No ensejo da votação do novo marco regulatório do saneamento, aprovado no Senado, que abre espaço para a privatização da água e do esgoto no País, vale a pena rever Conflito das Águas, filme de 2010, dirigido por Iciar Bollain.
Segundo informa a Agência Senado “O texto prorroga o prazo para o fim dos lixões, facilita a privatização de estatais do setor e extingue o modelo atual de contrato entre municípios e empresas estaduais de água e esgoto”.
No filme, a população de Cochabamba, Bolívia, também está às voltas com o processo de venda de todo o sistema hídrico a uma multinacional estadunidense, um fato real, que ocorreu em abril de 2000.
Naquele contexto, chega à cidade uma equipe espanhola para gravar um filme de época. O ambicioso projeto, que une o cético e pragmático produtor de cinema Costa e o jovem idealista cineasta Sebastián, é apresentar Cristóvão Colombo como um explorador obcecado por ouro e escravos.
Logo eles percebem a carência da população local que se amontoa para conseguir uma colocação no filme. O contraste entre a liturgia de fazer um cinema crítico e o movimento desesperado de uma população carente até mesmo do simples acesso à água se impõe.
O filme ressalta as diferenças entre os eloquentes jovens europeus e a América espanhola, expõe a hipocrisia de um discurso pretensamente engajado, mas mostra também aqueles que surpreendem com uma atitude solidária e humanitária quando a equipe se vê enredada nos protestos que deixaram a cidade ilhada durante vários dias, depois que a companhia norte-americana Bechtel tentou subir de maneira abusiva o preço da água.
Na vida real, após a pressão popular, a empresa abandonou o mercado boliviano, o contrato da água foi cancelado e foi instalada uma nova companhia sob o controle público.
Conflito das Águas deixa no ar a questão: a obsessão pelas riquezas naturais e o espírito colonizador são apenas atributos do nosso passado?
Assista o trailer de Conflito das Águas
Texto em português do Brasil
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