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Sábado, Novembro 2, 2024

Colonialismo e luta anticolonial, de Domenico Losurdo

Leia o texto inédito, escrito por Caetano Veloso, para o livro “Colonialismo e luta anticolonial”, de Domenico Losurdo. A obra será lançada no dia 16 de novembro pela editora Boitempo.

A força do impacto dos textos de Losurdo sobre mim se deve a dois elementos diferentes mas interligados: a vinculação da luta comunista à questão colonial/racial e a retomada de uma visão realista das experiências de socialismo real quando estávamos todos como que hipnotizados pela verdade absoluta da superioridade moral e política do chamado mundo livre. A relação do projeto socialista com o enfrentamento da questão colonial não foi uma novidade em si: cresci num país que era classificado como subdesenvolvido e habitado por descendentes de colonizadores europeus, de nativos da terra e de negros africanos escravizados – e minha adolescência viu a revolução cubana e, depois, os levantes anti-coloniais na África. Mas, desde a volta do domínio do liberalismo econômico (“neoliberalismo”) nos países democráticos e da queda do império soviético e do Muro de Berlim, essa temática foi apagada.

A direita celebrava Pinochet, Thatcher, Reagan e os economistas de Chicago (herdeiros dos austríacos), enquanto a esquerda buscava purificar o marxismo (“a volta a Marx”) ou fazer malabarismos teóricos pós-estruturalistas. Sou um cantor e autor de música popular. Minha formação acadêmica tem mais lacunas do que continentes. Ouvindo algumas das suas canções de muitos anos atrás, Bob Dylan disse, impactado: “Você não canta canções como essas e leva uma vida normal.

Para ser forte assim numa área, você tem de ser bem fraco em outras.” Não me equiparo a Dylan ou Benjor ou Milton ou Djavan ou Lennon ou Elomar ou Raul ou… mas a concentração de energia para me pôr ao menos na periferia desse Olimpo reduz minha capacidade analítica a uma mini galáxia com muitos buracos negros. Não desisto, no entanto, de lutar pela clareza da minha mente.

Ter tido contato com os escritos de Losurdo me faz, mais do que aderir a um comunismo a um tempo frouxo e fechado, capaz de pesar as informações que circulam. Um prefeito comunista de Roma possibilitou o festival que uniu naquela cidade Dorival Caymmi, João Gilberto, Gilberto Gil, O Trio de Dodô e Osmar e este partícipe da indústria cultural que vos escreve. Pouco antes a mesma prefeitura tinha oferecido um concerto de Patti Smith: o Partido Comunista Italiano tinha um ar de heterodoxia. Pois bem, que fosse um italiano a me fazer pensar duas vezes, tanto na valoração histórica do liberalismo quanto no sentido profundo da minha formação negro-mestiça, anima-me a convidar jovens (e mesmo não jovens) leitores que querem pensar com autêntica independência a atentar para Losurdo, a cuja obra cheguei por sugestão do jovem Jones Manoel, organizador deste livro.

Ficha técnica

  • TítuloColonialismo e luta anticolonial: desafios da revolução no século XXI
  • Autor: Domenico Losurdo
  • Apresentação e organização: Jones Manoel
  • Tradução: Diego Silveira, Federico Losurdo, Giulio Gerosa, Marcos Aurélio da Silva, Maria Lucilia Ruy, Maryse Farhi, Modesto Florezano e Victor Neves
  • Prólogo: Caetano Veloso
  • Orelha: Marina Machado Gouvêia
  • Capa: Maikon Nery
  • Páginas: 216Preço: R$ 47,00
  • Formato (largura x altura): 16 x 23
  • ISBN: 978-65-5717-009-0
  • Editora: Boitempo
  • Disponível a partir de: 16 de novembro de 2020

por caetano Veloso, Cantor e compositor, é uma das principais referências da Música Popular Brasileira (MPB)  | Texto original em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado

Publicado em Le Monde Diplomatique Brasil

 

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