A criação da União Monetária e de uma Moeda comum – o Euro – em 1999, recebeu a aprovação de 18 países que passaram a constituir a Zona Euro, renunciando assim às suas próprias moedas e à possibilidade de terem políticas monetárias autónomas.
A moeda Euro foi desenhada de modo a favorecer os países com economias mais fortes – industriais, agrícolas ou de serviços – e a debilitar as economias dos países menos desenvolvidos em qualquer desses sectores, gerando défices sucessivos nas respectivas Balanças Comerciais.
Acresce que a desregulamentação do sector financeiro permitiu aos Bancos dos países criadores de riqueza conceder crédito quase ilimitado às economias mais débeis, criando um Bem estar Económico Líquido artificial e baseado no endividamento. Endividamento estimulado pelos próprios Bancos nos termos das regras definidas pelo BCE sobre o valor percentual dos montantes obrigatoriamente depositados no Banco Central para caucionar os créditos concedidos.
Foi aqui que os Bancos inventaram uma maneira de “criar” Moeda: fazendo pacotes com os créditos, convertendo estes pacotes em Fundos e, deste modo, alterando a classificação contabilística dos créditos concedidos, que passaram a ser contabilizados nos activos em vez de nos passivos.
Tal expediente alavancou a sua capacidade de se endividarem e, ao mesmo tempo, de concederem mais crédito. Ou seja, montaram um esquema de Ponzi, legal, tendo como base a ficção da possibilidade de crescimento infinito na base da pirâmide e desvirtuando aquele que é o cerne de qualquer negócio financeiro: a avaliação do risco.
O Risco deixou de ser um problema porque os créditos foram rapidamente transformados em Fundos, vendidos e revendidos, segurados e re-segurados, nos mercados e, no limite, pelo pânico do efeito sistémico – “too big to fail” – e pela “rede” de segurança constituída pelos contribuintes sob a forma de impostos e de substituição da desvalorização cambial, indisponível pela adesão à moeda comum, pela desvalorização do trabalho, reduzindo os custos deste factor de produção, através de cortes drásticos na remuneração e valor deste. A riqueza, associada ao Investimento, permanece intocada, sob pena de implosão da própria economia.
Cortar salários e custos sociais do desemprego, saúde, educação e pensões eis a solução neoliberal para o problema que ela própria criou.
Esta “receita” aposta no aumento das exportações e na contracção da Procura interna sem ponderar as consequências económicas da “terapia”.
Nos países em que, como Portugal, o tecido empresarial é maioritariamente constituído por Micro, Pequenas e Médias Empresas, empregadoras de um significativo número de trabalhadores, a contracção da Procura Interna tem efeitos imediatos traduzidos no crescimento exponencial do desemprego e falências de empresas.
Desempregados e falidos endividados não pagam dívidas e, em consequência, não repõem a liquidez tão necessária aos bancos. A solução é cortar e cortar a eito, e cortar mais, fazendo funcionar o “elevador social” no sentido descendente.
Daí o empobrecimento de parte considerável da classe média a par da redução radical dos serviços prestados pelo Estado. Assaltar as Seguranças Sociais é uma imposição. Vender as empresas públicas rentáveis também.
O objectivo não é cobrar as dívidas. Longe disso: os credores sabem que as dívidas são incobráveis. Há, todavia, objectivos muito claros dos credores: obter um compromisso irrevogável dos devedores de aceitação das regras leoninas impostas; aumentar o Serviço da dívida, os juros, continuamente; aumentar a própria dívida a fim de garantir o desequilíbrio da relação e as múltiplas oportunidades de chantagem que tal ascendente oferece, sobretudo pelo efeito nos “mercados”, e portanto nas taxas de juro da dívida soberana nos mercados secundários.
A capacidade de influenciar estas taxas permite controlar toda a economia: investimento, emprego, PIB, fiscalidade e possibilidades de crescimento, perpetuando o domínio político dos países. A subida das taxas de juro nos países na mira do Sr. Schauble e da Comissão gera a descida das taxas de juro da Alemanha, suprimindo a concorrência leal.
É suposto que esta relação de submissão se mantenha ad aeternum e é essa a razão para os Srs. Schäuble, Dijsselbloem, Junker e os restantes comissários europeus, a par do Presidente do BCE – Mario Draghi – se desdobrarem freneticamente em declarações “incendiárias”, aparentemente contraditórias com os objectivos de estabilidade e crescimento que, hipocritamente, fingem defender no resto do tempo.
Esta chantagem é inadmissível e esteve muito bem o governo de António Costa ao apresentar, junto da chancelaria alemã, um protesto formal pelas declarações inopinadamente proferidas pelo ministro das Finanças Alemão há poucos dias.
Finalmente regressa um pouco de diplomacia fundada numa larga dose de bom senso e de respeito pela soberania do País. Há não muitos anos as práticas reiteradas deste tipo eram classificadas como intoleráveis ingerências nos assuntos internos dos Países.
Quer saber mais sobre este assunto? Leia esta excelente análise da situação actual do Deutsche Bank.