Quem tiver acesso à Netflix corre para assistir o filme belga Close (2022), de Lukas Dhont, diretor também de Girl (2018). A sensibilidade de Dhont transborda em uma direção que trata a emoção na medida certa, ao mostrar o relacionamento de dois meninos de 13 anos. Com interpretações brilhantes, Eden Dambrine faz Leo e Gustav De Waele, Rémi. Grandes amigos, até a perversidade da ideologia patriarcal entrar em cena.
Na escola os outros estudantes começam a questionar o relacionamento dos meninos, como se fossem um casal. Não eram e não teria nada demais se fossem, mas o filme apresenta, sem constrangimentos, como o machismo age sobre meninos e meninas para se transformarem em adultos em que homem não esboça ternura para outro homem. Isso cabe somente às mulheres.
Porque somos criados para socar, brigar e jamais chorar, ver meninas se abraçando, beijando, de mãos dadas é aceitável, mas meninos não podem. Essa questão fica muito clara em uma cena onde meninas perguntam-lhes se formam um casal, e um dos meninos responde que, assim colocado, “é igual perguntar se vocês são um casal porque estão muito próximas”, e a própria menina responde que isso, em relação a meninas, é diferente.
Essa discussão permeia toda a obra extremamente sensível, que leva os meninos ao rompimento em uma tragédia. Porque é muito complicado meninos terem intimidade afetuosa na sociedade onde deveriam ser ogros e não demonstrar sentimentos nunca. Muito menos trocar afetos em público. Porque homem, para ser homem, não pode ser afetuoso, principalmente com pessoas do mesmo sexo, sem que isso não implique homossexualidade. Assim somos criados e educados, e a perversidade cresce no mundo.
“Nós colocamos que intimidade é para ser desenvolvida no sexo e não na amizade. Então, eu sinto que as mulheres têm feito um trabalho muito melhor em estar intimamente presentes umas para as outras, também porque elas receberam esse espaço. Assim, talvez o desejo político para essa história tenha surgido desse tipo de prisma muito pessoal, armazenado na história de uma jovem amizade e como vivemos em um mundo que separa esses jovens”, disse Dhont em uma entrevista.
Isso mostra claramente a intenção muito bem trabalhada do filme. “Eu acho que a revolução pode ser suave. A gente tende a pensar que ela precisa ser dura e brutal, mas ela pode ser afetuosa. Por um longo tempo eu considerei minha própria ternura a minha fraqueza. Mas não considero mais”, explica o cineasta, quase numa repetição da famosa frase de Che Guevara: “há que endurecer, mas sem perder a ternura jamais”.
Sem mais spoilers, Close trata dessa masculinidade tóxica, onde o sentimento e a delicadeza não têm espaço. E de como a sociedade pressiona meninas e meninos a seguirem um padrão de feminilidade e masculinidade que servem ao capital, mas não à humanidade. Melhor sermos mais humanos e menos capitalistas, portanto. Afinal, masculinidade e virilidade são coisas muito diferentes.
Assista trailer oficial do filme:
Texto em português do Brasil