Poema inédito de Beatriz Aquino
Conheceram-se no parque
Conheceram-se no parque.
Pequenos e desavisados.
Imberbes de culpa.
– tempo bom da vida –E entre jogos,
corridas e apostas,
aprenderam a dar as mãos.E ali cesceram.
Sempre inclinados
um ao outro.
O riso farto na relva verde.
O hálito cheio de uma febre fresca e inocente.Ria-se ela das mudanças nele.
Os pelos no rosto,
os ombros largos,
o queixo imponente.
Coisas que ela evitava olhar demoradamente.
Visto que tal exercício lhe causava vertigens.
Palavra que ela só aprendeu depois.Maravilha-se ele que nela despertassem formas e gestos
sempre doces e inéditos.
Coisa que ela nem percebia.Cresciam aos olhos um do outro sem saber que ali faziam história.
E por isso eram felizes.E de tanto dividirem os jogos
e a gangorra da vida,
a infância, a adolescencia
e o quase início da fase adulta,
decidiram dar o passe adiante.
Natural aos seus pés que só conheciam e só queriam aquele caminho.E ao recebê-la assim tão trêmula e decidida, tão à ele
quanto ele era à ela,
tomou o que lhe era por mérito e direito.E antes de nela se debruçar por completo,
deixou escapar,
em voz rouca e emocionada:“És um paraíso inteiro…”
Receba a nossa newsletter
Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a Newsletter do Jornal Tornado. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.