Filha de Tommaso di Benvenuto Pisano, Christine de Pizan foi uma filósofa e poeta que nasceu em Veneza no ano de 1364.
Viveu, pois, na primeira metade do século XIV e toda a sua formação humana e intelectual decorreu na corte do rei Carlos V de França onde o seu pai exercia a actividade de médico e de alquimista. No ambiente humanista dessa corte aprendeu línguas, conheceu os clássicos, incorporando, assim, o espírito renascentista da época.
Na obra La Teología feminista en la historia Teresa Forcades considera-a a primeira escritora europeia. Com efeito, para sustentar a família (após a morte do marido que ocorre em 1390), Christine de Pizan dedica-se à literatura, compondo baladas, canções e poemas, num total de mais de 40 obras. Entre essas destaca-se o poema a Joana D`Arc, escrito no final da vida, no Mosteiro de Poissy para onde se tinha retirado. Antes, em 1404 tinha publicado Le livre de la cité des dames, estruturado em forma de debate e onde participam, para além da própria autora, três figuras femininas, Razão, Rectidão e Justiça.
A principal tese que defende nessa obra que é considerada por alguns autores como o primeiro tratado feminista, é a seguinte: se as mulheres tivessem a possibilidade de estudar como os homens, não existiria misoginia. A existência desta deve-se, em grande parte, ao facto de que as obras de autoridade ou de referência (para usar uma linguagem de hoje), não foram escritas por mulheres.
Podemos, então, afirmar que a defesa de uma educação igual para rapazes e para raparigas, assim como a contribuição das mulheres para a vida em sociedade, foram alguns dos eixos centrais da sua intervenção.
Participação em debates públicos
Para além desta dedicação à escrita, Christine de Pizan participava nos debates públicos onde se discutiam questões de política, de teologia, de literatura, mostrando coragem e capacidade intelectual para defender, com argumentos, as suas posições. Foi interveniente na primeira polémica literária francesa, com Jean de Meung, a propósito da obra deste Roman de la rose.
Toda a vida Christine de Pizan nos mostra que, ao contrário do que às vezes se pensa, as mulheres na Idade Média não se limitaram ao papel tradicional associado à função de maternidade e ao casamento. Pelo contrário, a realidade é muito mais diversa e complexa: professoras, médicas, copistas, encadernadoras foram alguns dos papéis sociais que desempenharam. Nalgumas situações assumiram cargos de poder, sendo rainhas ou abadessas; noutras, foram mártires. Não se dedicaram apenas aos doces conventuais: elas leram, pensaram, escreveram. Foram contemplativas e criativas.
Este legado que nos deixou Christine de Pizan, a importância do acesso das mulheres à educação e a sua intervenção no espaço público, parece hoje incrivelmente actual!