“Há condições para criar um Governo liderado pelo PS”
António Costa começa a consolidar um projecto de Governo à esquerda com CDU e BE que será já apresentado no encontro com o Presidente da República, nesta segunda-feira e que deverá ser referendado até final de Outubro no universo socialista.
O líder socialista já tinha o compromisso de coligação com a CDU e agora também conseguiu a base do acordo com Bloco de Esquerda, para fazer parte do Governo de Costa.
No final da reunião desta segunda-feira com o Bloco de Esquerda, Catarina Martins foi taxativa: “fica hoje claro que o governo de Passos Coelho e Paulo acabou. Estão criadas as condições para ser possível a viabilização de um Governo alternativo”. As matérias políticas de que o BE não abdica para um acordo com o PS são a defesa das pensões de reforma, salários e a segurança no emprego. “Parecem-nos criadas as condições para que assim seja”, disse Catarina Martins.
Catarina Martins recusou dizer se o acordo pode ser governamental ou apenas parlamentar mas as palavras da líder do BE vão ao encontro de uma solução de Governo.
Antes, António Costa também fez declarações que vão no sentido do entendimento. “Faz sentido trabalharmos com o BE para uma solução governativa para o país. Há matérias de convergência entre os dois partidos”, afirmou. Costa disse haver condições para “solução estável que corresponda à vontade popular”. Segundo o líder do PS, o trabalho que se segue é reduzir o grau de divergências entre PS e BE.
António Costa revelou também que ainda não recebeu qualquer proposta da coligação PàF e que mesmo que cheguem durante o resto do dia, não haverá condições para a reunião antes agendada para esta terça-feira.
A composição de um futuro Governo liderado por António Costa começa também a desenhar-se, com oito a dez ministérios e 16 a 20 secretarias de Estado para o PS, dois ou três ministérios e 4 a 6 secretarias de Estado para a CDU e igual proposta para o BE, caso venha a fazer parte do executivo. São números o meramente indicativas na correlação de forças políticas, sem pastas nem nomes e ainda dependente do números de ministérios, acumulações ou criação de novos ministérios.
Nesta fase, o impasse está mesmo na posição do Bloco de Esquerda que pode mesmo optar por apenas viabilizar o Governo do PS e manter-se como vigilante no parlamento, o que não facilita a vida a António Costa e muito menos à CDU.
A única opção mais consistente é mesmo recusar qualquer acordo com a coligação PSD/CDS. Costa não confia na boa-fé que a PàF agora manifesta alegando a estabilidade governativa. Nem Costa nem muitos dirigentes e históricos do PS.
O histórico socialista António Arnaut apela à formação de um Governo “patriótico e de esquerda” liderado pelo PS, integrando também o PCP e o Bloco de Esquerda, para “defender os interesses” dos portugueses. Entre os mais jovens, o líder do PS do Porto, Tiago Barbosa Ribeiro, as reuniões com a direita devem ter apenas dois objectivos: “recusar claramente integrar qualquer solução de Governo e impor um acordo contra a austeridade”.
O ex-ministro Vera Jardim defende diálogo com a coligação PSD/CDS-PP. João Soares já rejeitou qualquer diálogo com a coligação liderada por Pedro Passos Coelho e Paulo Portas. Do outro lado da barricada socialista, o ex-líder da JS, Sérgio Sousa Pinto, tomou uma posição radical e demitiu-se do secretariado nacional do PS, por discordar de uma aliança à esquerda. Sousa Pinto recusa-se a apagar da memória acontecimentos passados em 1975, quando tinha apenas três anos, dos quais resultaram a ruptura entre o PS e a esquerda representada pelo IV Governo provisório liderado por Vasco Gonçalves, há mais de 40 anos.
Já os ‘seguristas’ depois de defenderem um congresso extraordinário optam agora por um silêncio estranho. Sobre as divergências internas, António Costa frisa que na comissão política do PS recebeu o mandato de uma “esmagadora” maioria dos dirigentes para negociar uma solução de governo alternativo e estável.