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Sábado, Novembro 2, 2024

A coragem de ver pela primeira vez

Paulo Vieira de Castro
Paulo Vieira de Castrohttp://www.paulovieiradecastro.pt
Autor na área do bem-estar nos negócios, práticas educativas e terapêuticas. Diretor do departamento de bem-estar nas organizações do I-ACT - Institute of Applied Consciousness Technologies (USA).

Na obra “Uma estranha realidade” o antropólogo peruano Carlos Castaneda e o poderoso feiticeiro mexicano Don Juan de Matus apresentam-nos o conhecimento secreto ancestral de linhagem xamânicas já desaparecidas. Como isso nos poderá ajudar na busca de novas estratégias para a vida e para as organizações é o que vamos perceber.

Paulo Vieira de CastroDon Juan de Matus defendia que para um guerreiro não há nada fora do controlo. Para ele a vida é um exercício de estratégia, separando o significado da existência humana da forma como esta é vivida.

Castaneda não partilhava das raízes do xamã Juan de Matus questionando se seria possível viver de forma estratégica o tempo todo. Para o pensamento ocidental esta é uma dúvida que faz todo o sentido.

Um guerreiro não se importa consigo mesmo. Se viver como tal, a sua vida estará organizada de forma estratégica evitando as consequências mais desagradáveis, afirmava Don Juan.

Para ele um guerreiro nunca fica à espera. A sua atitude é sempre pró-activa reduzindo ao mínimo a dificuldade face ao imprevisto. Talvez por isso, a páginas tantas, Castaneda o interpele nesse sentido:

– Imagina que alguém te espera numa estrada escondido com uma carabina possante, podendo atingir-te com precisão total, o que farias?

– Ainda não entendi o que queres provar, afirmou Don Juan.

– Quero afirmar que a tua estratégia não te pode ajudar sempre. Numa situação destas não podes evitar a bala.

– Posso sim! Se alguém estiver à minha espera com uma carabina eu simplesmente não vou aparecer.

guerreiro

Direi que um guerreiro que se limita a (simplesmente) não aparecer terá certamente escolhido mal o seu destino, já para não falar na profissão… Esse é um dos maiores defeitos dos nossos decisores políticos, líderes empresariais, constantemente fugindo ao desafio de honrar a sua missão para esta vida.

O que falta aos nossos empresários, políticos, ou mesmo aos chefes de família é, tantas vezes, a necessária coragem de se ser inteiro.

Penso que este “fugir à bala” é algo que nos tenta demasiadas vezes. Mas, de que iria adiantar evitar aquele tiro se não será possível garantir que isso aconteça, do mesmo modo, no dia seguinte? Então, de nada adiantará fugir!

Ter uma visão da vida que é puramente de sobrevivência não tem uma perspectiva de sentido último. Será fundamental respeitar antes de tudo os compromissos essenciais com nós próprios. É aqui que falha por norma a lógica humana na sua aplicação prática.

Ao contrário do que pensa Juan de Matus creio que a vida se esvai na busca de uma morte condigna, estando o guerreiro preparado para viver em paz, mas sempre de frente para o inimigo. Se assim não fosse não seria um guerreiro… Como poderia ser diferente na vida ou nas organizações?

Nos nossos dias, a ignorância humana empurra-nos para o mais injustificável dos abismos, imaginando que ao guerreiro só se permite estar na guerra, ou fugir dela. Esquecendo-se a cultura e a arte da paz, aquela que acautela que a primeira bala nunca seja disparada.

Na realidade a vida está para além dos limites do próprio ser humano em quase nada dependente do entendimento que dela temos. Diante disso, quer o conhecimento quer a ignorância não existem em si mesmos. Note-se que quando o afirmo quero dizer – apenas – que estes não podem ser apartados.

Pela mesma ordem de razão não poderemos separar o dançarino da dança, o professor do aluno, o fornecedor do cliente, o pai do filho, etc.

Todos são imprescindivelmente necessários e interdependentes! Um não existiria na ausência do outro. Até no cenário de guerra isto acontece, por isso deveremos sempre honrar os nossos pares e opositores.

Então por que andamos tão perdidos no obscurantismo deste “eumismo”?

Concluindo, estratégico será, para qualquer um de nós, ter a coragem de se posicionar para além do problema em si. Aqui reside o arrojo de se ser humano aceitando que nada está previamente delimitado.

Mas, ante o sucesso de um homem conscientemente e coerentemente racional que lugar está reservado a um ser humano de coragem, apostado em cumprir o seu próprio destino, agindo a partir do coração?

Talvez nos falte a intenção e a motivação correctas. Estas resultam, na idade adulta, dos traços de carácter de cada um de nós. Enquanto isso, por que não temos escolas que reflictam sobre valores e sentimentos?

Exemplos como a coragem e a gentileza são imprescindíveis para julgar a história de qualquer povo. Por que ficariam de fora dos curricula escolares?

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