A cada revelação do site The Intercept Brasil, a Operação Lava Jato tenta responder com uma ação de impacto. Isso acaba de acontecer com mais uma denúncia infundada contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, agora envolvendo também o seu irmão, Frei Chico.
O ataque ocorre um dia após a revelação, no jornal Folha de S. Paulo – parceiro do The Intercept Brasil –, de manobras desavergonhadas no episódio do vazamento criminoso das conversas entre Lula e a ex-presidenta Dilma Rousseff, feito com o intuito de fomentar o golpe de 2016.
A dedução lógica é que a Lava Jato se comporta como uma organização poderosa, se arvorando do direito de continuar agindo à margem da lei como se nada estivesse acontecendo. Conta para isso com a conivência de grandes grupos de mídia – em especial o Grupo Globo –, para os quais as denúncias não passam de manga de colete. É como se as evidências de que o grupo liderado por Sérgio Moro e Deltan Dallagnol invertem os papéis, praticando crimes dizendo que estão combatendo o crime, não existissem.
É preciso recuar no tempo para entender esse comportamento. Desde que esse grupo jurídico-político surgiu em Curitiba, no início de 2014, o país passou a ser regido por um espectro político e ideológico de viés abertamente golpista. A tecnologia vinha desde 2005, da farsa do “mensalão”, quando as chamas do golpe lamberam as paredes do Palácio do Planalto, no primeiro governo Lula, e foram rechaçadas pela resposta das forças democráticas mais consequentes. O revés foi temporário e, com o agravamento da crise econômica global iniciada em 2007-2008, o movimento golpista recobrou as forças e partiu para o ataque novamente.
Foi nesse movimento que surgiu a Operação Lava Jato. Com o mantra de que descobriu o maior esquema de corrupção da história, o grupo de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol entrou na cena política do país como o epicentro da marcha golpista que se reiniciara. O objetivo estava bem definido por um fato ululantemente óbvio: a operação não partiu dos processos que apuraram as mesmas denúncias no passado, como várias CPIs das décadas de 1980 e 1990. Sequer consultaram documentos internos da Petrobras que apontavam indícios das irregularidades ditas descobertas.
Como tem afirmado Lula, o que surgiu, como resultado de inconfidências arrancadas a golpes, não foi descoberto por nenhum dos agentes que se assenhoraram da moralidade para fazer jogada política. Seria louvável se o caminho fosse o de partir do que havia de indícios para acelerar as investigações e as punições. Mas, em vez de pegar esse caminho, a Lava Jato jogou essas e outras evidências surgidas no andamento das delações embaixo do tapete e enveredou pelo golpismo do Estado de exceção.
O resultado foi a assunção do papel de partido político, uma engenharia que tem como pedra de toque a criminalização da política e a afronta ao Estado Democrático de Direito. Mesmo partidos e lideranças políticas que num primeiro momento se imaginaram partícipes desse jogo antidemocrático logo sentiram que também estavam na mira do Estado de exceção. Criou-se, assim, uma situação em que o país entrou numa fase de desestabilização política e econômica, base para o golpe do impeachment e a tomada do governo pela extrema direita bolsonarista. Pelo caminho ficou o rastro de destruição da economia brasileira e de um estrago considerável no Estado Democrático de Direito.
Com as eleições de 2018, o país viu o coroamento dessa marcha, que continua destruindo a legalidade democrática e entregando o patrimônio e os direitos dos brasileiros para o seus históricos inimigos. As sucessivas revelações dos crimes desse grupo são fundamentais. Mas é preciso considerar que ele ocupa lugar central no governo instalado em 2018, dando sustentação sobretudo ao programa de destruição nacional comandado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. A defesa do país e da democracia, mais uma vez, ocupa lugar central na agenda das forças patrióticas brasileiras.
Texto original em português do Brasil
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