinião do júri, é claro) tendo também conquistado Prémio ‘Miguel Delibes’ para o Melhor Argumento, da autoria dos realizadores e de Fadette Drouard. ‘Gaza Mon Amour’ é uma curiosa história de procura do amor, vivida por um pescador sexagenário, uma história que tem como pano de fundo as dificuldades do quotidiano da faixa de Gaza, e que é contada com humor, poesia e sentido crítico.
Outros prémios da secção oficial
O prémio (Ribera del Duero) para o melhor realizador foi atribuído, ex-aequo, a Aurel por ‘Josep’, um filme de animação centrado na vida do desenhador Josep Bartoli que, em 1939, esteve num campo de concentração francês onde se acoitaram republicanos espanhóis fugidos do golpe franquista e a Ivan Ostrovchovský por ‘Servants’ uma abordagem dura e austera das relações entre a Igreja Católica e o regime comunista, na Checoslováquia dos anos 60.
Shai Avivi, recebeu o Prémio para o Melhor Actor, pela sua interpretação no filme israelita “Here We Are” um interessante relato da relação de um pai que cuida do seu filho autista já no final da adolescência. O pai sente que o filho não está preparado para ir para uma instituição, mas é também o pai que não se sente em condições de suportar a separação.
‘There is no evil’, de Mohammad Rasoulof, vencedor do Festival de Berlim, conquistou em Valladolid a Menção Especial do Júri, Matthias Delvaux obteve o Prémio para a Melhor Fotografia pelo seu trabalho no filme chinês ‘The Cloud in Her Room’ e o Prémio para a Melhor Montagem foi para Vessela Martschewski em ‘Persion Lessons’.
O Prémio do Público, na secção oficial, foi para ‘Nowhere Special’, filme realizado na Irlanda pelo italiano Uberto Pasolini. Curiosamente, um trabalho com algumas semelhanças com o filme israelita antes referido. Aqui, é um pai ainda jovem, com uma doença que lhe dá pouco tempo de vida, que procura alguém que possa ficar com o seu filho que conta apenas 4 ou cinco anos de idade.
Os prémios das curtas-metragens da secção oficial
‘Espiga de Ouro’ e Melhor curta-metragem Europeia
“El Màrtir”, de Fernando Pumares (Espanha)
‘Espiga de Prata’
“I, Barnabé”, de Jean-François Levesque (Canadá)
Filme iraniano ‘A Regra dos 180 º ’ venceu na secção ‘Punto de Encuentro’
O cinema iraniano continua a destacar-se nos principais festivais de cinema. Para além de na secção oficial ter pontificado o filme de Rasoulof e também o muito interessante ‘Dashte khamoush’ (The Wasteland /La Tierra Baldía) de Ahmad Bahrami, em nossa opinião a grande omissão do palmarés, na secção ‘Punto de Encuentro’ brilhou ‘A Regra dos 180 º ’ de Farnoosh Samadi que obteve o prémio para a melhor longa-metragem. O realizador, já vencedor de duas ‘Espigas de Ouro’ de curta-metragem em edições anteriores da SEMINCI, faz neste filme um retrato da condição da mulher numa sociedade fortemente patriarcal.
‘Piedra Sola’ de Alejandro Tarraf (Argentina / México / Qatar / Reino Unido) recebeu uma menção especial.
O Prémio do Público desta secção foi, ex-aequo. Para ‘Eyimofe’ de Arie Esiri e Chuko Esiri (Nigéria / Estados Unidos) e ‘The Best is Yet to Come’ de Jing Wang’ (China).
‘Homilia Campesina’ de JR e Alice Rohrwacher (Itália / França) foi a melhor curta-metragem. E o prémio ‘La Noche del Corto Español’ foi para “Stanbrook” de Óscar Bernàcer.
Outros filmes do palmarés
O primeiro prémio da secção “Tiempo de Historia” foi para ‘Silencio Radio’ de Juliana Fanjul (Suíça/México) por, segundo o júri, “retratar uma jornalista imprescindível, que trabalha na busca da verdade para a sociedade mexicana desafiando dificuldades e ameaças”. O segundo prémio desta secção foi para ‘The Reason I Jump’ de Jerry Rothwell (Reino Unido / Estados Unidos). ‘Caperucita Roja’ de Tatiana Mazú González (Argentina) recebeu uma menção especial.
As curtas-metragens distinguidas em “Tiempo de História” foram, com o prémio da secção, “57 dias” de Mario Lumbreras e Laura Brasero (Espanha), o diário da luta pela sobrevivência de um doente ‘Covid-19’ ( no caso o pai do realizador) e ‘Huntsville Station’ de Jamie Meltzer e Chris Filippone (Estados Unidos) que recebeu uma menção especial.
Na secção ‘Doc. España’ o vencedor foi “Tierra de Leche y Miel” de Héctor Dominguez-Viguera, Gonzalo Recio e Carlos Mora. “El Niño de Fuego” de Ignacio Acconcia, recebeu uma menção especial.
De referir ainda os prémios seguintes:
- Espiga Verde – ‘Éxodo Climático’ de David Baute (Espanha)
- Espiga Arco-Iris – ‘The Night Train’ de Jerry Carlsson (Suécia)
- Prémio ‘Blogos de Oro’ – ‘There is no evil’ de Mohammad Rasoulof (Alemanha / Rep. Checa / Irão)
- Prémio ‘Castilla y León en Corto’ – ‘De Perfil’ de Alejandro Renedo. Menção especial para ‘Reflejo’ de Juan Carlos Mostaza
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