Poema inédito de Beatriz Aquino
Como já disse o poeta
Como já disse o poeta,
hoje a tristeza não foi passageira.
Saiba que os encantos também desbotam.
E nossos olhos deixam de refletir o que por dentro sonhamos.
Decerto que o vento não nos foi favorável. Nossas embarcações seguem perdidas. Sem farol e sem cais.
E descobrimos que entre o canto das baleias e o choro das gaivotas não há muita distinção.
Ontem vi um por do sol bem bonito.
E rezei para que pudesse traduzi-lo em palavras.
Mas elas, assim como a vida,
não existem para servir aos nossos desejos.
Coragem poeta.
Agasalha-te da febre.
Anjos tristes anunciam que nossa hora agora é outra.
Nossos minutos serão contados por páginas e lembranças.
E seguiremos levados pelas ondas para o nosso indiscutível crepúsculo.
É isso.
Não digo mais.
Faz tempo que não escrevo poesia.
E essa aqui me chega como um mormaço preconizado.
Queria ainda o ardor dos profetas,
a altivez dos imberbes de medo e conhecimento.
Mas o tempo nos faz ser mais agasalho que brisa.
Não faz mal.
Navegar, navega-se. Mesmo que a esmo.
Chegar, chega-se. Desde que exista a coragem para chamar um lugar de seu.
No mais é essa comichão de sempre no peito.
Um rouca saudade na garganta,
e a velha vontade de eternizar o entardecer.