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Domingo, Novembro 24, 2024

Como se combate o Covid 19 nos campos de refugiados Saharauis

Isabel Lourenço
Isabel Lourenço
Observadora Internacional e colaboradora de porunsaharalibre.org

Exilados desde 1975 no deserto da Argélia, na hamada (deserto da morte) de Tindouf, o povo Saharaui tem sobrevivido às mais diversas adversidades, a bombardeamentos com Napalm e Fosforo branco, a epidemias, à fome e sede e às intempéries, e conseguiu mesmo assim desenvolver um Estado e uma sociedade que enfrenta o exílio da forma mais extrema.

Perante o COVID 19 o governo Saharaui tomou medidas imediatas como campanhas de sensibilização, cancelamento de todos os eventos que estavam previstos nos próximos meses, o encerramento das escolas e desde a semana passada o confinamento rigoroso de todos os habitantes nas suas casas/tendas e desinfecção das ruas e edifícios públicos.

Durante 45 anos e sem nada as duas centenas de milhares de saharauis nos campos construíram o seu estado, adquiriram infraestruturas, equipamentos de saúde e educação, que apesar de rudimentares e com muitas falhas conseguiram alcançar um nível excepcional no contexto em que sobrevivem.

No entanto, não têm meios significativos para tratar efectivamente possíveis pessoas contaminadas.

Os funcionários do protocolo encarregados de acolher estrangeiros de maneira rápida e eficiente organizaram o repatriamento a Oran e Argel de todos os estrangeiros que estavam em missão nos campos. Em particular, os muitos jovens que participaram no fórum da juventude nos dias 12 e 13 de Março e que infelizmente não foi cancelado a tempo, mesmo assim houve muitas pessoas que tinham agendadas missões na mesma altura que tiveram o cuidado de anular, como é o caso de Nuno Abreu, de Braga, que se ia deslocar com uma equipa para realizar uma projecto educativo:

Decidimos adiar o projecto educativo e artístico que tínhamos planeado levar a cabo nos acampamentos saharauis em várias escolas e instituições, entre os dias 14 e 21 de Março, pois o risco de nos contaminar e contaminarmos o povo saharaui era elevado, e como sabemos, as condições de vida lá são duríssimas, pelo que seria injusto da nossa parte colocarmos em risco uma população que pela sua situação vive diariamente com imensos desafios a uma escala que poucos têm noção”

Até o momento, não há casos conhecidos de coronavírus.

As medidas preventivas que foram tomadas desde o início pela Comissão Nacional de Saúde são transmitidas e repetidas a cada hora pela televisão saharaui dos campos de refugiados, pela rádio, nos telefones e no WhatsApp.

Toda a população está confinada à sua Wilaya (equivalente a uma freguesia) e o movimento entre as Wilayas é proibido.

As estradas para Tindouf e Mauritânia estão fechadas. Os territórios libertados estão sob o controle do exército, que agora não só têm que velar pela segurança ao longo do muro de separação das tropas de ocupação marroquinas e as fronteiras, como têm que vigiar o trânsito de forma a evitar uma quebra das medidas de confinamento.

O suprimento de necessidades básicas é garantido com os parcos recursos existentes onde já em situação “normal” a ajuda humanitária é claramente insuficiente.

Segundo a informação dada pelos vários contactos com saharauis que vivem nos campos de refugiados toda a população está a observar as instruções preventivas.

O Ministério da Saúde da República Árabe Saharaui Democrática (RASD) confirma que até ao momento não há nenhum caso de coronavírus registado.

O Comité Nacional de Prevenção Saharaui também confirmou que “está em contacto diário” com os cidadãos através dos meios de comunicação social disponíveis entre eles as redes sociais.

Recomendações sobre a atenção à higiene pessoal e evitar o máximo contacto possível são regularmente divulgadas em todos esses meios de comunicação.

No Hospital Central em Rabuni, os saharauis estão a produzir Gel desinfectante para poder fazer face às necessidades das várias unidades de saúde.

Em relação aos territórios saharauis libertados, o governo sublinhou que “o Comité Nacional, em coordenação com as várias regiões militares, exorta todas as populações residentes nas zonas libertadas a respeitarem as medidas e a permanecerem no seu local de residência.”.

Colette Blais, da associação Enfants Réfugiés du Monde, confirma esta informação:

“Já não há viagens entre Tindouf e os campos estão canceladas. Já não há ligações aéreas para Tindouf. O Ministério da Saúde e todos os atores da saúde anteciparam esta situação, só podemos dar lhes os nossos Parabéns! Espero que o vírus não se desenvolva nos campos e nos territórios libertados e que não haverá casos graves, porque em termos de meios de atendimento nos campos não há ventiladores e meios necessários. E o hospital de Tindouf possui apenas alguns equipamentos “.

Do outro lado do Muro, os saharauis sob ocupação marroquina

Do outro lado do muro nos territórios ocupados por Marrocos, a situação é bem diferente. Reina o caos, a presença militar foi reforçada e há uma falta absoluta de prevenção.

Milhares de colonos marroquinos tentaram sair dos territórios ocupados e regressarem para o seu país (Marrocos). Perante esta fuga massiva o Reino de Marrocos não foi lento a actuar, enviou um enorme contingente para a zona, já de si repleta de forças de ocupação, para assegurar que nenhum colono mais saísse dos territórios ocupados.

Os saharauis que vivem sob ocupação são vitimas de um sistema de apartheid económico, social e politico e os cuidados de saúde são sempre muito deficitários e perigosos visto a negligencia médica intencional é o dia a dia que sofre esta população.

“Somos as cobaias, chamamos ao Hospital “o laboratório das experiências” o que fazem connosco não tem nada a ver com atenção médica” diz-nos um saharaui que contactamos, mas não é o único. O lento genocídio dos saharauis sob ocupação tem sido denunciado por todas as associações e activistas ao longo das últimas décadas.

Os presos políticos saharauis nas prisões marroquinas são outra preocupação, vitimas de Torturas e maus-tratos, subnutrição, em celas sem quaisquer condições de higiene, sobre-lotadas ou em isolamento são alvos fáceis para Marrocos e neste contexto estão em risco de vida ainda maior.

Perante a situação vivida pelo povo saharaui centenas de organizações, associações, políticos, jornalistas, e médicos e outras personalidades de vários países estão a apelar à ONU para que se protejam os saharauis assegurando a sua sobrevivência enquanto povo.



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