Clinton é acusada de ter recebido um total de mais de 4,5 milhões de dólares de pessoas e entidades ligadas a essa indústria. A antiga primeira-dama do país insistiu que apenas recebeu 330 mil dólares de pessoas que trabalham para empresas de combustíveis, cerca de 0,2% do total angariado pela sua campanha.
A pré-candidata à Casa Branca (as eleições primárias nos EUA são o que determina a escolha do candidato presidencial, tanto pelo Partido Democrata como pelo Partido Republicano) foi confrontada por uma activista do Greenpeace, Eva Resnick-Day, quando se encontrava num comício na State University de Nova York na passada semana. A activista interpelou Hillary Clinton e perguntou-lhe se ia rejeitar fundos provenientes da indústria de combustíveis fósseis na sua campanha; Clinton, visivelmente agastada, afirmou: “Eu tenho dinheiro de pessoas que trabalham para companhias petrolíferas. Estou tão farta da campanha de Sanders mentir sobre mim! Estou farta disto!”, exclamou.
A propósito desta questão, a organização cívica Democracy Now convidou para comentar o assunto Charlie Cray, especialista e investigador da Greenpeace que descobriu as contribuições para a campanha de Hillary Clinton, e Eva Resnick-Day, a activista que confrontou a candidata.
Charlie Cray afirmou que existem 58 lobbystas, dos quais onze trabalham directamente para a indústria, e os restantes estão ligados a indústrias do gás e do carvão. O grupo de onze dos 58 lobbystas tem reunido dinheiro para a campanha. “O total das contribuições directas e do dinheiro arrecadado chega a quase 1,5 milhões de dólares”, revelou. Bernie Sanders recebeu desta fonte uma contribuição de 50 mil dólares, e a maioria do dinheiro, tal como no caso da campanha de Clinton, vem de funcionários. “O desafio que apresentamos a todos os candidatos é que parem de receber contribuições de executivos de topo, lobbystas e companhias. Os executivos de topo são um aspecto que pode distinguir Clinton de Sanders, e claro, os lobbystas também”, defendeu o representante da Greenpeace.
Contribuições da indústria petrolífera atingem (quase) todos os candidatos
“Os republicanos já receberam muito mais dinheiro”, admitiu Cray, que acrescentou: “isto não é um enigma. Quase todos, exceptuando John Kasich, negam as alterações climáticas”, acusou o comentador. Quando confrontado com uma crítica do Washington Post ao trabalho que realizou, pondo em causa a veracidade dos factos apresentados, o investigador diz que se de facto as contribuições dos funcionários são uma percentagem tão pequena das contribuições, que “parem de aceitar mais alguma. Em 2008, ela criticou o então candidato Obama por aceitar dinheiro dessa indústria”, lembrou Cray, que acrescentou: “em 2008 e 2012, o próprio Obama não aceitou qualquer dinheiro de qualquer lobbysta, e agora vemos Clinton basicamente a voltar a maus hábitos e a aceitar dinheiro de lobbystas de qualquer tipo”.
Apesar disso, o investigador admite que Clinton já tomou “muito boas posições” sobre o clima e que prometeu regular a indústria de extracção de gás. “Muitos desses regulamentos teriam de passar pelo Congresso, e se aceitam dinheiro de, por exemplo, Pharma e da indústria de petróleo e gás, a Pharma não vai fazer pressão sobre legislação de extracção. Mas os lobbys da indústria de gás vão”, alertou Cray.
A campanha de Clinton alegou que não conseguia controlar todas as contribuições; sobre isso, o membro da Greenpeace confirma que legalmente não podem, mas que podem “mandar um sinal”, porque se trata de uma “questão de liderança e de que se ela quer ou não prometer que não irá aceitar qualquer contribuição da indústria para demonstrar a sua sinceridade sobre as muitas e boas políticas que prometeu levar a cabo se fosse eleita”.
Clinton insultou os ambientalistas, acusa activista
Hillary Clinton chegou a dizer que os jovens activistas a favor do ambiente “não faziam a sua própria investigação”, insinuando que não sabiam o que estavam a fazer. Eva Resnick-Day disse: “sinto-me insultada porque Clinton chamou a todos os ambientalistas ‘jovens não preparados‘. Nós fizemos a nossa própria investigação e por isso é que temos tanto medo do futuro”, confessou. Citou um relatório que aponta em 400 mil as mortes anuais devidas às alterações climáticas, a enfrentar a fome por causa de enchentes e a serem deslocados das suas casas por causa do crescente nível do mar. “Os cientistas dizem que temos metade do tempo que julgávamos ter para reverter as alterações climáticas, antes de chegar ao ponto de ruptura. E por causa disso, a geração jovem, que vai ter de herdar e lidar com o problema está incrivelmente preocupada. O que acontecer nos próximos quatro ou oito anos pode determinar o futuro do nosso planeta e da espécie humana. E é por isso que fazemos as perguntas difíceis a todos os candidatos”, frisou a activista.
Sanders defende-se das acusações de Clinton
Recorde-se que a pré-candidata democrata Hillary Clinton acusou Bernie Sanders de mentir quando este negou que tenha recebido fundos para a sua campanha vindos da indústria de combustíveis fósseis. A CBS entrevistou o senador do Vermont que declarou: “Há uma diferença – se você é um lobby da indústria de combustíveis fósseis e 50 iguais a si fazem uma contribuição, para mim, isso é uma contribuição da indústria de combustíveis fósseis”, enfatizou Sanders.
Sobre a sua própria caminhada nas primárias dos EUA, o candidato democrata lembrou que venceu em seis dos últimos sete caucuses e que está a lutar pela vitória no estado de Wisconsin, que se realiza esta terça-feira, 5 de Abril. “Acho que cada vez mais democratas estão a ver em Bernie Sanders o candidato que melhor está posicionado para vencer Donald Trump ou qualquer outro candidato republicano”, disse o senador. Porém, Sanders não respondeu se apoiaria ou não Hillary Clinton caso esta conquistasse a nomeação democrata para as presidenciais norte-americanas.