Raízes negras, samba e batuque africano na música de Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte, cantada por Clara Nunes falam da formação do brasileiro a partir de três raças, o branco, o negro e o índio. Índios saqueados, negros sequestrados, todos escravizados pelo branco europeu. A resistência do quilombo, o extermínio indígena, o “soluçar de dor”, a histórica responsabilidade do branco europeu.
A opressão escancarada durou mais de 300 anos, e foi superada há pouco mais de 100 anos, não por questões humanitárias, mas sim pela necessidade de adequação à economia.
Sua superação, entretanto, com a abolição da escravidão articulada pela monarquia, não acabou com a mentalidade que sustentou tais relações por séculos. Nem tampouco significou a transformação da estrutura social, marginalizando, desta forma, o negro e o índio na chamada civilização europeia.
A música, desta forma, resgata a origem de um racismo recorrente, assassino, e, mesmo assim, tolerado e ignorado pelos poderes instituídos. Até quando?
Canto das Três Raças
Composição: Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte/1974
Intérprete: Clara Nunes
Ninguém ouviu
Um soluçar de dor
No canto do BrasilUm lamento triste
Sempre ecoou
Desde que o índio guerreiro
Foi pro cativeiro
E de lá cantouNegro entoou
Um canto de revolta pelos ares
No Quilombo dos Palmares
Onde se refugiouFora a luta dos Inconfidentes
Pela quebra das correntes
Nada adiantouE de guerra em paz
De paz em guerra
Todo o povo dessa terra
Quando pode cantar
Canta de dorE ecoa noite e dia
É ensurdecedor
Ai, mas que agonia
O canto do trabalhadorEsse canto que devia
Ser um canto de alegria
Soa apenas
Como um soluçar de dor
Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial Rádio Peão Brasil / Tornado