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Sábado, Novembro 23, 2024

Crónica da Argélia depois das eleições de 12 de Dezembro

Beatriz Lamas Oliveira
Beatriz Lamas Oliveira
Médica Especialista em Saúde Publica e Medicina Tropical. Editora na "Escrivaninha". Autora e ilustradora.

A eleição de Abdelmadjid Tebboune, de 74 anos, como presidente da Argélia foi uma tentativa do regime, liderado pelo exército, “de se regenerar sem mudar a fórmula”, disse a 18 de dezembro Mouloud Boumghar, professor de direito internacional argelino e próximo do movimento Hirak 6.

Ahmed Gaïd Salah

Mas a morte inesperada de Ahmed Gaïd Salah, chefe de gabinete do exército e homem forte do regime desde a queda de Bouteflika, foi provavelmente um alivio para o novo presidente. Esta morte seguiu-se a um ataque cardíaco na manhã de 23 de Dezembro passado. Rumores indicam que o novo Presidente vai apostar agora no apaziguamento.

Em 26 de março de 2019, após meses de implacáveis protestos anti-Bouteflika, foi Gaid Salah quem forçou o presidente Bouteflika a renunciar. Sob intensa pressão pública renunciou embora antes disso ainda tenha tentado a reeleição para um quinto mandato. Provavelmente com o objectivo de diminuir a tensão pública que se manifestava continuamente nas ruas, o general Gaid Salah ordenou a prisão do irmão do presidente e de um conselheiro próximo, Said Bouteflika, alegando que ambos, com dois ex-chefes dos serviços secretos, o general aposentado Toufik Mediene e o general Tartag, queriam fazer mudanças nos comandos das todo poderosas forças armadas, incluindo a remoção do próprio Gaid Salah de sua posição superior.

O general Gaid Salah ordenou também a prisão de dois ex-primeiros-ministros, além de outros ex-ministros, e empresários de Said Bouteflika. Ganhou apoio público. A atividade anti corrupção iniciada no segundo trimestre de 2019 foi usada pelo movimento Hirak 6 como mais uma oportunidade para exigir que os militares entregassem o poder a um governo civil, uma exigência que foi rejeitada pelo general Gaid Salah. Em vez disso, o general Gaid Salah apostou numa eleição presidencial para tirar o país de sua crise política.

Abdelmadjid Tebboune

Eleito Abdelmadjid Tebboune, em Dezembro passado,ele que foi ex Ministro da Habitação e do Planeamento Urbano, de 2012 a 2017, responsável pela construção de milhões de habitações sociais prometidas por Abdelaziz Bouteflika, mas também gigantesca mesquita de Argel, por um orçamento inicial de 1,2 biliões de euros, muito ultrapassado.

Libertação dos prisioneiros políticos e a revisão da Constituição, são medidas políticas do novo Presidente. De todos os prisioneiros políticos feitos pelo falecido Ahmed Gaïd Salah, um é particularmente emblemático: o general aposentado Hocine Benhadid.

Hocine Benhadid, alcunhado de general Bazooka tinha, desde há muitos anos, sobre a evolução do poder argelino uma opinião  crítica e controversa. Aos seus olhos, o presidente Abdelaziz Bouteflika  estaria consciente se tanto quarenta minutos por dia, considerava o seu irmão Said um “doente mental” que tomou o poder com a ambição de ser presidente. Mas como Benhadid não estava no circuito privilegiado da hierarquia militar há mais de quinze anos estaria sobretudo apreensivo com a evolução do sistema.

Foi preso pela primeira vez em 2015.

O presidente da Argélia, Abdelmadjid Tebboune, nomeou um diplomata académico e aposentado pouco conhecido como o novo primeiro-ministro do país, que prometeu recuperar a confiança das pessoas depois de meses de protestos nas ruas.

Abdelaziz Djerad

Abdelaziz Djerad, 65 anos, foi convidado pelo Presidente Tebboune para formar o próximo governo da Argélia.

Djerad nasceu em 1954. Formou-se no Instituto de Ciências Políticas e Relações Internacionais de Argel em 1976, fez o doutoramento na Universidade de Paris (Nanterre). Trabalhou como professor de ciência política na Universidade de Argel e tem publicados vários livros.

A morte de Gaid Salah, deixa incerteza, mas também, novas oportunidades a Abdelmadjid Tebboune.

Djerad disse que é crucial que as autoridades trabalhem para “reconquistar a confiança das pessoas” e prometeu reunir os argelinos para enfrentar “os desafios socioeconómicos e sair deste período delicado”.

Djerad foi secretário geral da presidência em meados da década de 90 e ocupou o mesmo cargo no Ministério das Relações Exteriores de 2001 a 2003.

Haja esperança no futuro da Argélia vizinha da Líbia mártir.






Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


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