Sumo pontífice fechou o seu sexto ano no papado deixando clara a sua missão: transformar a maior religião do mundo.
por Yuri Ferreira, Hypeness
“Nós mudamos, a Igreja muda, a história muda, quando começamos a querer mudar – não os outros, mas a nós mesmos, fazendo da nossa vida um dom”, afirmou o Papa Francisco na última missa do ano de 2019, a tradicional Missa do Galo. O sumo pontífice fechou o seu sexto ano no papado deixando clara a sua missão: transformar a maior religião do mundo.
Papa Francisco representa, desde 2013, uma grande mudança nos caminhos do catolicismo. A Igreja vem, desde os anos 80, perdendo milhões de fiéis: seja para o neopetencostalismo, para o ateísmo ou para o Islão. O Vaticano tem uma crise institucional em frente, e Francisco foi a alternativa escolhida para salvar a religião.
Em 2013, Francisco substituiu Bento 16, após a estranha renúncia do antigo papa. Joseph Ratzinger representava a ala mais conservadora da Igreja: não era lá muito fã dos movimentos de libertação sexual e acreditava em um Vaticano de punhos cerrados. O endurecimento da instituição não surtiu o efeito: a evasão de fiéis para outras fés ainda se manteve durante seu papado e Bento renunciou, sendo o quarto papa da história a renunciar: o último foi Gregório 12, em 1415.
Francisco fazia parte de um outro pensamento teológico. Com raízes nas lutas de esquerda da América Latina durante as ditaduras que assolaram a região entre as décadas de 60 e 80, o papa tem um pensamento teológico mais aberto em comparação aos seus antecessores (incluindo aqui São João Paulo II). Francisco fez parte da Companhia de Jesus, mais conhecida como os Jesuítas, uma ordem da Igreja Católica mais preocupada com as desigualdades sociais do que com a parte de costumes.
As diferenças teológicas entre Joseph Ratzinger e Jorge Mario Bergoglio são muito bem tratadas no novo filme de Fernando Meirelles produzido pelo Netflix. Dois Papas trata das divergências teológicas e políticas dos dois pontífices no momento de transição entre os dois líderes do Vaticano. A obra, que foi muito bem recebida pela crítica, conta com Anthony Hopkins intepretando Bento e Jonathan Pryce na pele de Francisco. O obra de Fernando Meirelles está cotada para o Oscar de 2020.
Um dos motivos para a crise que levou Ratzinger a renúncia do Vaticano foram os escândalos de pedofilia e abuso sexual dentro do catolicismo. O tema voltou a aparecer durante o papado de Francisco, que cada vez mais tem tentado abrir a verdade nesse sentido. O papa já admitiu que o Vaticano submetia freiras à escravidão sexual e retirou o sigilo de casos de abuso sexual dentro.
Na Homilia da Missa do Galo deste ano, Francisco destacou que “Deus não ama você porque pensa certo e se comporta bem. Ele te ama, e isso basta!”, reiterando caráter misericordioso da Igreja. Esse tipo de fala é de bastante importância para comunidade LGBT. Em 2018, Bergoglio já havia feito história em uma fala sobre homossexualidade. “Juan Carlos, que você é gay não importa. Deus te fez assim e te ama assim, e eu não me importo. O papa te ama assim. Você precisa estar feliz com quem você é”, afirmou o papa a um fiel chileno.
Em maio deste ano, Francisco encontrou Raoni. Foi um marco para os direitos indígenas e um grande passo para uma importante mudança de rumo na Igreja em 2019: o Sínodo da Amazônia. Junto de diversos cardeais e bispos brasileiros, o Vaticano decidiu fazer alterações e concessões para os sacerdotes da Igreja que atuam na região amazônica, compreendendo que a função da Igreja no local é batalhar por sua preservação e pela preservação territorial da população indígena, valorizando as reservas contra o desmatamento.
Enquanto diversos setores do Catolicismo não acreditam no aquecimento global, Francisco reitera a importância da conservação da natureza, sendo aprovada no Sínodo a máxima de que “A conservação da terra é a conservação da vida”. Outro tema abordado na reunião foi o fim do celibato católico, podendo abrir a possibilidade de casamento aos sacerdotes da igreja.
Francisco intensificou suas mensagens políticas, acenando críticas aos governos de extrema-direita que se espalham pelo mundo. Em apelo à liberdade de imprensa, Francisco também se moveu em direção aos jornalistas e clamou pela profissão em maio deste ano: “A liberdade de imprensa e de expressão é um indicador importante do estado de saúde de um país. Não vamos esquecer que uma das primeiras coisas que ditaduras fazem é remover ou mascarar essa liberdade”.
Se a Igreja ainda possui posições retrógradas – como a proibição do aborto ou a renegação da homossexualidade –, Papa Francisco indica que ainda há esperanças para a maior religião do mundo se tornar mais fraterna e menos punitiva, com menos pecados e mais aceitação.
por Yuri Ferreira | Hypeness | Texto original em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado