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Sábado, Novembro 2, 2024

Com morte de Moraes Moreira o Brasil perde uma das vozes pela delicadeza

Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Jornalista, assessor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

Os novos baianos jamais serão os mesmos. O Brasil perde o talento de Moraes Moreira, que morreu nesta segunda-feira (13), aos 72 anos, no Rio de Janeiro.

Moreira iniciou sua carreira no grupo Novos Baianos, que durou de 1969 a 1975. Além dele, integravam o grupo Baby Consuelo (hoje Baby do Brasil), Paulinho Boca de Cantor, Pepeu Gomes, Luiz Galvão e Dadi Carvalho.

Adeptos do movimento hippie, os Novos Baianos viveram como pensavam e pensavam como viveram, tendo em Moreira um dos seus grandes talentos. Em sua carreira solo continuou a mesclar sons talvez impensáveis com forte influência dos Beatles, João Gilberto, tropicalismo, samba e música regional baiana. Legou importantes obras para o cancioneiro popular, eternizadas na memória de quem ama música.

Provavelmente entre os últimos hippies do Brasil, Moreira fez de sua arte a sua vida sem ceder a qualquer tipo de modismo para o sucesso fácil. Acabou Chorare, parceria com Luiz Galvão, de 1972, está entre as pérolas da música popular brasileira.

Ouça Acabou Chorare, de Luiz Galvão e Moraes Moreira

Em Ferro na Boneca, de 1970, denuncia os perigos vividos nos tempos mais duros da ditadura fascista implantada em 1964, que durou até 1985.

“Não, não é uma estrada, é uma viagem
Tão, tão viva quanto a morte
Não tem sul nem norte
Nem passagem
Não olhe, ande
Olhe, olhe
O produto que há na bagagem”.

Mas ao falar em Mores Moreira, é impossível não vir à mente a canção Preta Pretinha, de 1972. “ai, ai saudade não venha me matar”, diz verso da poesia. Mais transparente impossível “enquanto corria a barca”.

Preta Pretinha, de Moraes Moreira

Sua obra inconfundível fica para a eternidade. Como ele disse numa entrevista anos atrás: “Nossas canções resistiram a tudo e a todos, dando mostras de que vieram para ficar. Passada a euforia dos sucessos imediatos, elas ressurgem gloriosas, no gogó dos foliões, inteiras e renovadas pela juventude. Reforçam assim um conceito que tenho: um bom Carnaval se faz com passado, presente e futuro”.

Pombo Correio (1977), de Moraes Moreira, Dodô e Osmar

Em meio à pandemia da Covid-19, o país chora essa triste lacuna que fica na música popular brasileira, mas tem a ciência de que suas obras jamais serão esquecidas. Toda obra que tem valor torna o seu autor um imortal. Esse é o caso de Moraes Moreira.

Porque “se a vida fosse o meu desejo, dar um beijo em teu sorriso, sem cansaço e o portão do paraíso é teu abraço, quando a fábrica apitar” (Pão e Poesia, Fausto Nilo e Moraes Moreira; 1981). Felicidade é ter contato com tantos diferentes talentos que tornam a vida mais fácil de se levar. Axé Moraes Moreira.

Pão e Poesia, Fausto Nilo e Moraes Moreira


Circula pela internet a poesia Quarentena, de Moraes Moreira, com um brinde à vida, à liberdade, ao sonho, ao futuro.

“Eu temo o coronavírus
E zelo por minha vida
Mas tenho medo de tiros
Também de bala perdida,
A nossa fé é vacina
O professor que me ensina
Será minha própria lida
Assombra-me a pandemia
Que agora domina o mundo
Mas tenho uma garantia
Não sou nenhum vagabundo,
Porque todo cidadão
Merece mais atenção
O sentimento é profundo
Eu não queria essa praga
Que não é mais do Egito
Não quero que ela traga
O mal que sempre eu evito,
Os males não são eternos
Pois os recursos modernos
Estão aí, acredito
De quem será esse lucro
Ou mesmo a teoria?
Detesto falar de estrupo
Eu gosto é de poesia,
Mas creio na consciência
E digo não violência
Toda noite e todo dia
Eu tenho medo do excesso
Que seja em qualquer sentido
Mas também do retrocesso
Que por aí escondido,
Às vezes é o que notamos
Passar o que já passamos
Jamais será esquecido
Até aceito a Policia
Mas quando muda de letra
E se transforma em milícia
Odeio essa mutreta,
Pra combater o que alarma
Só tenho mesmo uma arma
Que é a minha caneta
Com tanta coisa inda cismo…
Estão na ordem do dia
Eu digo não ao machismo
Também a misoginia,
Tem outros que eu não aceito
É o tal do preconceito
E as sombras da hipocrisia
As coisas já foram postas
Mas prevalecem os reles
Queremos sim ter respostas
Sobre as nossas Marielles,
Em meio a um mundo efêmero
Não é só questão de gênero
Nem de homens ou mulheres
O que vale é o ser humano
E sua dignidade
Vivemos num mundo insano
Queremos mais liberdade,
Pra que tudo isso mude
Certeza, ninguém se ilude
Não Tem tempo, nem idade”.

 


Texto em português do Brasil


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