É possível afirmar a estratégia correta auxiliando a identificar os obstáculos para multiplicar muito a quantidade de testes disponíveis e as formas de ultrapassá-los, tanto pela produção interna, quanto pela importação.
Um estudo do Imperial College de Londres define duas estratégias para o combate ao coronavírus: mitigação e supressão.
A mitigação tentaria retardar o pico da epidemia com medidas de redução de contato, mas pretenderia atingir o fim dela apenas quando o conjunto da população estivesse naturalmente imunizado.
A supressão visa barrar o contágio. A medida central para essa estratégia é a testagem de toda a população e a quarentena não apenas dos portadores com sintomas, mas também dos portadores assintomáticos. O texto do Imperial College não chega a amarrar esta questão, mas elogia bastante o procedimento na China e na Coreia do Sul, que teve essa medida no centro do enfrentamento ao vírus. E esta é a posição da Organização Mundial de Saúde.
O estudo do Imperial College demole a estratégia de mitigação ao fazer a avaliação estatística de que a sua aplicação teria como consequência 500 mil óbitos no Reino Unido e mais de 1 milhão nos Estados Unidos.
Confira a íntegra do estudo que teria influenciado os dois líderes:
Depois da sua divulgação, Boris Johnson e Trump, a partir da segunda-feira (16), passaram a dizer que estavam praticando a supressão, embora resistindo bastante a tomar as medidas concretas necessárias, especialmente a testagem de toda a população e a quarentena obrigatória para os portadores assintomáticos.
Importante observar que na China a quantidade de pessoas infectadas, apesar de grande em termos absolutos, atingiu apenas 56 casos por milhão de habitantes. Na Coreia do Sul, a epidemia – embora ainda não inteiramente contida – atingiu 169 casos por milhão, enquanto na Itália está em 778 casos por milhão e na Espanha em 437 casos por milhão.
Aqui no Brasil, o Ministério está tentando minimizar a posição da OMS, da China e da Coreia do Sul, dizendo que não é uma posição realista para o Brasil. Realmente não temos nem de perto a quantidade de testes necessários para as providências devidas. Mas isso, em minha opinião, não deve alterar a definição da estratégia. Temos que nos colocar a questão: o que é necessário fazer para ter a quantidade de testes necessária? O Ministério falou durante entrevista na quinta-feira (19) que já estariam encomendados 2 milhões e 300 mil testes à Fiocruz e a Anvisa liberou ontem oito novos testes para a produção também pela iniciativa privada. Mas ainda são medidas tímidas diante da realidade da epidemia.
Defender a estratégia de supressão e a testagem de toda a população não significa buscar confrontações desnecessárias. O ministro Mandetta está fazendo um trabalho esforçado, num enfrentamento surdo da ignorância da dupla Bolsonaro/Guedes, e tem um reconhecimento da população e dos profissionais de saúde por isso. É possível afirmar a estratégia correta auxiliando a identificar os obstáculos para multiplicar muito a quantidade de testes disponíveis e as formas de ultrapassá-los, tanto pela produção interna, quanto pela importação.
Teremos grandes embates contra a epidemia nas próximas semanas, é provável um severo agravamento da crise e este nos parece o caminho para derrotar a epidemia com o mínimo de danos para a nossa tão sofrida população brasileira.
por Jorge Venâncio, Médico formado na UFRJ, membro suplente do Conselho Nacional de Saúde, coordenador da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, secretário de Saúde do Trabalhador da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil – CGTB | Texto em português do Brasil
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