Cândido Portinari, um dos maiores artistas brasileiros do século XX retratou com grande emoção a cultura, a infância, as mazelas e as questões sociais do Brasil. Hoje, de novo, sob o olhar de Guilherme Antunes
“Pés disformes. Pés que podem contar uma história. Pés semelhantes aos mapas, com montes e vales, vincos como rios.
Quantas vezes, nas festas e bailes, no terreiro, que era oitenta centímetros mais alto do que o chão, os pés ficavam expostos e era divertimento de muitos apagar a brasa do cigarro nas brechas dos calcanhares sem que a pessoa sentisse”
Relato auto-biográfico escrito poucos anos antes da sua morte.
Nota da Edição
Cândido Portinari (1903-1962)
Companheiro de poetas, escritores, jornalistas, diplomatas, Portinari participou da elite intelectual brasileira em uma época em que se verificava uma notável mudança da atitude estética e na cultura do país.
Além de retratar as questões sociais de seu país, Portinari foi influenciado pelos movimentos artísticos da Europa como o Cubismo e o Surrealismo.
Grande admirador de Picasso, após conhecer a obra Guernica, as suas obras começaram a apresentar um carácter de denúncia das questões sociais do Brasil.
O seu interesse foi desde o início criar uma pintura baseada nos tipos brasileiros.
A escalada do nazi-fascismo e os horrores da guerra reforçaram o carácter social e trágico de sua obra, levando-o à produção das séries “Retirantes” e “Meninos de Brodowski”, entre 1944 e 1946, e à militância política, filiando-se no Partido Comunista Brasileiro e candidatando-se a deputado, em 1945, e a senador, em 1947.