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Terça-feira, Novembro 5, 2024

Concha de Ouro para o norte-americano ‘The Disaster Artist’

José M. Bastos
José M. Bastos
Crítico de cinema

65.º Festival Internacional de Cinema de San SebastiánCom a cerimónia de entrega de prémios que teve lugar na noite de sábado no Grande Auditório do Kursaal terminou a 65ª edição do Zinemaldia/Festival Internacional de Cinema de San Sebastián do qual nos ocupámos nos últimos dias. Um Festival frouxo com um ou outro lampejo vindo sobretudo das secções paralelas e com uma secção oficial longa e com escassos motivos de interesse.

“The Disaster Artist”, de James Franco

O grande vencedor da mostra foi “The Disaster Artist” do norte-americano James Franco

“The Disaster Artist”, de James Franco

James Franco

Pode um trabalho que é a recriação do ‘making off’ de um filme tido como o ‘pior de todos os tempos’ – seja isso o que for – ser o vencedor de um importante festival de cinema? Pelos vistos a resposta é afirmativa.  “The Disaster Artist” parte de um filme de 2003, “The Room”, escrito, produzido, interpretado e dirigido por um tal Tommy Wiseau. Considerado por alguns como o ‘Citizen Kane dos filmes maus’, “The Room” converteu-se num filme de culto e continua a encher a encher as salas de cinema americanas, mais de uma década após a sua primeira exibição. James Franco resolveu agora encenar os antecedentes e a filmagem de “The Room”.

O resultado é “The Disaster Artist”, um filme divertido e cópia minuciosa do original como se pode ver no genérico final em que são passadas lado a lado cenas dos dois filmes. Alguma originalidade e diversão. Mas, e apesar do  fraco nível da maior parte dos filmes em concurso, o melhor da competição? Sim, para o júri presidido por John Malkovich. E são soberanas as decisões do júri…

Melhor realização e melhor actriz

Para o argentino ‘Alanis’ os prémios de melhor realização e melhor actriz

‘Alanis’, de Anahí Berneri

Anahí Berneri

Outro grande vencedor da mostra ‘donostiarra’ foi ‘Alanis’ da argentina Anahí Berneri que participou na competição pela terceira vez. Com tantos filmes em concurso, o nosso tempo não deu para ver tudo e este foi um dos que nos escapou.

Foram positivos, contudo, os comentários que ouvimos sobre esta obra que aborda a vida de uma mulher prostituta que, apesar de ter uma oportunidade para mudar de vida, tem dificuldade em deixar um mundo que, apesar de tudo, é o seu.

‘Alanis’ recebeu os prémios para a melhor realização, Anahí Berneri, e melhor actriz, Sofía Gala Castiglioni.

Melhor actriz: Sofía Gala Castiglioni

Melhor argumento

Romeno o melhor actor e argentino o melhor argumento

Melhor actor: Bogdan Dumitrach

Melhor argumento: Diego Lerman e María Meira

A Concha de Prata para o melhor actor foi para o romeno Bogdan Dumitrache que em ‘Pororoca’ de Constantin Popescu representa o papel de um pai que procura desesperadamente a sua pequena filha depois de esta ter desaparecido quando brincava num parque público. Um filme interessante, com um bom desempenho. O problema é, sobre este tema, termos objectos de comparação que deixam este trabalho a léguas. Referimo-nos obviamente a ‘Alice’ de Marco Martins, muito mais consistente e intenso, e à notável interpretação de Nuno Lopes.

O prémio do Melhor Argumento foi atribuído aos argentinos Diego Lerman e María Meira, por ‘Una Especie de Familia’, realizado pelo primeiro e que aborda a história de uma mulher que se envolve com uma rede de fornecimento de crianças para adopção e enfrenta vários obstáculos legais e morais quando pretende ficar com um bebé recém-nascido que previamente tinha ‘comprado’ à mãe biológica.

Prémio Especial do Júri

Prémio Especial do Júri para o basco ‘Handia’ e Melhor Fotografia para o alemão Der Hauptmann /O Capitão

Handia, de Aitor Arregi e Jon Garaño

‘Der Hauptmann /O Capitão’, de Robert Schwentke

Os bascos Aitor Arregi e Jon Garaño surpreenderam-nos em 2015 com ‘Loreak’ o primeiro filme basco a representar a Espanha na corrida ao Oscar para o Melhor Filme Estrangeiro. Desta vez trouxeram ao ‘Zinemaldia’ uma história baseada em factos reais, que começa no final da guerra ‘carlista’ e que conta a vida de um homem que vítima de doença se transforma num gigante e corre toda a Espanha e vários países da Europa onde é exibido como atracção de feira. ‘Handia’, assim se chama o filme pareceu-nos um trabalho particularmente desinteressante e muito longe da obra anterior dos seus autores. Não foi essa a opinião do júri que decidiu atribuir-lhe o seu Prémio Especial. Um filme basco no palmarés de um festival basco é uma situação sempre simpática…

Do alemão Robert Schwentke pudemos ver ‘Der Hauptmann /O Capitão’, um filme cuja acção decorre nos últimos meses da 2ª Guerra Mundial e do regime nazi, e que aborda a história de um jovem soldado desertor que encontra abandonada uma farda de capitão e vai reunir-se com outros desertores e formar uma brigada que vai prepertar crimes inenarráveis. Co-produção alemã-polaca e francesa, com participação de Paulo Branco, este filme foi, na nossa opinião, um dos grandes momentos da competição e o obteve o Prémio da Melhor Fotografia. Excelente, a preto e branco, e de Florian Ballhaus.  Um prémio de consolação para ‘Der Hauptmann /O Capitão’ que merecia algo mais.

Ausentes do palmarés ficaram muitos filmes menores, mas também outros que mereciam melhor sorte: ‘La Douleur’ de Emmanuel Finkiel, a cinematização do romance autobiográfico de Marguerite Duras passado no período da Paris ocupada na 2ª Guerra Mundial, com uma notável interpretação de Mélanie Thierry e, outro francês, dirigido pelo japonês Nobuhiro Suwa, ‘Le lion est mort ce soir’, com Jean-Pierre Láud e um grupo de crianças que protagonizam uma bela história de recordações, amor e cinefilia. Um filme dentro de um filme com um actor que deslumbrou San Sebastían há quase sessenta anos em ‘Les 400 Coups’ de François Truffaut. Voltou a fazê-lo agora, mas não conseguiu impressionar o júri.

Em próximo texto falaremos sobre outros premiados do festival.

  • Concha de Ouro para o Melhor Filme
    ‘The Disaster Artist’ de James Franco (EUA)
  • Prémio Especial do Júri
    ‘Handia’ de Aitor Arregi e Jon Garaño (Espanha)
  • Concha de Prata para a Melhor Realização
    Anahí Berneri com ‘Alanis’ (Argentina)
  • Concha de Prata para a Melhor Actriz
    Sofia Gala Castiglioni em ‘Alanis’ de Anahí Berneri (Argentina)
  • Concha de Prata para o Melhor Actror
    Bogdan Dumitrache em ‘Pororoca’ de Constantin Popescu (Roménia-França)
  • Prémio do Júri para o Melhor Argumento 
    Diego Lerman e María Meira por ‘Una Especie de Familia’ de Diego Lerman (Argentina-Brasil-Polónia- França)
  • Prémio do Júri para a Melhor Fotografia
    Florian Ballhaus em ‘Der Hauptmann/O Capitão’ de Robert Schwentke (Alemanha-França-Polónia)

 

 

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