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Segunda-feira, Novembro 4, 2024

A China no palco da governança global

China
Fórum sobre Rota da Seda Marítima do Século 21 em Quanzhou

Sua implantação redesenhará uma vasta geografia interconectada por diversos tipos de infraestruturas que proporcionará novos padrões de desenvolvimento material e intercâmbios científicos e culturais.

Além disso, sinaliza o aprofundamento de um processo de mudanças em curso, em que a governança global passa a ser forçosamente compartilhada. A nova Rota deve consolidar o protagonismo chinês nas relações internacionais e alterar a dinâmica territorial, econômica, cultural e de comunicação do mundo inteiro, especialmente os espaços euro-afro-asiáticos.

Protagonismo chinês

O termo “Rota da Seda” foi criado pelo geógrafo alemão Ferdinand von Richthofen (1833-1905) para designar antigas ligações comerciais entre a Europa e a Ásia através de diferentes caminhos. Apesar de amplo, a poeticidade do conceito firmou-se no imaginário de um grande contingente humano, quer ocidental quer oriental. No entanto, coube ao presidente Xi Jinping o seu reavivamento, quando decidiu transformá-lo em uma das orientações centrais para o projeto chinês de inserção internacional.

Isso ocorreu em 2013. Precisamente nos dias 7 de setembro e 3 de outubro. Primeiro, no Cazaquistão. Em discurso em uma universidade da capital Astana, o presidente Xi tornava público um convite para a construção do Cinturão Econômico da Rota da Seda.

Evocando memórias dessa interconexão no passado, assim se expressava:

“Há mais de 2.100 anos, o emissário chinês Zhang Qian, da dinastia Han, visitou por duas vezes a Ásia Central em missão pacífica e amistosa, abrindo as portas para um intercâmbio amistoso entre a China e os países dessa região e inaugurando a Rota da Seda ligando o Oriente ao Ocidente e a Ásia à Europa (…). Essa história de intercâmbios com mais de 2.000 anos demonstra que nações de raças, crenças e culturas diferentes podem compartilhar a paz e o desenvolvimento com base na união e na confiança mútua, na igualdade e benefícios recíprocos, na inclusão e assimilação mútua, assim como na cooperação ganha-ganha. Isto é uma inspiração preciosa legada pela antiga Rota da Seda” – Construir juntos o Cinturão Econômico da Rota da Seda. Extrato do discurso pronunciado pelo presidente Xi Jinping na Universidade de Nazarbayev, em Astana, capital do Cazaquistão, em 7 de setembro de 2013.

Menos de um mês depois, desta vez na Indonésia, sua ideia era complementada com um convite às nações do Sudeste Asiático para a construção da Rota da Seda Marítima do Século 21.

Os referidos discursos podem ser lidos no livro “Xi Jinping. A Governança da China, Beijing: Foreign Language Press, 2014”.

Um Cinturão e uma Rota

A criação do “Cinturão Econômico da Rota da Seda” e da “Rota da Seda Marítima do Século 21”, comumente denominada por “Um Cinturão e uma Rota”, deve colocar em prática a visão chinesa sobre as relações internacionais, que valoriza as semelhanças ao invés das diferenças; e a produção e compartilhamento de benefícios, ao invés do controle e do atrofiamento das parcerias.

Por exemplo, a parte terrestre da Rota criará um novo dinamismo não só para os países que estarão por ela diretamente conectados, como os da Ásia Central e da Europa, isto é, cerca de 18. Ela impulsionará também o oeste chinês, criando novos polos de desenvolvimentos em províncias como Shaanxi (terra dos guerreiros e cavalos de terracota), Gansu, Qinghai e as regiões autônomas de Mongólia Interior, Ningxia e Xingjiang. E isto, claro, contribuirá decisivamente para o fortalecimento da China como um todo.

No caso da Rota marítima, uma extensão por água dos mesmos propósitos, sua abrangência poderá ser ainda maior, criando assim novas interconectividades entre a China e os países banhados pelo Índico e o Pacífico. Nesse sentido, uma nova perspectiva se abre para Macau, território culturalmente legitimado para uma conexão mais intensa com todo espaço lusófono, predominantemente arraigado no Atlântico.

Economia e geopolítica

Do ponto de vista econômico e geopolítico, a nova Rota abre uma oportunidade prática para que a China possa demonstrar ao mundo, e em especial aos países do seu entorno, que a sua atuação como grande potência não significará uma ameaça, mas sim uma oportunidade para um desenvolvimento conjunto, pacífico, harmonioso e amplamente favorável para todos.

A criação do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, assim como a intensificação das comunicações e das ligações terrestres, marítimas e aéreas ou mesmo a ampliação do comércio e dos intercâmbios culturais e acadêmicos são aspectos decorrentes dessa decisão estratégica.

Sob uma perspectiva mais profunda e duradoura, a Rota da Seda Marítima do Século 21 tende a servir também como base para uma integração mais harmoniosa de Estados e nações, fortalecendo as amizades e abrindo novas oportunidades para uma convivência mais feliz e pacífica entre povos e manifestações culturais muito diversas.

Aliás, isso está em consonância com uma visão profunda da cultura tradicional chinesa amplamente enraizada por toda a Ásia, de que somente com a harmonia se pode alcançar um ambiente pacífico duradouro, condição essencial para uma prosperidade material e espiritual de qualquer nação. Oxalá.

* José Medeiros da Silva  |  Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, professor na Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang, em Hangzhou, e pesquisador convidado do Instituto Internacional de Macau.

Texto original em português do Brasil

Nota do Director

Reproduzimos este artigo ao abrigo de um acordo de cooperação Portal Vermelho / Tornado.

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