A CGD, um banco publico que ignora a sua missão, pois definiu os critérios de avaliação dos seus gestores apenas com base em objetivos financeiros, o que determinou que, entre 2017/2022, as remunerações totais da comissão executiva aumentassem 23,6% e as variáveis 72%, as dos trabalhadores aumentaram só 4,7% e a inflação 12,2%. Criou-se assim um conflito de interesses na CGD pois quanto maiores forem os lucros maiores serão as remunerações variáveis de Paulo Macedo e da comissão executiva e isso condiciona a gestão
Neste estudo analiso os critérios de avaliação do desempenho da comissão executiva da CGD, que são utilizados para fixar as suas remunerações variáveis, mostrando que os critérios utilizados, são financeiros, e não estão em consonância com a missão da CGD. Mostro que entre 2016 e 2017, as remunerações fixas dos membros da comissão executiva aumentaram 82% e que, entre 2017 e 2022, as suas remunerações variáveis cresceram 72% e as totais (fixas + variáveis) 23,6% , enquanto as remunerações da Tabela salarial dos trabalhadores da CGD aumentaram, em média, 4,7% apesar da inflação ser12,2%
Estudo
A CGD é um banco público, financiado com dinheiro dos contribuintes como aconteceu em 2016, em que tiveram de injetar mais de 3000 milhões € e, por isso, tem a missão de apoiar as famílias e as empresas e de promover o crescimento económico e o desenvolvimento do país, evidentemente sem pôr em risco a sua estabilidade e equilíbrio financeiro. No entanto, tudo isto foi pervertido com a definição de critérios apenas financeiros para avaliação dos seus gestores (comissão executiva) o que determinou que estes naturalmente, para aumentaram as suas remunerações variáveis, se preocupem em aumentar e em obter lucros enormes. Desta forma criou-se um verdadeiro conflito de interesses dentro da CGD pois a sua gestão acabou submetida a esse objetivo Para tornar isso claro vai-se começar por analisar o aumento das remunerações da comissão executiva da CGD presidida por Paulo Macedo entre 2017 e 2022 (2022 é último ano em que as “remunerações variáveis” dos gestores da CGD já foram aprovadas pelo acionista representado pelo governo; as de 2023 serão conhecidas aquando da aprovação das contas de 2024).
ENTRE 2017 E 2022, O AUMENTO MÉDIO DAS REMUNERAÇÕES TOTAIS DOS MEMBROS DA COMISSÃO EXECUTIVA DA CGD FOI DE 23,6% (a de Paulo Macedo subiu 26,1%) MAS O AUMENTO DAS REMUNERAÇÕES VARIÁVEIS ATINGIU 72%, ENQUANTO AS REMUNERAÇÕES DA TABELA SALARIAL DOS TRABALHADORES DA CGD AUMENTARAM, EM MÉDIA, APENAS 4,7%, EMBORA A INFLAÇÃO TENHA SUBIDO 12,2%
O quadro 1, construído com dados divulgados pela própria administração da CGD, nos seus relatórios e contas, mostra o enorme aumento das remunerações totais recebidas pelos membros da comissão executiva da CCGD entre 2017 e 2022.
Quadro 1 – O aumento das remunerações totais (base + variáveis) da comissão executiva da CGD entre 2017 e 2022
Entre 2017 e 2022, as remunerações totais (inclui as variáveis que embora digam respeito ao ano de atribuição são pagas de uma forma faseada num período de 6 anos, acumulando-se com as dos outros anos) aumentaram, em média .23,6% (a de Paulo Macedo subiu 26,1%) à custa de um enorme aumento das remunerações variáveis que passaram de 1,31 milhões € para 2,258 milhões €, ou seja, +72%. Interessa dizer, para que fique clara a desigualdade criada existente na CGD, que a remuneração total de Paulo Macedo em 2022 já era 67 vezes superior ao nível remuneratório mais baixo da tabela salarial da CGD que tinha trabalhadores em 2024 (nível 3 cuja remuneração fixa apenas 876€ em 2022). E isto quando as remunerações fixas da comissão executiva já tinham sido aumentadas, entre 2016 e 2017, em média em 73%. É esta comissão executiva e o seu presidente que tiveram estes aumentos que ofendem que recusaram, na ultima negociação no Ministério do Trabalho, uma proposta de medição apresentada pela técnica da DGERT que era a seguinte: (1) Aumento da remunerações em 3% com uma subida mínima de 70€; (2) O subsidio de refeição passaria a ser em 2025 de 13,5€; (3) “Inicio de negociações diretas com vista à contabilização de 4 anos de serviço aos trabalhadores e o consequente enquadramento dos trabalhadores abrangidos nos níveis salariais resultantes desta atualização, considerando que a evolução salarial dos trabalhadores da CGD permaneceu congelada , entre os anos 2013 e 2016 , situação que não se verificou para os restantes trabalhadores do setor da banca”.
Paulo Macedo recusou e abandonou as negociações e só aceitou um aumento médio das remunerações da Tabela salarial de apenas 2,5%, , e a subida do subsídio de refeição, entre 2023 e 2024, de 12,5€ para 13€ e, para 2025, fixou-o em 13,33€. Como cantava o saudoso Zeca Afonso “eles comem tudo e não deixam nada”. E isto é ainda mais verdadeiro quando se analisa o aumento da tabela salarial dos trabalhadores da CGD, entre 2017 e 2022, que consta do quadro 3.
Quadro 2 – Aumento das remunerações das tabelas dos trabalhadores da CGD entre 2017 e 2022 (a vermelho sublinhado a amarelo)
Entre 2017 e 2022, as remunerações fixas constantes da tabela salarial da CGD, que são as únicas que os trabalhadores podem considerar como certas, tiveram aumentos irrisórios. O primeiro nível em que existe um número significativo de trabalhadores (o nível 5) o aumento foi apenas de 7,9%, e a partir do nível 12 até ao nível 18E, as subidas das remunerações da tabela foram todas inferiores a 3%. E entre o início de 2017 e o fim de 2022 a inflação aumentou 12,2%. E isto não se resolve com prémios ou promoções aleatórias, dependentes da vontade e simpatia das chefias e da comissão executiva, como pretende fazer crer. Há uma questão de dignidade do trabalhador que devia ser respeitada nomeadamente num banco público que devia dar o exemplo, pois é com o esforço dos trabalhadores que a CGD pode cumprir a sua missão e obter resultados.
POR QUE RAZÃO OS ENORMES LUCROS INFLACIONAM AS REMUNERAÇÕES VÁRIÁVEIS DOS MEMBROS DA COMISSÃO EXECUTIVA E DETURPAM A MISSÃO DA CGD: uma definição de critérios de avaliação dos gestores inadequada e de elevado risco
A avaliação do desempenho dos membros da comissão executiva, que depois é utilizada para fixar as remunerações variáveis em numerário e em espécie (títulos) tem como base critérios quantitativos no quadro de apetência pelo risco, definidos pelo representante do acionista, que é o governo, e que constam por ex. da pág. 587 do relatório do governo societário, que faz parte do Relatório e contas da CGD de 2022. E esses critérios são os fundamentalmente os seguintes: a) Solvabilidade; b) Rentabilidade: compreende a ponderação da rentabilidade dos capitais próprios (ROE) e (RAROC), da rentabilidade do ativo e evolução da margem financeira; c) Eficiência (cost-to-income): rácio de custos sobre proveitos; d) quotas de mercado; e) Assunção de risco de crédito: rácios de Non-Performing e respetiva cobertura por imparidade e custo do risco; níveis de concentração de risco de crédito e evolução da carteira de imóveis obtidos por recuperação de crédito; f) Liquidez: rácio de transformação” Como rapidamente se conclui, todos eles são critérios financeiros de rentabilidade, ou seja, do aumento do lucro por cada unidade de capital, da redução de custos (incluindo redução de pessoal e fecho agências), de aumento dos lucros por meio da subida da margem financeira (aumento da diferença entre juros cobrados e juros pagos), de redução do risco e, consequentemente, de contração do crédito eliminando todo aquele que possa ser considerado de risco mais elevado, de redução do rácio de transformação, ou seja, da diminuição do numero de euros de credito concedido por cada 100€ de depósitos, redução dos créditos não produtivos, etc. etc. Tudo critérios essencialmente económicos e financeiros, o que tem levado a administração da CGD, para os cumprir a esmagar os salários dos trabalhadores, a aumentar as taxas de juros cobradas, a reduzir as taxas de juros pagas, a aplicar ou a manter comissões de gestão mesmo a pequenos depósitos, delapidando o capital pois não paga juros, a fechar centenas de agências e a reduzir milhares de trabalhadores, etc.
Tudo isto para reduzir custos, etc., e ignorando a missão da CGD (apoiar as empresas e famílias, garantir o acesso das populações do país, nomeadamente as do interior, a serviços bancários, dignificar e valorizar os seus trabalhadores, promover o crescimento económico e o desenvolvimento do país. E isto porque quanto maiores forem os lucros mais elevadas serão as remunerações variáveis dos membros da comissão executiva apesar delas terem aumentado, entre 2017/2022, em 72%.
A CGD TRANSFORMADA NUMA MÁQUINA PARA OBTER LUCROS ENORMES À CUSTA DOS SEUS TRABALHADORES, DEPOSITANTES, DEVEDORES E DO CRESCIMENTOO ECONÓMICO E DESENVOLVIMENTO DO PAÍS, E O CONFLITO DE INTERESSES NA CGD
O quadro 3 mostra mais uma vez na linguagem fria, mas objetiva dos números, da própria administração (relatórios e contas da CGD), os resultados da gestão de Paulo Macedo na CGD, condicionada pelos critérios incorretos e inadequados para um banco publico de avaliação e remuneração dos seus gestores, quando os critérios de avaliação dos membros da comissão executiva, nomeadamente do seu presidente, deviam estar em consonância com a missão da CGD já referida anteriormente, mas não estão.
Quadro 3 – Dados e rácios referentes ao período 2017/2023 que caraterizam a gestão de Paulo Macedo
A obsessão de obter resultados imediatos a curto prazo -LUCROS ENORMES – sacrificando a estratégia para a CGD a médio e longo prazo
Uma análise dos dados do quadro 3, da própria administração da CGD, permite ficar com uma ideia clara do tipo de gestão de Paulo Macedo. O 1º aspeto que a carateriza é a incapacidade que tem revelado para aumentar o crédito concedido pela CGD, o negócio por excelência de um banco como a “Caixa” pois, entre 2017 e 2023, reduziu-se em 5,1%, tendo passado de 53255 milhões € para apenas 50529 milhões €, o que significa que a CGD perdeu quota de mercado em benefício de bancos privados controlados por estrangeiros (a nível de contas individuais estagnou: 2017: 48072M€; 2023:48244M€). A confirma também isso a forte queda no rácio de transformação- Em 2017, por cada 100€ de recursos captados aos clientes emprestava 84€ e, em 2023, apenas 63€ perdendo quota de mercado crédito (entre 2017 e 2023, diminuiu de 20% para 17% em beneficio da banca privada controlada por estrangeiros). A CGD não está a cumprir amissão de promover a economia e o desenvolvimento do país.
Apesar da redução do crédito concedido, os juros cobrados pela CGD aumentaram, entre 2017/2023, em 53,6%. Embora estes juros possam incluir juros de ativos financeiros, no entanto eles revelam um enorme esmagamento dos devedores pelo crédito concedido pela CGD. Outro aspeto importante que carateriza a gestão de Paulo Macedo é o facto dos recursos captados aos clientes terem aumentado, entre 2017/2023, 26,8%, pois passaram de 63631 milhões € para 80683 milhões €, com os quais a CGD financiou, em 2023, 81,3% do seu Ativo Total, mas os juros pagos terem diminuído, no mesmo período, em 40,8%, pois passaram 1241 milhões € para 735 milhões €. Pode-se dizer com propriedade que os lucros enormes obtidos pela CGD, de que se gaba Paulo Macedo, foram fundamentalmente à custa de uma sobre-exploração dos depositantes e dos devedores do reduzido crédito concedido pela CGD. E entre 2017/2023, o “cost-to-income” ou seja, os custos de estrutura (inclui pessoal, administrativos e amortizações) em percentagem do Produto Global da Atividade diminuiu de 56,1% para apenas 30%, e se considerarmos apenas os custos de pessoal em percentagem do Produto Global da Atividade a queda é muito mais drástica; diminuiu de 33,5% para apenas 17,4%, ou seja, para quase metade. A destruição da CGD é impressionante. Entre 2017 e 2023, as comissões cobradas aos clientes, incluindo a pequenos depositantes , aumentaram de590 milhões para 756 milhões € (+22,6%). Para grande agrado da comissão executiva (maiores remunerações variáveis), e dos governos (mais dividendos ) os lucros, entre 2017 e 2023, aumentaram de 52 milhões € para 1291 milhões € (24,8 vezes) E a festa vai continuar em 2024 pois os lucros são superiores aos de 2023 Que os leitores tirem as suas conclusões sobre “o líder empresarial com melhor reputação em Portugal” (Executive Digest de 23/1/2025).