Enquanto tentava acertar algo com os meus botões, reparei que a minha filhinha de cinco anos, rabiscava descontraidamente um desenho que despertou a minha atenção e curiosidade, larguei os botões, ignorei todos os seus chamados e centrei-me naquela obra prima.
– Então filha explica-me bem o teu desenho, ele está muito lindo, mas não entendo do que se trata.
– Então mamã? Não vês que é um super-homem?
– Mas super-homem de saia?
– Não é uma saia mamã… é a sua capa.
– Capa cor-de-rosa?
– Ele tem muitas e hoje escolheu a rosa.
– Ok, e este cabelo filha?
– Ai mamã vê-se que não entendes nada de ser super… Mamã
– Mas no outro dia disseste, que eu era a mãe mais super do mundo filha?
– Sim mamã tu és super… presta atenção… todo super é super secretamente, e ninguém pode saber que ele é super, ele esconde o seu poder…
– Em uma capa cor-de-rosa!– Respondi com entusiasmo.
– Não mamã, está de peruca e a capa é para não ser reconhecido quando ele não está a ser super, porque ele também é filho de Deus e precisa de divertir-se com os amigos, ajudar e ensinar algumas coisas à sua mãe – Sorriu com superioridade de uma super.
Estava decidido precisava de uma capa com urgência, a minha identidade de super mãe e pai corria perigo… se não me apressasse em criar um disfarce todo o mundo saberia que sou eu a autora das repetidas orações nocturnas, sou eu a madrugadora que faz ruído pela casa enquanto os simples mortais dormem inocentemente, sonhando com neve em África ou chuva de morango no quintal, ninguém pode descobrir que a minha mente tem um super-poder de criar menus de sobrevivência, que eu sou um astro em matemática de racionalização e que a química é para mim o simples gesto de misturar arroz com feijão. Na física… calculo temperaturas com um simples toque de mão… e pratico arrefecimento com palavras (orações determinantes).
De repente pus-me a pensar na cor de uma capa para uma super mãe e pai desempregada, precisava esconder toda insónia do amanhecer, o desejo de ser e não ter, o desespero de querer e não poder… pois é! Mas a capa custa dinheiro (E o super-homem da Octavia tinha mais de uma) ainda estou a juntar o dinheiro dos uniformes escolares… Pronto, vou reforçar o batom vermelho cahombo e caprichar a maquilhagem, vou mascarar-me de uma simples mortal que sorri e quase nunca chora, pelo menos não em frente das pessoas.
Aquela mortal que quase nunca teve vontade de suicidar-se quando tudo parece não ter solução… que mesmo quando já tem fôlego corre e enfrenta.
A autora escreve em PT Angola