O diretor Karim Aïnouz, de A Vida Invisível, criticou nesta terça-feira (10) o veto à exibição de seu filme a servidores da Agência Nacional de Cinema (Ancine). Vencedor da mostra “Um Certo Olhar”, no Festival de Cannes, o longa é o representante brasileiro na disputa por uma vaga no Oscar 2020 na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. A censura à sua exibição partiu da nova secretária do Audiovisual – a ultradireitista Katiane Gouvêa, integrante da Cúpula Conservadora das Américas.
Em post no Facebook, Karim diz ter recebido com “pesar” a notícia de que A Vida Invisível não seria mais exibido aos funcionários da agência. “É triste testemunhar os desdobramentos de uma política tóxica e covarde, perpetrada por um governo catastrófico, que põe deliberadamente em xeque a cultura de um país tão abundante quanto o nosso”, escreveu.
Embora a censura seja mais um exemplo da série de retrocessos por que passa a cultura nacional sob o governo Jair Bolsonaro, Karim afirma que “as ameaças serão apenas ameaças” e prometeu não se intimidar. “Acredito, faço e continuarei fazendo de tudo para que a cultura circule à revelia dos que se apequenam e temem seu poder emancipador. Infelizmente já vi esse filme antes”, disparou o diretor.
Nesta segunda-feira (9), A Vida Invisível ficou de fora da lista final dos indicados ao Globo de Ouro. Mas o filme, embalado pela premiação em maio no Festival de Cannes, permanece na briga pelo Oscar, o principal prêmio do cinema mundial. “Ele faz parte de uma safra de filmes que estão servindo como prova inconteste de que o fomento à cultura tem frutos grandiosos. Os filmes nacionais lançados na última década têm tido uma belíssima trajetória nos festivais internacionais e nas bilheterias”, sintetizou Karim.
A seu ver, a ameaça do governo Bolsonaro contra o audiovisual brasileiro é “criminosa” – “não só nos termos da importância da indústria pujante que é o cinema nacional hoje, gerando milhares de empregos, mas também e, principalmente, se entendermos a importância crucial que a cultura exerce na sociedade”. O cineasta conclui: “cultura é o que nos possibilita acreditar na dignidade coletiva. Ela desarma o horror.”
Texto original em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado