O procurador Geral da República, Augusto Aras, pediu ao STF a abertura de investigação que, por vias transversas, pode envolver todo o governo.
Aras pediu ao Supremo a investigação da ação (ou falta de…) do ministro Eduardo Pazuello na catástrofe que acometeu Manaus, onde dezenas de pessoas morreram por asfixia, pela falta de oxigênio nos hospitais locais. E pela recomendação de formas inadequadas, como o “tratamento preventivo” – leia-se uso de hidroxicloroquina – , para combater a Covid-19, ineficazes, e não recomendadas por médicos e cientistas.
O pedido de investigação foi acolhido pelo ministro Ricardo Lewandovski, do STF, que determinou a instauração de inquérito na segunda-feira(25).
A ação de Aras foi acompanhada pela forte suspeita de que, ao colocar apenas Eduardo Pazuello no alvo da investigação, seu objetivo era afastar o risco de que o presidente Jair Bolsonaro fosse responsabilizado pelo desastre humanitário que se assiste em Manaus e no Amazonas, mas pode se espalhar pelo país inteiro.
Pazuello, ministro da Saúde, é um dos responsáveis pela crise – mas, sendo um general marcado pela obediência às ordens e orientações que recebe de seus chefes – é difícil acreditar que atuasse sem o conhecimento do capitão presidente, seu superior imediato. Assim, a tentativa de Arar de deixar Bolsonaro fora desta investigação pode ser vista como uma frágil defesa do presidente.
Como se manifestou o PCdoB na terça-feira (26), uma investigação sobre Manaus precisa incluir o presidente da República. O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) justificou a investigação também de Bolsonaro dizendo “O STF autorizou abertura de inquérito para investigar a conduta de Pazuello no caos que levou pessoas à morte por falta de oxigênio em Manaus. Fez muito bem. O mesmo deve valer para o genocida chefe, Jair Bolsonaro. Esse elemento é o maior responsável pelo desastre”.
A investigação deve ser sobre o governo genocida e a falta de ação gerada pelo negacionismo, pela descrença na ciência, pelo desprezo às recomendações de profissionais e instituições ligadas à saúde e pela politização do debate da ação pública necessária para o enfrentamento da pandemia – e, neste aspecto, o grande responsável, que dá o tom da falta de ação do governo, tem nome e sobremone: Jair Bolsonaro. Pazuello é somente o ajudantes de ordens de Bolsonaro. Investigando as responsabilidades de Pazuello na tragédia de Manaus resultante de conduta negligente e criminosa do governo federal se chegará ao presidente.
A investigação solicitada por Aras precisa se ampliar a todo o governo federal, para apurar suas ações diante da pandemia, nas quais a falta de uma coordenação unificada a nível nacional, que cabe ao presidente da República coordenar, e não aconteceu, resultou no agravamento da crise sanitária, que infectou quase 10 milhões de brasileiros e se aproxima dos 220 mil mortos, podendo fazer estragos ainda maiores.
Esta investigação ampla é urgente, e precisa ser acompanhada com atenção pelo movimento das ruas que exigem o impeachment de Bolsonaro. Se a investigação for isenta, a manobra de Aras para proteger o presidente se tornará inútil. Entretanto, se não houver ampla vigilância e pressão social e política, a investigação poderá terminar em pizza.
Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado