Prefácio ao livro “Culto Oculto” de Vera Novo Fornelos
Bom seria, que eu, enquanto poeta e prefaciador, fosse capaz de resumir a força do verbo que esta poeta portuguesa e vianense transporta e transmite. E a força de natureza poético-literária pode ser travada?
Bem o diz a poeta em “Culto Oculto”:
“ouço os vossos pensamentos
…nada em vós me é oculto
penetro no vosso culto”
e remata:
“e o que era estranho e escuro
ilumina-se num coração puro”.
Em que momento a poeta e sua poesia pungente não se fundem e confundem formando um “corpus” único? A fusão acontece com a intensidade poética de uma flauta, como afirma:
“procurei o silêncio
no meu silêncio
e escutei uma flauta
que vibrava intensamente
não há silêncio
no meu silêncio…”.
A sua estreia no singular como autora de obra individual, não a coíbe de convicta reafirmar o que facilmente descobrimos ao lê-la:
“uma jazida de ideias
é o que eu sou (…)uma dualidade sinergética
que faz surgir as ideias.”
Depois, há sempre o sabor titubeante e quimérico das palavras que se desfolham e desnudam.
Por vezes, a ternura também fere e, por vezes, também encanta. Das memórias se fazem histórias e das histórias, poesia. Por isso, profética, reclama:
“Não há um caminho
meio andado
nem dois por andar
mas um destino
ainda por chegar”.
São memórias de quem as guarda no baú da sua “meninice” e no auge da sua maturidade como um tesouro. E bem se define ao afirmar:
“Sou um livro
publicado
na mortalha
de um cigarro
queimado”.
A emoção à flor da pele, com a palavra certeira, como uma arma que procura o alvo sem ferir, mas evita o falhanço ao constatar:
“Se parar para pensar
vou ouvir o vento
e se o vento for o pensamento
vai voar
vai -se libertar
das amarras do tempo”.
Sensibilidade poética , que capta a essência do poeta numa rajada ao resumi-la cantando:
“A alma dum poeta
é feita da quinta essência do Universo
é alma desfeita
e refeita num só verso”.
E quem pode mudar o destino de uma poeta que vive numa roleta oculta e, que, paciente, define:
“A espera” como uma lamparina
que se incendeia
de esperança”?
Bem nos avisa como leitores atentos:
“Compreende
o voo
das aves
não te detenhas
na articulação
das suas asas”.
E um ciclo novo se abre com esta obra, quimericamente objectiva, que nos alerta para o “Culto Oculto”. Haja, pois, um diálogo genuíno entre o leitor e a autora da utopia convicta, pois:
“A vida
segue
o seu percurso
natural
como um rio
que fluí
voluntariamente”.
Bayete Poeta!
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