Na sexta-feira (21), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou que seu país sairá do Acordo sobre Armas Nucleares de alcance Intermediário, assinado em 1987 entre o então presidente dos EUA Ronald Reagan, e o ex-presidente da URSS, Mikhail Gorbatchev.
Naquela ocasião, poucos anos antes da Queda do Muro de Berlim em 1989, este acordo – que prescrevia a destruição de mais de 800 armas balísticas americanas e outras 1800 armas soviéticas de mesmo porte – foi considerado histórico no processo de desarmamento no final da Guerra Fria.
Esta atitude do governo Trump é mais uma ação unilateral contra as conquistas internacionais alcançadas no sentido da paz e da prosperidade dos povos no passado. E esta retirada dos EUA de acordos bilaterais e multilaterais se junta à saída americana do Acordo de Paris sobre o aquecimento Global, e a saída do Acordo Multilateral sobre a questão nuclear com o Irão. Além disso há a convicção que esta tomada de posição também tem uma componente doméstica já que tira o foco das atenções mundiais em torno do assassinato covarde do jornalista Jamal Khashoggi, dentro da sede da embaixada da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia.
Num primeiro momento Trump criticou o fato, dizendo que Riad deveria dar explicações convincentes a respeito do ocorrido, mas depois veio a público dizer que não poderia tomar medidas de sanção ao país árabe – por exemplo, cancelando vultosos acordos de vendas de armas com um dos maiores produtores de petróleo do mundo – com o argumento de que seriam centenas de bilhões de dólares e empregos de americanos perdidos se não concretizar o negócio. Tudo leva a crer que os EUA irão aceitar desculpas do atual herdeiro do trono saudita, Mohamed bin Salman.
A iniciativa americana deste final de semana se enquadra, no entanto, dentro de uma série de ações que vem sendo tomadas pelo governo estadunidense que levanta dúvidas sobre os compromissos com a segurança internacional de seus aliados europeus. Na verdade, os EUA vão perdendo, passo a passo, a sua liderança mundial de manter um sistema multilateral de comércio e de segurança que sempre serviu a seus interesses estratégicos. Ninguém se ilude que a consigna “America First” sempre esteve por trás das ações americanas na montagem do sistema que passou a vigorar no pós Segunda Guerra Mundial. A grande questão é que foram se construindo novos polos de poder regional global – como os BRICS, a ASEAN, o Mercosul, entre outros – que de alguma forma contestam a unipolaridade e o hegemonismo existente nas últimas décadas capitaneados pelos Estados Unidos.
Diante desta nova política do governo Trump, os maiores aliados dos EUA no mundo estão mostrando disposição de ocupar suas responsabilidades na defesa da Ordem Liberal no Planeta Terra, segundo vários estudiosos das Relações Internacionais. A França, a Itália, a Grã Bretanha, a Alemanha e a União Europeia como um todo, a Austrália, o Japão e a Coréia do Sul, na Ásia, e o Canadá na América do Norte,vão se estruturando num grupo dos G-9 que estabece como metas: a) Manter as Regras e a Ordem Global; b) Cada um dos membros do G-9 deverá aumentar suas responsabilidades globais; c) Todos os membros serão capazes de assim agirem desde que trabalhem em conjunto; d) Cooperação econômica é um bom passo neste objetivo, criando alternativas para as questões comerciais; e) Da mesma forma a cooperação militar e investimentos em defesa são necessários para substituir os aportes americanos por exemplo na OTAN; f) Estabelecer as bases para uma nova Ordem Global mais estável e duradoura.
Na esfera comercial, logo no primeiro dia de seu mandato em 2017, Donald Trump se retirou do Tratado de Parceria Trans-Pacífico; adotou medidas protecionistas nas relações comerciais com vários países, especialmente com a China; questionou os valores e a utilidade da ONU, e não tem se mostrado interessado em revigorar a Ordem atual baseada em regras internacionais. Ataca ferozmente a Organização Mundial do Comércio e procura se retirar do sistema de Resolução de Controvérsias criado para resolver problemas comerciais concretos.
Trump prefere a competição à cooperação, dentro de sua ótica de negócios desde os tempos de seu programa de TV “O Aprendiz”. Ele prefere um mundo onde os mais fortes tenham a liberdade para agir como quiserem. Desta maneira os EUA se afastam de seus aliados históricos. O Ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Mass declarou recentemente que “se unimos nossas forças (referindo-se ao grupo dos G-9) poderemos nos tornar “criadores de regras” que poderiam desenhar e conduzir uma Ordem Internacional que necessitamos urgentemente”.
Por Pedro Oliveira, Jornalista e Secretário-Geral da Associação de Amizade Brasil-Vietnã (Abraviet) | Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV (I21) / Tornado
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