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João de Sousa

Sábado, Novembro 2, 2024

“Culto Oculto”

Delmar Gonçalves, de Moçambique
Delmar Gonçalves, de Moçambique
De Quelimane, República de Moçambique. Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora (CEMD) e Coordenador Literário da Editorial Minerva. Venceu o Prémio de Literatura Juvenil Ferreira de Castro em 1987; o Galardão África Today em 2006; e o Prémio Lusofonia 2017.

Prefácio ao livro “Culto Oculto” de Vera Novo Fornelos

Bom seria, que eu, enquanto poeta e prefaciador, fosse capaz de resumir a força do verbo que esta poeta portuguesa e vianense transporta e transmite. E a força de natureza poético-literária pode ser travada?

Bem o diz a poeta em “Culto Oculto”:

“ouço os vossos pensamentos
…nada em vós me é oculto
penetro no vosso culto”

e remata:

“e o que era estranho e escuro
ilumina-se num coração puro”.

Em que momento a poeta e sua poesia pungente não se fundem e confundem formando um “corpus” único? A fusão acontece com a intensidade poética de uma flauta, como afirma:

“procurei o silêncio
no meu silêncio
e escutei uma flauta
que vibrava intensamente
não há silêncio
no meu silêncio…”.

A sua estreia no singular como autora de obra individual, não a coíbe de convicta reafirmar o que facilmente descobrimos ao lê-la:

“uma jazida de ideias
é o que eu sou (…)uma dualidade sinergética
que faz surgir as ideias.”

Depois, há sempre o sabor titubeante e quimérico das palavras que se desfolham e desnudam.

Por vezes, a ternura também fere e, por vezes, também encanta. Das memórias se fazem histórias e das histórias, poesia. Por isso, profética, reclama:

“Não há um caminho
meio andado
nem dois por andar
mas um destino
ainda por chegar”.

São memórias de quem as guarda no baú da sua “meninice” e no auge da sua maturidade como um tesouro. E bem se define ao afirmar:

“Sou um livro
publicado
na mortalha
de um cigarro
queimado”.

A emoção à flor da pele, com a palavra certeira, como uma arma que procura o alvo sem ferir, mas evita o falhanço ao constatar:

“Se parar para pensar
vou ouvir o vento
e se o vento for o pensamento
vai voar
vai -se libertar
das amarras do tempo”.

Sensibilidade poética , que capta a essência do poeta numa rajada ao resumi-la cantando:

“A alma dum poeta
é feita da quinta essência do Universo
é alma desfeita
e refeita num só verso”.

E quem pode mudar o destino de uma poeta que vive numa roleta oculta e, que, paciente, define:

“A espera” como uma lamparina
que se incendeia
de esperança”?

Bem nos avisa como leitores atentos:

“Compreende
o voo
das aves
não te detenhas
na articulação
das suas asas”.

E um ciclo novo se abre com esta obra, quimericamente objectiva, que nos alerta para o “Culto Oculto”. Haja, pois, um diálogo genuíno entre o leitor e a autora da utopia convicta, pois:

“A vida
segue
o seu percurso
natural
como um rio
que fluí
voluntariamente”.

Bayete Poeta!


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