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Domingo, Novembro 3, 2024

Ciclos económicos – Parte I

Arnaldo Xarim
Arnaldo Xarim
Economista

Quando permanecem bem vivos os receios em torno de uma nova crise económica (sejam eles reais ou mero produto de interesses) não será descabido abordar aqui a questão dos ciclos económicos, teorias que não explicando cabalmente as origens das crises ajudam, seguramente, a melhor entender o problema e a compreender o que muito sobre ele se diz e escreve.

Associada à ideia da crise económica encontra-se o conceito de ciclo económico que mais não é que a alternância habitualmente registada entre períodos de crescimento e de contracção das economias. Mais que não seja a partir do aforismo que assegura que “após a tempestade vem a bonança…”, estamos há muito familiarizados com estas alternâncias.

Conceitos relacionados com os ciclos económicos

Quando falamos de ciclos económicos utilizamos vários conceitos necessários para os explicar, no entanto, para facilitar essa explicação, devemos começar por esclarecer alguns destes conceitos.

Assim, uma crise económica pode definir-se como uma ruptura no equilíbrio entre a oferta e a procura de bens e serviços que provoca uma depressão da conjuntura económica; a sua manifestação mais evidente é a queda da produção ou, pelo menos, uma forte redução da sua taxa de crescimento.

O desenvolvimento económico é um processo onde a receita nacional de uma qualquer economia aumenta durante um longo período de tempo; A receita nacional é o produto total de bens e serviços, expresso não em termos monetários, mas em termos reais, normalmente rectificada por um índice ajustado de preços de bens de consumo e bens de capital.

O Produto Interno Bruto (PIB) é um indicador muito utilizado na macroeconomia com o intuito de medir a actividade económica de um país ou região; traduz-se no somatório de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região (por exemplo: países, estados, cidades), durante um determinado período de tempo (por exemplo: mês, trimestre, ano).

O crescimento económico pode ser definido como o aumento sustentado, a longo prazo, da produção numa certa economia em resultado da conjugação de vários factores, como sejam o aumento da dimensão dos mercados interno e externo, o investimento de capital físico e humano e o progresso técnico; o crescimento, traduzido num aumento quantitativo da produção, cujas consequências serão o enriquecimento da nação diferencia-se do desenvolvimento por este pressupor a repercussão do aumento da riqueza sobre a qualidade de vida das pessoas e sobre todo o sistema social.

O que é um ciclo económico

Muitos especialistas concordam com a ideia que existe uma tendência de crescimento constante do Produto Interno Bruto (PIB) no longo prazo, mesmo que em prazos mais curtos se registem crescimentos e recessões, qualquer coisa como uma curva perpetuamente ascendente, mesmo que com uma ou outra quebra.

Sem concordar ou refutar esta ideia, aquele que é habitualmente apontado como o pai da teoria dos ciclos económicos, Nikolai Kondratiev (1892-1938), apresentou, com base na análise de séries cronológicas de preços no comércio por grosso americano e inglês entre 1790 e 1920, a ideia da existência de “ondas longas da conjuntura”, formulando assim a hipótese da existência de ciclos longos na dinâmica do capitalismo mundial e apontando a regularidade com que as economias de mercado se confrontam com sucessivas crises.

Outro contemporâneo de Kondratiev, o austríaco Joseph Shumpeter (1883-1950), antropólogo de formação e defensor da integração da economia com a sociologia, apresentou a sua “teoria do desenvolvimento económico”, onde considerava que as crises conjunturais não obedeciam apenas a factores externos, mas principalmente aos relacionadas com a actividade empresarial (o sistema de crédito e a tecnologia), que eram causas directas do desenvolvimento económico.

Schumpeter propôs ainda a definição das quatro fases para um ciclo económico:

boom ou prosperidade, crise ou recessão, depressão e retoma ou recuperação;

numa metodologia que ainda hoje utilizamos.

Classificação dos ciclos económicos

Ao longo dos tempos outras abordagens foram surgindo, sendo hoje comum distribuir os ciclos económicos segundo a sua duração, dando assim origem à seguinte classificação:

  1. Ciclos de Kitchin – 3 – 5 anos (curto prazo)
  2. Ciclos de Juglar – 6 – 10 anos
  3. Ciclos de Kuznets – 15-20 anos
  4. Ciclos de Kondratiev – 50 anos ou mais

Joseph Kitchin foi o primeiro economista a identificar ciclos de curta duração, que se deveriam a causas conjunturais aleatórias, próprias da evolução da actividade económica (variação da procura), logo directamente ligados aos processos de formação e gestão de stocks.

Clément Juglar (1819-1905), economista francês, verificou a existência de ciclos com uma duração média de 6 a 10 anos, dependentes das variações da procura e assemelham-se a ciclos de investimento com consequências sobre o PIB, o emprego e a inflação; neste ciclo, que se pode integrar nos ciclos longos, as fases de recessão são menos graves e mais curtas e as fases expansionistas são mais activas. Este tipo de ciclo era um padrão associado à economia britânica do século XIX.

O menos usual ciclo de Kuznets (1901-1985) resultou da observação de variações da actividade dos sectores da construção civil e dos transportes.

O ciclo de Kondratiev com uma duração superior a 50 anos está intimamente ligado ao processo das mudanças tecnológicas; as flutuações de longo prazo são características da economia capitalista e explicadas pela duração e o tempo de maturação dos equipamentos e do capital.


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